D. João Lavrador preside às celebrações da maior festa de verão em São Miguel, que este ano assinala o 200º aniversário da saída da primeira procissão
O bispo de Angra, que preside às festas do Senhor Bom Jesus da Pedra, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel, desafiou os fieis presentes a fazerem das suas vidas particulares “um laboratório onde o mundo possa ver o amor, a verdade e a bondade do reino de Deus”.
Na homilia da missa da festa, esta manhã, D. João Lavrador, a partir da liturgia, sublinhou duas mensagens: a verdade da boa nova que constitui a palavra de Deus e, por outro lado, a dimensão de serviço ao outro a que esta verdade obriga e “que é tão necessária nos dias de hoje”.
“Nós temos de ser mensageiros desta boa notícia e levar a este mundo que espezinha a dignidade humana, que descarta o outro, que lhe é indiferente e que está vazio. Temos de levar a verdade e o amor de Deus e convidar este mundo, em todas as suas organizações que pautem a sua vida pelo serviço e pela entrega de uns e outros em nome do bem comum” afirmou o prelado diante dos inúmeros fieis que participaram na Eucaristia daquela que é a maior festa de verão da ilha de São Miguel, reunindo milhares de peregrinos, que nesta altura voltam também à sua terra natal.
O bispo de Angra sublinhou a “novidade” que a palavra de Deus traz ao mundo e que “é um chamamento permanente a servir o outro”.
Esta palavra “oferece-nos a oportunidade para uma renovação da ótica em que entendemos e se posicionam todos os serviços públicos. Mas também estamos diante daquelas que são as funções de todos nós na comunidade cristã, na Igreja e na sociedade”, referiu.
“Tudo deve ser desprendimento, entrega de si ao outro, sempre focados no bem comum”, esclareceu destacando que “a dignidade do outro prevalece sobre os interesses de si mesmo; é sempre o bem comum que prevalece”.
“E, quando Jesus diz o meu reino não é deste mundo Ele não está a alhear-nos do mundo está sim a trazer-nos para este mundo novos valores e novas formas de atuar que resultam da comunhão e do encontro com Deus”, afirmou ainda.
“Este é o mundo novo, que nos aparece renovado em que o amor há de imperar sobre todos os povos, e nós temos de ser mensageiros desta boa noticia”, enfatizou.
O prelado diocesano, que preside pela segunda vez a estas festas desde que é bispo de Angra, lembrou ainda que o grande convite que o Senhor da Pedra nos dirige é “para que tenhamos coragem, deixemo-nos interpelar pelo Senhor Jesus Cristo e, apesar da fragilidade e do pecado e de tudo aquilo que possa fazer-nos denegrir a nossa dignidade, tenhamos coragem de nos aproximar Dele”. E isso, pressupõe um desafio: “primeiro à conversão; à transformação e à renovação permanentes”, apesar do mundo em que vivemos, marcado “pela indiferença e pelo relativismo”.
“Estamos num tempo em que o ser humano parece que abdicou desta busca; da busca da verdade ao seu redor, limitando-se ao mundo da tecnologia sem questionar onde é que ela pode levar ou sobre os conteúdos éticos morais que pode desencadear e finalmente a relação da própria tecnologia e a sua dignidade”, disse D. João Lavrador.
As cerimónias em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra realizam-se no último domingo de agosto, “pelo menos desde 1903”, data da autorização do Papa Leão XIII para que as festividades fossem reconhecidas, como está expresso num documento da Sagrada Congregação dos Ritos, que a Santa Casa guarda no seu arquivo.
“Não é fácil precisar” quando começou o culto e as festas, mas “há uma lenda” que refere que a imagem Senhor da Pedra apareceu na praia do Corpo Santo “dentro de uma caixa de madeira”, “em data desconhecida”.
As duas imagens – a primitiva e a atual – representam a imagem do “Ecce Homo”, o Cristo coroado de espinhos, sentado numa pedra.
Esta tarde, a procissão sairá à rua percorrendo as principais artérias de Vila Franca do Campo, a primeira capital da ilha de São Miguel.