Bispo de Angra lembra que episcopado “significa trabalho e não honra”

D. João Lavrador sublinha importância de uma Igreja “de portas abertas e em atitude de diálogo sincero e humilde”

Um bispo “mais do que presidir tem obrigação de servir” disse este domingo o Bispo de Angra durante a Eucaristia de apresentação do novo bispo coadjutor de Angra, D. João Lavrador, celebrada na Sé de Angra do Heroísmo, esta tarde.

“O episcopado significa trabalho e não honra; o bispo mais do que presidir tem obrigação de servir. Segundo o ensinamento do Mestre, o que é maior seja como o mais pequeno e o que preside como quem serve”, disse D. António de Sousa Braga lembrando as exigências do ritual da ordenação episcopal, que este domingo foi dispensado por D. João Lavrador já ser bispo.

“E se alguma vez tiver que presidir não é tanto para receber honras mas para ser o primeiro a apanhar”, disse ainda lembrando que o bispo ”cuida dos que colaboram e dos que ainda estão fora e deverá manifestar solicitude por todas as igrejas, sempre disposto a levar ajuda aos mais necessitados”, acrescentou, ainda, o prelado diocesano a lembrar o “caderno de encargos” do múnus episcopal, no dia em que o seu coadjutor entrou formalmente na diocese.

Numa homília curta, agradeceu a “disponibilidade” pessoal e familiar do novo prelado, para responder ao convite do Papa e que “vem na linha do seu ideário Tu segue-Me”, disse D. António de Sousa Braga, bispo de Angra há quase duas décadas.

“É uma graça a sua vinda para a diocese”, pontuou destacando a “consciência muito viva dos grandes desafios da presença e acção da igreja no mundo de hoje, a partir dos que mais precisam de carinho e de misericórdia” protagonizada por D. João Lavrador.

Por outro lado, lembrou a ligação do seu coadjutor à Mensagem de Fátima e, em particular, à Ir. Lúcia, por ter sido capelão do Carmelo de Coimbra, o que representa “uma graça para acompanhar a deslocação da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima pelos Açores”.

“É uma boa maneira de iniciar o Advento e prepararmo-nos para o Natal com esta celebração” disse ainda D. António de Sousa Braga, que não deixou de se referir ao Ano Jubilar que se aproxima, pedindo de novo aos açorianos para serem “sinais de misericórdia” e “ misericordiosos como o Pai”, o repto deixado aliás pelo Plano Pastoral Diocesano.

A celebração na Sé de Angra foi presidida por D. António de Sousa Braga, e concelebrada por mais oito bispos, entre eles o Núncio Apostólico da Santa Sé em Portugal, D. Rino Passigato, e mais de três dezenas de sacerdotes açorianos da diocese de Angra, Porto e Coimbra, dioceses por onde D. João Lavrador passou.

Recorde-se que D. João Lavrador de 59 anos de idade é natural de Mira no distrito de Coimbra, onde foi reitor do Seminário Diocesano. Até ser nomeado coadjutor de Angra foi Bispo Auxiliar do Porto, desde 2008.

Esta celebração teve como finalidade apresentar o novo prelado que deverá suceder a D. António de Sousa Braga quando este resignar em março do próximo ano.

No final da Eucaristia, D. João Lavrador, que chegou à região no passado dia 25, acompanhado de inúmeros familiares, dirigiu uma segunda mensagem aos Açorianos, agora de viva voz, já como bispo coadjutor.

D. João Lavrador diz que quer “edificar uma comunidade diocesana na comunhão e na corresponsabilidade entre todos os cristãos”, sem perder de vista o apelo do Papa Francisco a “viver com coerência o Evangelho, a ser testemunha autêntica de Jesus Cristo e a servir os mais pobres e excluídos”.

D. João Lavrador afirmou querer uma “Igreja de portas abertas e em atitude de diálogo sincero e humilde. É nesta convicção que me maravilho pela riquíssima cultura do povo açoriano”.

Defendendo que a cultura moderna e postmoderna “desafiam profundamente a Igreja”, afirmou que as mudanças culturais que se anunciam refletem-se em “mudanças na vida religiosa”.

