D. João Lavrador presidiu à Missa da festa do Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo, este ano assinalada de forma diferente: sem procissões e sem o calor da diáspora
A realidade social “parece que vive amarfanhada pelas circunstâncias que vivemos” e, por isso, os cristãos devem ser “os portadores da boa notícia da salvação”, afirmou esta manhã o bispo de Angra na homilia proferida na Missa da festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo.
“Transformemo-nos todos em mensageiros de uma boa noticia. A realidade está amarfanhada com as circunstâncias que vivemos neste momento e por isso, a boa notícia tem de vir de nós cristãos: além da palavra, através do testemunho temos de ajudar a humanidade a reencontrar-se com Jesus e com ele a salvação” disse D. João Lavrador a toda a assembleia participante desta celebração. A Missa da festa foi transmitida através dos meios de comunicação social que a levaram a toda a diáspora açoriana, sobretudo micaelense, que tem nestas festas um dos pontos altos da sua devoção popular. A seguir à festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, no quinto domingo a seguir à Páscoa, esta é, porventura, a maior festa religiosa de São Miguel.
“Jesus é o único caminho da salvação: Ele é rei mas é também o servidor” sublinhou o prelado diocesano que , pelo segundo ano consecutivo preside a esta festa na antiga capital da ilha de São Miguel.
“Tal como ele sejamos servidores. Não desistamos e aprendamos Dele esta atitude de serviço” procurando levar aos outros “a solidariedade e o cuidado que Ele nos ensina”.
A partir do Evangelho proclamado neste dia de festa, que percorre todo o sofrimento de Jesus, desde a condenação até à morte e ressurreição, D. João Lavrador lembrou o sofrimento de toda a humanidade ao longo dos tempos sublinhando que o itinerário que Jesus nos indica é o mesmo que devemos seguir.
“Todos queremos ir mais além, queremos progredir e sentimo-nos humilhados quando algo destrói esta capacidade de alcançar o bem estar, quando o caminho do progresso está truncado e um golpe nos é desferido”, constatou o prelado.
“Temos de ter coragem de assumir em nós toda esta realidade dramática e dar-lhe um significado: solidariedade, fraternidade, encontro com o irmão” interpelou o bispo de Angra.
“O caminho do sofrimento, da dor, de aniquilamento não é exterior ao ser humano como não foi para Jesus que viveu todas as dores humanas. Mas, com os olhos postos em Cristo, e com uma vida em comunhão com Ele, temos aqui o itinerário da salvação que temos de ser capazes de encontrar para nós e propor aos outros”, avançou ainda o prelado.
“Estamos numa sociedade que quer eliminar o sofrimento pelo sofrimento e não vê nele a possibilidade de um crescimento na solidariedade, do empenho maior e fraternidade com os irmãos” disse ainda.
“Este é o grande desafio: o desafio do humanismo pleno que é o amor” acrescentou ao destacar: “tal como Jesus não desiste de nenhum de nós também nós não podemos desistir de ninguém”.
“Temos de aprender muito com Ele” concluiu o prelado diocesano desafiando os presentes a desenvolver um “verdadeiro sentido de comunidade”.
“Deus sofre connosco, caminha connosco e tenta libertar-nos do pecado oferecendo-nos a sua graça” referiu ainda lembrando que ao contrário do povo judeu que tinha no Sumo Sacerdote alguém que se colocava fora do sofrimento, “o nosso sumo sacerdote coloca-se ao nosso lado e sofre connosco”.
“Não enjeitemos esforços para nos aproximarmos Dele e aprendamos Dele”, concluiu.
O bispo de Angra aproveitou ainda esta oportunidade para saudar os emigrantes açorianos da diáspora que seguiram esta missa através da RTP Internacional.
“Estamos a celebrar o senhor Bom Jesus da Pedra. Uma saudação fraterna e amiga aos açorianos que estão na diáspora e que hoje têm aqui o seu coração. Vamos pedir ao Bom Jesus da Pedra, aquele que sabe o que é o sofrimento, que zele por aqueles que são vítimas da pandemia mas também por aqueles que sofrem de todas as enfermidades e injustiças da terra”.
As festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra são, desde sempre, organizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo e realizam-se no último domingo de agosto, pelo menos desde 1903, data da autorização do Papa Leão XIII para que estas festividades fossem reconhecidas.
A Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo é uma das mais antigas da Diocese de Angra, dríada em 1551 ou 1552, quando se deu a fundação da Confraria da Misericórdia e foi também nessa época que, depois de ter a funcionar o hospital, construiu a sua capela, naquele que é o principal complexo arquitetónico de Vila Franca do Campo – igreja, hospital, consistório e farmácia.