Celebração do Voto de três séculos deve ser mais do que a simples evocação da memória
A celebração que se assinalou esta manhã no Pico- 300 anos do voto popular dos picoenses das Bandeiras a pedir a intercessão de Nossa Senhora junto de Deus para ultrapassarem as consequências do cataclismo provocado na ilha pelas sucessivas erupções vulcânicas de 1718, seguidas de abalos de terra que deixaram um rasto de destruição- “coloca-nos perante a expectativa e a concretização de uma promessa”.
“Seria para nós muito pobre que nos limitássemos a uma celebração de memória ou ao cumprimento de uma tradição, porque os tempos atuais exigem um compromisso de todos nós no crescimento humano, social, cultural e espiritual”, afirmou D. João Lavrador na homilia da missa a que presidiu na Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no lugar do Cachorro, na freguesia das Bandeiras.
“Continuamos a necessitar que o nosso ser seja iluminado pela presença vivificante de Jesus Cristo e do Seu Espirito” acrescentou o prelado.
Há 300 anos os habitantes deste lugar, impressionados e temendo as consequências do Vulcão, voltaram-se para Deus, para Lhe implorar a Sua misericórdia e as Suas bênçãos para que a vida deste povo fosse salvaguardada, cientes da sua incapacidade para lutar contra as intempéries. Para o bispo de Angra, este voto é um sinal de que os mais antigos percebiam a sua limitação e colocavam toda a confiança em Deus.
“O homem na sua capacidade racional e na sua inteligência procurou ao longo dos séculos desvendar os segredos da natureza, conhecer as suas leis e se possível dominá-la nos seus ímpetos avassaladores. Contudo, fica sempre a mesma expectativa e o desejo de uma concretização da promessa impressa no intimo do homem, criado à imagem e semelhança de Deus”, afirmou D. João Lavrador.
O bispo diocesano apelou, por isso aos picoenses, tal como já tinha feito ontem no Faial, na Praia do Almoixarife, a inspirarem-se no exemplo dos seus antepassados e a confiar na misericórdia de Deus.
“Continuamos a necessitar de profetas que ajudem a desimpedir tudo aquilo que afasta o homem de Deus. Em plena cultura do século XXI, usufruindo de meios técnicos, económicos e científicos invulgares, a pessoa humana continua a reconhecer-se ameaçada e a sentir que a sua vida não se exprime na plenitude da sua realização”, adiantou por outro lado.
“Estamos perante um itinerário que nos desafia a percorrer o caminho interior para nos depararmos com Aquele que esperamos e que Deus não poderá deixar de nos enviar” acrescentou ainda. E, para isso, lança um desafio a todos os diocesanos que é definir o lugar que dão a Deus nas suas vidas.
“A primeira questão que teremos de nos colocar é o lugar onde nos situamos para que possamos contemplar a presença do Messias”, disse.
“A celebração de hoje faz memória das provações das pessoas ao longo destes 300 anos, mas é também a certeza que hoje a vida humana está sujeita a muitas dificuldades e sofrimentos”, frisou ainda o prelado.
Neste contexto, “importa ter uma consciência lúcida sobre a verdade sobre Deus, sobre a realidade concreta da natureza e as suas leis, sobre a identidade do ser humano e da comunhão de vida que se exige entre Deus e o homem”, concluiu o bispo de Angra.
Depois de ontem ter estado na Praia do Almoxarife, na ilha do Faial, a celebrar um voto semelhante feito há 300 anos pelos locais, hoje foi a vez do Pico. Além da procissão e da Eucaristia, os picoenses organizaram uma série de eventos de natureza cultural para assinalar esta data festiva.
Foi também descerrada uma lápide comemorativa com um trecho do texto do Pe. Nunes da Rosa, que foi pároco das Bandeiras e escritor de mérito reconhecido. Amanhã, dia 3 de Fevereiro haverá uma noite cultural, no adro da Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no lugar do Cachorro. O serão cultural abrirá com a atuação do Folclore da freguesia das Bandeiras. Seguir-se-á uma palestra por Albino Terra Garcia, filho da paróquia, que está a compilar estudos para publicar, posteriormente, uma obra sobre o tema.