Bispo de Angra inicia primeira Visita Pastoral numa ilha marcada pela falta de compromisso dos jovens e pelo envelhecimento populacional

D. Armando Esteves Domingues tem mais de uma dezena de reuniões agendadas para “estar, ouvir e discernir” estratégias que permitam vencer os problemas desta Igreja local

O bispo de Angra iniciou este sábado uma Visita Pastoral às Flores e até domingo, dia 6 de outubro, percorrerá toda a ilha para tomar o pulso à realidade local da Igreja,  naquela que é a primeira visita pastoral do seu episcopado.
“Venho não para resolver os problemas mas para fazer convosco uma experiência de comunhão. Venho para estar no meio de vós. O bispo precisa da oração mas também da vontade dos cristãos da diocese” disse D. Armando Esteves Domingues na missa a que presidiu na Igreja Matriz de Santa Cruz, onde celebrou com os três padres que servem na ilha.
“Se não for para aprender convosco e para vos ouvir  esta visita servirá de pouco” disse o prelado.
A Eucaristia, que contou com a participação dos membros do Conselho Pastoral de ouvidoria, abriu simbolicamente a visita que será marcada por uma evidência: a desertificação da ilha, a perda de população e sobretudo a falta de jovens que ajudem e renovem a vida da Igreja.
D. Armando Esteves Domingues desafiou os conselheiros a serem profetas  e que, com criatividade,  ajudem a Igreja a abrir-se.
“Deixai que os dons desabrochem, não nos fechemos em nós na nossa paróquia, não sejamos os únicos detentores de algum poder ou importância ou até saber. Convido-vos a ser vigilantes diante de algumas tentações” afirmou.
“Todos podem dar e serem capazes de dar. Procuremos encontrar novas formas de chamar e de envolver pessoas, inovando para conseguirmos congregar à volta da Palavra de Deus para que a cultura cristã ilumine o mundo”, disse ainda lembrando que os problemas de hoje, como a falta de padres, de leigos e, sobretudo de jovens, podem adensar-se.
“Encontremos novas formas de envolver os mais novos, aproveitar quem está enquanto está num projecto específico; convidemos para ajudar pode ser que essa interpelação se torne costume. Ajudemos os irmãos a construirem-se e em conjunto construamos a comunidade, não só na igreja mas na ilha inteira”.
A ouvidoria das Flores, com 11 paróquias, é a mais ocidental da diocese , sendo os dois concelhos- Santa Cruz e lajes- diferentes entre si,  com o concelho das Lajes a experimentar um verdadeiro laboratório de múltiplas culturas com a presença de inúmeros estrangeiros a residir mas sem grande envolvimento na Igreja.
No início da visita pastoral , D. Armando Esteves Domingues encontrou-se com o Conselho Pastoral de Ouvidoria, que é presidido por um leigo.
“Queremos ser parte integrante da nossa diocese, não prescindimos deste lugar. Que durante esta visita sintamos o pulsar das nossas paróquias, que possa sentir-nos  disponíveis para colaborar convosco e que juntos possamos ser uma comunidade viva” , disse António Maria Gonçalves na abertura da reunião do Conselho Pastoral com o bispo de  Angra, que se seguiu a uma visita a Casa do Agrupamento 691 do CNE, que se encontra à espera de obras, ou melhor de mestres que as façam.
O agrupamento, dirigido apenas por mulheres, não por vontade mas por serem as mulheres as mais disponíveis,  integra cerca de meia centena jovens- lobitos, caminheiros, exploradores e pioneiros-  que, por força da meteorologia severa, faz mais acantonamentos do que acampamentos.
“O recrutamento de adultos para a direção do movimento tem levantado também algumas dificuldades” afirmou ao Sítio Igreja Açores, Lília Silva, a cumprir o último mandato como chefe de agrupamento. A saída dos jovens para estudar fora da ilha afasta-os também do Movimento e muitos não regressam.
Apesar das dificuldades , o atual ouvidor considera que esta visita possa “olhar a realidade, ver os sinais de Deus e relançar a vida comunitária cristã”.
“Não somos uma seita nem uma ilha exótica, sentimo-nos uma igreja una e sentimo-nos parte da nossa família diocesana”, afirmou Monsenhor José Constância nas palavras de boas-vindas ao prelado.
“Há possibilidades, vamos para a frente sem pessimismos” disse monsenhor José Constância sublinhando que mesmo diante da indiferença ou da baixa prática religiosa “ o grande desafio é saber como destilamos evangelho no mundo, na vida concreta”.
O ouvidor pediu ainda uma reorganização dos serviços para que à semelhança do Conselho Pastoral possam ser coordenados por leigos.
As questões da liturgia, da catequese, dos sacramentos, a indiferença dos cristãos, a sobrecarga de trabalho dos sacerdotes, a demissão das famílias como Igreja doméstica, serão alguns dos temas que vão acompanhar os dias desta visita, que também se debruçará  sobre o funcionamento das paróquias, a sua sustentabilidade financeira e as novas formas de organização que permitam ultrapassar as dificuldades.
“Temos de ser capazes de pensar uma Igreja que sirva os dias de hoje mas também possa já prevenir-se para o futuro” afirmou D. Armando Esteves Domingues, pedindo que se pense a Igreja num horizonte temporal mais dilatado, sempre “confiando” nas soluções que “o Espírito Santo sugerir”.
A visita prossegue amanhã em Ponta delgada das Flores e depois no regresso a santa Cruz. Entre comunidades paroquiais, instituições e autarquias, D. Armando Esteves Domingues tem mais de uma dezena de encontros.
Scroll to Top