Bispo de Angra lembra Jornada Mundial da Juventude como “sinal de esperança na Igreja e no mundo”

Foto: Igreja Açores/FS

D. Armando Esteves Domingues apela a uma Igreja que apareça como “sinal de Cristo, âncora de ajuda e salvação” e pede mais criatividade e empenho da “família e dos catequistas” no incentivo à oração

A Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, há um ano e os 79 anos de lançamento da primeira bomba atómica sobre a cidade de Hiroshima, no Japão, foram recordadas esta tarde pelo bispo de Angra na Festa do Senhor Bom Jesus Milagroso, que se realiza anualmente no Santuário do Pico a 6 de agosto, data em que a Igreja assinala a festa da Transfiguração.

“Aos jovens convido a continuar a caminhar, a reavivar a ousadia de sonhar um mundo mais parecido com o Reino que Jesus anunciou. Mostrai que sois, no mundo, a alegria do seu Evangelho” disse D. Armando Esteves Domingues.

“Continuamos cheio de ameaças de guerras sem fim à vista, até mesmo com sinais de endurecimento e alastramento. Há mesmo ameaças globais. É na Ucrânia e na Terra Santa que mais nos fixamos, mas há terra encharcada de sangue um pouco por toda o lado; há famílias atingidas pelas tragédias, que fogem carregando os filhos inocentes ao colo, perguntando-se o que fizeram para serem expulsos da sua terra e obrigados a viver assim” lembrou por outro lado.

D.Armando Esteves Domingues utilizou estes dois eventos- um marcado pela esperança, outro pela tragédia- para desafiar a Igreja a ser um “sinal de Cristo, âncora de ajuda e salvação”.

“Unamo-nos pela paz, sem desânimo, para que vença a esperança sobre o desespero, maldade e morte” afirmou o prelado ao sublinhar que a Imagem que se venera neste Santuário diocesano, trazida por Francisco Ferreira Goulart, há 162 anos para que à volta dela pudesse brotar uma fonte de maior e mais útil riqueza , em vez do reluzente ouro do Brasil, é “poderosa porque o poder de Cristo vem da força do Seu amor, mais forte que a aparente fragilidade física e impotência diante do mal”.

“Sede bem-vindos, caros romeiros e peregrinos que não temeis o sacrifício, mesmo se aqui chegais de pés cansados. Subi para a transfiguração espiritual que se opera no encontro com os irmãos em Cristo, na Eucaristia” convidou o bispo de Angra que presidiu pela primeira vez a esta festa maior nas ilhas do triângulo, sob o lema da oração-  “Senhor, ensina-nos a orar”, comum a todos os Santuários diocesanos.

“Quão importante é quem reze e convide a rezar” interpelou D. Armando Esteves Domingues, que se dirigiu especialmente às famílias e aos catequistas.

“ Quão importante é um pai, uma mãe, um irmão, um amigo, um catequista, um educador saber rezar e convidar para momentos de oração e silêncio para escutar Jesus” disse lamentando que ainda falte quem convide a “subir ao monte”, embora haja hoje um imenso caminho de oportunidades.

“Hoje caminha-se na natureza ou peregrina-se a Santuários como nunca; procuram-se experiências novas e diferentes até em práticas de religiões orientais. O homem de hoje busca dinâmicas pessoais e autónomas para chegar a Deus, por isso, há um campo imenso para a oração que abra ao mistério e à espiritualidade” sublinhou, recordando, uma vez mais, a bela experiência que teve com os jovens em julho do ano passado quando escalou a Montanha do Pico.

“Recordo a beleza da oração aqui no cimo da nossa montanha, há um ano atrás, pouco mais que à luz das estrelas, mas recordo também momentos em que convidei à oração pessoas e famílias em momentos duros, a ficar de mãos dadas, em silêncio, porque não tinham força para a oração com palavras”, lembrou reforçando a ideia de que ninguém se salva sozinho.

“O Evangelho fala-nos de uma fundamental transformação das nossas vidas. Basta querer superar os percursos rotineiros da vida de todos os dias e a arriscar descortinar, através da oração e da contemplação, a grandeza do mistério de Deus, sempre inalcançável, mas que Jesus vem revelar”, afirmou .

“O Que aconteceu no Monte Tabor? Não foi um milagre, mas uma luz de tal forma intensa que passaram a outra dimensão” enfatizou desafiando todos os presentes a uma “transfiguração espiritual”, feita na simplicidade da escuta da Palavra de Deus.

“Ele ouve sempre, nós é que não”, concluiu.

Esta festa do Senhor Bom Jesus Milagroso, na ilha do Pico, acontece sempre a 6 de agosto, dia em que a Igreja celebra a festa da Transfiguração, que recorda a dedicação das Basílicas do Monte Tabor, celebrada desde o fim do século V.

Esta festa,  que acontece 40 dias antes da Exaltação da Cruz começou a ser celebrada, no Ocidente, a partir do século IX, quando foi inserida no calendário romano pelo Papa Calisto III, em 1457. O ponto central da festa é o mistério da Transfiguração: a visão do venerável “Ancião” no trono de fogo e a aparição do “Filho do Homem”.

A Imagem do Senhor Bom jesus Milagroso, que percorre neste dia as principais ruas de São Mateus, remete para um homem erguido, “sem se deixar derrotar pelo peso das injustiças e maus-tratos. Ele é a antevisão das provas vencidas e da vida ressuscitada” disse D. Armando Esteves Domingues.

“Olhando-o somos quase obrigados a não nos deixarmos abater pelas provas, doenças e sofrimentos que a vida traz. À diferença de todas as outras criaturas por Deus criadas, fomos criados para caminhar de cabeça erguida, olhando o alto, como Ele que é o centro da nossa devoção e modelo para os nossos propósitos de vida pessoal e comunitária” afirmou ainda.

Por isso, “esta festa é um apelo à esperança. Uma esperança para todos e cada um, para além de todas as nossas possibilidades! Nisto se resume tudo! Não tenteis responder, mas guardai um silêncio crente”, apelou o bispo de Angra deixando o apelo a que este Santuário no próximo ano, em que se celebra o Jubileu da Esperança, possa fazer brilhar bem forte  esta luz “da esperança que nunca desilude, porque é Cristo. Que muitos aqui se possam deslocar, vindos dos mais diversos lugares e encontrem a paz e a alegria do encontro com o Senhor Bom Jesus Milagroso”.

Virado para a Imagem, o prelado terminou deixando uma prece num tom mais pessoal: “Imploro a Deus nas minhas orações que nunca deixe apagar o fulgor da Sua luz em mim e entre nós, para que eu tenha sempre coragem de enfrentar tudo o que acontece ao meu redor. Senhor Bom Jesus, não olheis para a minha indignidade e fazei-me um dos vossos romeiros”.

A festa remonta a 1862, quando o emigrante Francisco Ferreira Goulart trouxe do Brasil uma imagem do Senhor Bom Jesus,  que desencadeou logo uma invulgar atração e uma forte piedade que contagiava as almas.

 

 

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