Lembrou que a modernidade cultural portuguesa “não se compreende sem evocarmos personalidades que, sendo açorianos contribuíram de modo singular para a evolução cultural e para a transformação da sociedade na qual a Igreja se sente envolvida e interpelada”.

“Com simplicidade peço que me aceiteis e que me integreis na vossa vastíssima e profunda vivência como povo dos Açores e que me deixeis usufruir da vossa riquíssima cultura”, sublinhou.

Depois deixou um propósito: “quero contribuir para a edificação de uma cultura digna do ser humano” e por isso “coloco-me ao lado de todos os homens e mulheres de boa vontade que se dispõem a recolocar os fundamentos necessários para uma nova civilização que tenha a pessoa humana no centro, que atenda e dignifique a vida e a dignidade humana em todas as suas circunstâncias, recoloque a família na verdade sobre si mesma e promova a educação integral das novas gerações na esperança e na alegria”.

“Estou convencido de que a cultura para ser verdadeiramente humana exige a proposta do Evangelho. Por isso, eis-me disponível para em diálogo franco e comprometido pelo bem comum de toda a sociedade, oferecer as razões da esperança cristã”, adiantou ainda.

Por outro lado, lembrou que as “franjas da humanidade que estão afastadas, colocadas nas periferias económica, social, cultural e religiosa”, com quem diz querer manter “uma implicação que não só as auxilie a assumirem um papel de promoção integral mas que ajudem a sociedade a saber olhar-se com novas prioridades”.

E, neste capítulo dirigiu-se a todas as autoridades açorianas presentes na cerimónia- Governantes, autarcas, comunidade académica e militares- invocou a necessidade de uma colaboração pela justiça, e bem comum, sempre em “clima de diálogo e profundo respeito pelas convicções e autonomia de cada instituição”.

“Tenho a consciência de que me venho inserir na riquíssima experiência de vida cristã, desenvolvida ao longo de quase cinco séculos” disse D. João Lavrador, na qual “me quero inserir e integrar “ para em conjunto “formarmos uma comunidade que não tem outro propósito que servir a Deus e aos irmãos”.

“Contai comigo, vosso irmão” pois “quero estar no meio de vós como quem serve”, disse ainda.

Na mensagem que dirigiu a todos os açorianos, no final da Eucaristia na Sé de Angra, o novo prelado açoriano destacou ainda o Ano Santo da Misericórdia como “uma oportunidade para os cristãos se tornarem sinais vivos da misericórdia de Deus”.

“Porque a arquitrave que suporta a vida da Igreja é a misericórdia, então, toda a sua ação pastoral deveria estar envolvida pela ternura com que se dirige aos crentes; no anúncio e testemunho que oferece ao mundo, nada pode ser desprovido de misericórdia”, disse D. João Lavrador citando o papa Francisco na Bula de Promulgação do Ano Jubilar.

No final, e depois de agradecer quase individualmente a todas as autoridades civis, militares, eclesiásticas e familiares deixou um pedido à maneira do Papa Francisco: “Peço a vossa oração por mim e pelo meu ministério e contai com a minha oração por todos vós”.

“Eis-me humilde lavrador da messe do Senhor” disse evocando São Salvador do Mundo, oráculo principal da Catedral de Angra, o Beato João Baptista Machado, padroeiro da diocese e, por fim, Nossa Senhora “Mãe da divina misericórdia, Mãe e Rainha dos Açores”.

No final da Eucaristia, D. António de Sousa Braga, em nome do clero dos Açores, ofereceu a D. João lavrador um báculo em prata, com o seu lema episcopal – Tu segue-Me- e as armas da Diocese de Angra

O báculo é a insígnia pastoral de um bispo e simboliza o seu múnus de ensinar e governar. É usado em celebrações solenes.

Depois da cerimónia e da presença junto do Colégio de Consultores, órgão máximo de consulta do prelado diocesano, seguiu-se um jantar no Seminário Episcopal de Angra, instituição que D. João lavrador já elogiou e sobre a qual disse que “tudo fará para a manter”.

 

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