D. João Lavrador analisa a mensagem e reforça atenção da igreja diocesana aos mais pobres e excluídos
O bispo de Angra afirmou hoje, em entrevista ao Igreja Açores, que a mensagem publicada pelo Papa Francisco para o Dia Mundial dos Pobres, que se assinala pela primeira vez a 19 de novembro, é “riquíssima” e “encaminha a igreja para o seu rosto mais evangélico”.
“A Mensagem é riquíssima e ao olhar para ela vemos uma preocupação do Papa para encaminhar, uma vez mais, a igreja para o seu rosto mais evangélico e para a realidade de Jesus de Jesus Cristo que é sempre a da opção pelos mais pobres e excluídos da sociedade”.
Além disso, acrescenta “é uma mensagem atualíssima, com uma linguagem muito direta e que sem entrar em análises políticas muito profundas vai ao cerne da questão que é colocar as pessoas e a sua dignidade acima de tudo”.
Para o prelado o “essencial” desta mensagem prende-se, ainda, com o diagnóstico de uma situação que tem “rostos” e tem “causas”. E, por isso, o desafio que o Papa Francisco nos lança “é ainda mais pertinente” e não deve ser visto apenas “como uma coisa que pode ser resolvida num dia”.
“O que o Santo padre nos diz é que a opção pelos mais pobres tem de ser um programa de vida para as comunidades cristãs, e para cada um de nós em particular”, refere D. João Lavrador.
O bispo diocesano, que de resto elegeu no primeiro ano do seu episcopado à frente da diocese insular, as questões relacionadas com a pastoral social, nomeadamente a luta contra a pobreza, a necessidade de articulação de políticas sociais e uma atenção especial para com as crianças desfavorecidas (aliás a Renúncia quaresmal deste ano reverteu a favor do Fundo Diocesano para o Apoio a Crianças em situação de Pobreza Extrema), sublinha a importância de três interpelações essenciais na Mensagem do Papa: conhecer as causas da pobreza; promover o emprego e a educação e permitir que os próprios pobres sejam agentes da mudança da sua vida.
“As pessoas em situação de exclusão social também têm de ser ouvidas; elas têm de conhecer verdadeiramente as causas da sua exclusão (algumas nós conhecemos mas outras não) e através desse auto conhecimento, com a ajuda de todos, ultrapassarmos as fragilidades”, disse ainda.
“Enquanto não abrirmos a esperança a um futuro melhor a estas pessoas elas nunca conseguirão sair dessa espécie de `estatuto´ em que se auto colocam. Temos de as fazer sentir que existe uma alternativa e que elas serão capazes. Depois vêm as opções políticas e as estratégias de intervenção. Mas as pessoas pobres não podem deixar de ser parte activa neste processo”, conclui o bispo de Angra.
Ainda em fase de análise e discussão, as orientações diocesanas do próximo ano continuam a ser neste domínio, como avançou D. João Lavrador, centrando atenções nas causas da pobreza mas também nas medidas que podem ajudar a mitiga-la, sobretudo a médio e longo prazo.
“A educação e a formação profissional para estas pessoas é essencial para lhes dar ferramentas para o tal percurso em que elas próprias são agentes da mudança das suas vidas”, afirmou sublinhando que é preciso que as comunidades cristãs sensibilizem os políticos para os princípios fundamentais da Doutrina Social da Igreja cujos conteúdos são “mais atuais e imprescindíveis” que nunca.
O Papa criticou ontem a “riqueza descarada” de uma minoria de “privilegiados” que agrava os níveis de pobreza, a nível mundial, numa mensagem divulgada pelo Vaticano.
“Infelizmente, nos nossos dias – enquanto sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração ofensiva da dignidade humana -, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes sectores da sociedade no mundo inteiro”, escreve, no texto dedicado à celebração do I Dia Mundial dos Pobres.
“Se desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização”, sustenta o Papa.
Francisco recorda os que sofrem com a “marginalização, a opressão, a violência, as torturas e a prisão, pela guerra, a privação da liberdade e da dignidade, pela ignorância e o analfabetismo, pela emergência sanitária e a falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e a escravidão, pelo exílio e a miséria, pela migração forçada”.
A mensagem pontifícia sublinha que o atual cenário de desigualdades e pobreza não pode deixar ninguém “resignado”.
“À pobreza que inibe o espírito de iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e restringe os espaços do profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e da sociedade”, pode ler-se.
Francisco sublinha que esta nova data nas comunidades católicas quer levá-las a estar mais perto dos “últimos e os mais carenciados”, como consequência da “predileção de Jesus pelos pobres”.
“Não amemos com palavras, mas com obras”, apela, antes de pedir “um verdadeiro encontro com os pobres”.
O Papa apresenta uma reflexão sobre a centralidade da pobreza nos Evangelhos e na Teologia católica, com elogioso a todos os que, na história da Igreja, “ofereceram a sua vida ao serviço dos pobres”.
A figura escolhida como “testemunha da pobreza genuína” é São Francisco de Assis, que fundou a Ordem dos Frades Menores (franciscanos) em 1209.
“A pobreza é uma atitude do coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo”, precisa a mensagem.
O Papa fala nas consequências dramáticas “da avidez de poucos e da indiferença generalizada”, alargando o convite de celebrar este Dia Mundial dos Pobres a todos, independentemente da sua pertença religiosa.
Francisco deixa ainda indicações às comunidades católicas, para que se empenhem na criação de “momentos de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta”, além de sugerir que se convidem para as Missas deste domingo “os pobres e os voluntários” que os ajudam.
“Os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho”, conclui a mensagem, que traz a data de hoje, memória litúrgica de Santo António de Lisboa.
(Com Ecclesia)