Bispo de Angra convida a Igreja a ser a “força motriz da fé que une os açorianos”

D. Armando Esteves Domingues afirma que está nas mãos de cada um “uma nova e exigente etapa de evangelização”, indicando que os próximos 10 anos são “decisivos”

O mandamento do Amor deve tornar-se a voz da consciência de cada um de forma a que a Igreja açoriana seja um “canto de esperança” para pessoas que experimentam diferentes formas de sofrimento, apelou esta tarde D. Armando Esteves Domingues na Concelebração solene que decorreu na Sé, em acção de graças pelos 490 anos da criação da Diocese de Angra, que se completam este domingo.

“É necessário que este mandamento, que é o `grande mandamento´,  ressoe dentro de nós, seja assimilado, se torne a voz da nossa consciência. Assim, cada um de nós pode tornar-se uma `tradução´viva, diferente e original do Evangelho. Não uma repetição, mas uma ´tradução´ original da única Palavra de amor que Deus nos dá”, afirmou o bispo de Angra naquele que foi o grande e último momento celebrativo deste aniversário cuja comemoração começou na sexta-feira, Dia de Todos-os-Santos, com a sessão de clausura da fase diocesana do processo de Beatificação de Maria Vieira e prosseguiu com o Encontro Diocesano da Juventude.

“Aquele primeiro mandamento não é o primeiro de uma lista, mas o princípio e o fim de tudo”, prosseguiu D. Armando Esteves Domingues, deixando algumas interpelações.

“O que é mais importante que tudo na nossa vida pessoal e diocesana? O que será mais importante que a beleza desta liturgia e que toda a nossa ciência? O que valerá mais que qualquer Plano Pastoral, ministério ou profissão? A resposta de Jesus é clara: o amor! É o amor que une e, sem amor, nada vale. Amar a Deus e ao próximo é a síntese entre o velho e o novo, entre o humano e divino, entre a divergência e a unidade”, afirmou ao recordar que a diocese se prepara para viver um período desafiador que a levará à celebração dos 500 anos da sua fundação.

O bispo diocesano explicou que está nas mãos de cada um “uma nova e exigente etapa de evangelização”, indicando que os próximos 10 anos são “decisivos”, até aos 500 anos desta Igreja diocesana.

“Convoco a Diocese inteira – todos e cada um – para pensarmos juntos um projeto de pastoral para estes próximos 10 anos. Precisamos de uma especial escuta do Espírito Santo para nos mudarmos a nós antes das estruturas ou métodos”, acrescentou, na homilia que apresentou esta diocese como um “farol de esperança”.

“Tudo pela positiva!”, acrescentou ao referir que a Igreja “precisa desta constante, mesmo que sofrida, visão fraterna sem a qual não há diálogo construtivo que nos mantenha relevantes quanto necessário”.

“Sem o amor e atitude de Cristo, pouco valem os diálogos, as opiniões, discussões, orientações e até planificações muito bem feitas. Seremos mundanos. O outro continuará a ser visto como adversário e as suas propostas condenadas sem serem ouvidas ou lidas”, afirmou.

“ A Igreja não é uma empresa ou um partido. A Igreja é um povo. O povo de Deus a caminho. A sua razão de existir não consiste em gerir estruturas, burocracias ou poderes. Tampouco é para conquistar e defender o seu próprio prestígio e espaço no mundo”, afirmou lembrando que a única razão da sua existência é “ tornar possível o encontro com Cristo hoje, em todos os lugares onde as mulheres e os homens de nosso tempo vivem, trabalham, se alegram e sofrem”, disse ainda.

“O papel `político´ do cristianismo é, através da sua reforma e forma de escutar, poder inspirar a procura de uma nova qualidade de relações entre pessoas, culturas, religiões e Estados” e se “não caminharmos todos com esperança nesta direção, a Igreja deixará de ser fermento, porque iludida de que é massa”.

 

A partir da liturgia proclamada, D. Armando Esteves Domingues recorda que “também hoje, não é tanto o conteúdo que divide, mas a forma como nos colocamos uns diante dos outros, nos vemos uns aos outros e nos dizemos as coisas”.

“A Igreja tem uma missão terapêutica e profética no mundo” enfatizou reforçando que a Igreja é não só um “sacramento” como  “um símbolo e instrumento da unidade de toda a humanidade”.

“Esta unidade deve ser plural, isto é, sinodal, dialogada e não imposta para poder perdurar”, alertou ainda para alertar para as dificuldades que surgem diariamente em todo este processo sinodal  quando perguntamos “como escutar a Deus e uns aos outros para a nobre missão de anunciar de novo Deus ao mundo de hoje?”

“Convenhamos que não está a ser fácil”, refere o bispo de Angra, que não deixou de evocar a história de 490 anos desta Igreja particular.

“Mesmo no meio do mar agitado da história permaneceu sempre de pé!”, frisou, agradecendo “por quantos a fizeram no passado e pedimos ao Espírito Santo o dom da renovada esperança para olhar o futuro”.

Na homilia desta solene concelebração na Catedral, D. Armando Esteves Domingues salientou que a história religiosa dos Açores começou antes da criação da diocese, que com os descobridores e povoadores chegaram “os primeiros pioneiros da missão”, cuidaram das pessoas, promoveram a educação, a ajuda aos mais necessitados, as Misericórdias, e todas as Instituições Particulares de Solidariedade Social existentes.

“A Igreja tem sido a força motriz da fé que une os açorianos e, podemos dizê-lo com propriedade, um dos maiores contributos para a promoção da própria coesão da Região Autónoma dada a sua presença capilar em cada canto do arquipélago” afirmou, ainda destacando a “nova e exigente etapa de evangelização”,  com 10 anos decisivos pela frente até aos 500 anos, a começar já no próximo com a celebração do Jubileu da Esperança.

“O Jubileu de que recebereis abundantes propostas, seja um `canto de esperança´ para a nossa Igreja local. Que as peregrinações sejam `um motor espiritual´ para renovar a vida da Igreja que quer prestar cada vez mais – com a graça da caridade – um serviço de paz para o mundo”.

“Que saibamos transmitir vida, que é um sinal de esperança, para pessoas que experimentam diferentes formas de sofrimento, para os presos, para os doentes e suas famílias, para os “jovens sem esperança”, para os exilados, refugiados e deslocados, para os idosos que experimentam a solidão, para todos os pobres”, conclui o prelado diocesano.

A Missa teve a particularidade de contar com a participação dos Jovens que durante o fim de semana integraram o Encontro Diocesano da Juventude e foi animada pelo canto de um grupo coral formado pelos vários grupos corais da ilha Terceira.

“A data de hoje é um ponto de chegada e de partida para uma longa caminhada que esperamos seja muito abençoada” disse o pároco da Sé, cónego Helder Miranda Alexandre

O Projeto de pastoral que hoje foi apresentado no segundo ano do Itinerário 2023-2025, tem como lema: Todos, todos, todos, caminhar na esperança e é centrado no Jubileu.

 

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