D.João Lavrador presidiu à missa que celebrou os 300 anos do Voto feito pelos populares na Praia do Almoxarife, na sequência de uma erupção vulcânica
O Bispo de Angra apelou esta tarde aos faialenses para resistirem à tentação de criar falsos deuses em função das suas conveniências e a honrar o voto feito pelos seus antepassados que, cientes das suas limitações, confiaram em Deus.
Na homilia da missa que assinalou os 300 anos do voto popular feito ao Senhor Santo Cristo, na Praia do Almoxarife, por ocasião das erupções vulcânicas que afetaram as ilhas do Faial e do Pico em 1718, seguidas de violentos abalos de terra, D. João Lavrador lembrou o significado do voto e sublinhou a persistência dos populares que, compreendendo a sua impotência, se viraram para o Céu, pedindo auxilio.
Tal como eles, hoje os cristãos têm de compreender o verdadeiro significado da misericórdia de Deus e sobretudo confiar na sua ação, disse o prelado.
“Caros cristãos, estamos a celebrar a Eucaristia em acção de graças ao Senhor pela Sua misericórdia e pela Sua ternura para com as suas criaturas” afirmou o bispo de Angra, lembrando que este momento interpela a um confronto com a própria maneira de viver nos dias de hoje.
“Somos confrontados sobre a nossa vida e a nossa relação com o mundo e com Deus. Exige-se-nos de nós uma relação com a natureza que dignifique o ser humano, que o salvaguarde e defenda mas também que saiba despojar-se de todas as ideias deturpadas acerca da intervenção de Deus no mundo” disse D. João Lavrador.
Para o prelado esta tomada de consciência obriga a que ninguém desista. E, sobretudo, a que ninguém crie imagens de Deus que não correspondam à realidade.
“Tremenda sedução esta de no contexto da vida quotidiana e dos seus desafios que nos são lançados, entre as muitas intervenções humanas, a mais grave tem a ver com a imagem distorcida de Deus porque somos tentados em fazer para nós um deus à nossa medida” disse o prelado.
“Pergunto-me se não será este o maior drama do nosso tempo?” questionou ainda o bispo de Angra que desaconselha atitudes que radiquem na “superficialidade, na facilidade, e na apatia”.
“Só a partir da experiência do amor podemos viver não só a vida de Deus em nós mas projectar a luz que o amor oferece para aceitarmos de maneira consciente, livre e comprometida os sinais da presença de Deus mesmo nos acontecimentos mais dramáticos” concluiu.
O prelado presidiu às celebrações no Faial que para além desta missa contaram com a realização de uma procissão pelas principais artérias da Praia do Almoxarife e, amanhã, estará no Pico, na Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no Cachorro, onde presidirá à celebração da eucaristia que assinala também o voto feito pelas gentes do Pico na mesma altura. Aí será descerrada uma lápide comemorativa da data, com um trecho do texto do Pe. Nunes da Rosa, que foi pároco das Bandeiras e escritor de mérito reconhecido.