Bispo de Angra exorta peregrinos do Senhor da Pedra a serem “corajosos e decididos” na luta contra a “injustiça e a indiferença”

Foto: Igreja Açores/LM

“Um cristão é sempre um líder atento aos rumos a dar à sua própria vida e a caminhar com os outros irmãos”- D. Armando Esteves Domingues

A festa do Senhor da Pedra, em Vila Franca do Campo, que hoje tem o seu dia principal com a Eucaristia solene e procissão pelas principais artérias da antiga capital da ilha de São Miguel, termina com um apelo contra a indiferença “que leva a injustiças e dá oportunidade aos prepotentes de se aproveitarem”.

O bispo de Angra, que presidiu à Missa solene, com transmissão pela RTP Açores, exortou os peregrinos a serem “líderes atentos” ao mundo, que não fiquem calados perante a violência, a desonestidade, a corrupção e a falta de carácter.

“Um cristão é sempre um líder atento aos rumos a dar à sua própria vida e a caminhar com os outros irmãos” disse D. Armando Esteves Domingues sublinhando que ser cristão “exige coragem e decisão”.

“ Já não se é cristão por tradição nem por cumprir obrigações ou devoções” alertou, lembrando  o perigo de contágio do comodismo do mundo atual, que leva a que muitos se possam  instalar.

“O comodismo reinante, pode levar-nos também a nós cristãos a instalarmo-nos confortavelmente, a esconder-nos por detrás do `sempre se fez assim´ e seguirmos indiferentes aos sofrimentos dos irmãos, às situações de pecado social, o desprezo pelo pobre, o velhinho, os diferentes, as periferias” afirmou durante a homilia pedindo a todos que mais do que “administradores do medo” sejam “construtores de esperança”, mesmo diante das dificuldades da guerra ou da pobreza.

“Nestas grandes festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra olhemos para o grande mistério de amor que Ele encerra. Um amor incapaz de se fechar nas leis vigentes, mas aberto à novidade, aos desafios dos homens concretos. O seu amor escorre das feridas abertas, dos espinhos cravados, do suor e lágrimas de dor e dá frutos de vida e esperança” ressalvou interpelando cada um dos presentes a fazer desta festa um momento de `revisão de vida´, enaltecendo alguns valores que devem estar na primeira linha da atuação de um cristão: a humildade, a confiança e a misericórdia.

“Saberá por experiência que só sendo humilde e confiando na misericórdia de Deus poderá exercer a sua autoridade como serviço que convença todos os outros. Poderá unir confiado em Cristo e não em si mesmo”, afirmou destacando, ainda, que o cristão deve ser um instrumento de Deus no mundo.

“Será motor e não centro. Para dominar e escravizar há muitos candidatos, para liderar com a sabedoria da experiência e do exemplo, nem por isso. É mais fácil mandar fazer, colocar pesos e cruzes aos ombros dos outros do que carregar os pesos e mostrar como se faz”, frisou,

“Neste Bom Jesus há uma lei que O move: a paixão por todos, todos, todos os homens e mulheres, gente concreta, frágil, pecadora, não gente ideal, já perfeita e santa”, concluiu, pedindo aos peregrinos que aprofundem a sua oração e a sua vida cristã, de forma a que sejam momentos de verdadeiro encontro com Deus.

Foto: Igreja Açores/LM

“A nossa vida de fé e as expressões da nossa vida de fé são muitas vezes empobrecidas pela doença do impessoal. Só conseguirá falar de Jesus quem, pelo menos uma vez o conseguiu tratar por Tu”.

As festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra são, “desde sempre”, organizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo e realizam-se no último domingo de agosto, “pelo menos desde 1903, data da autorização do Papa Leão XIII para que estas festividades fossem reconhecidas”.

A Misericórdia da Vila é uma das mais antigas da Diocese de Angra, de 1551 ou 1552, quando se deu a fundação da Confraria da Misericórdia e foi também nessa época que, depois de ter a funcionar o hospital, construiu a sua capela, naquele que é o principal complexo arquitetónico de Vila Franca do Campo – igreja, hospital, consistório e farmácia.

Embora a festa tenha um programa de cariz social mais abrangente, que dura mais de uma semana, os dias principais da festa são o sábado e o domingo, com a Vila a encher-se de peregrinos residentes em São Miguel, mas também na diáspora.

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