Bispo de Angra convida a repensar o Ato Penitencial como “gesto de amor” para com Deus e com o irmão

Foto: Igreja Açores/Imposição de cinzas

Mensagem para a Quaresma anuncia que a renuncia quaresmal reverte a favor de projectos em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde, onde estão envolvidos açorianos

D. Armando Esteves Domingues apela na Mensagem para a Quaresma deste ano uma “valorização” do Ato Penitencial cujo valor “sacramental e pedagógico”  traduz “a vontade de reconciliação nas relações pessoais e sociais”.

“O Ato Penitencial, colocado no início da Celebração Eucarística, não substitui certamente o Sacramento da Reconciliação, não é um sacramento em sentido estrito, mas tem um valor sacramental e pedagógico, porque nos educa a reconhecermo-nos pecadores e a invocar a misericórdia não só como um ato individual mas também como um ato eclesial com consequências existenciais muito significativas”, escreve o bispo de Angra na sua segunda Mensagem para a Quaresma que dirige a todos os diocesanos.

“O átrio eucarístico, como um vestíbulo, oferece a todos a possibilidade de um Ato Penitencial, um momento para o reconhecimento dos próprios pecados e, assim, poder entrar, purificados, na sala da celebração eucarística”, diz ainda apelando à valorização deste Ato Penitencial proferido nos ritos iniciais da celebração eucarística.

“Este Ato traduz a vontade de reconciliação nas relações pessoais e sociais, porque cada ferida infligida a Deus é, ao mesmo tempo, uma ferida para o nosso irmão e irmã e vice-versa”, salienta D. Armando Esteves Domingues, que recorda a dupla função deste pedido: “ Eu peço pelos outros e os outros intercedem por mim e, neste círculo de amor, constrói-se a Igreja que se santifica para santificar o mundo”.

Por isso, conclui, “o Ato Penitencial, redescoberto e bem feito, pode ser uma ajuda para o nosso caminho quaresmal e para podermos chegar à terra da Páscoa, reconstruídos por dentro, verdadeiros artesãos da paz e do amor”, afirmando que deve ser um pedido “consciente”. E, lança um apelo: “Deixemos que cheguem ao nosso coração as angústias e esperanças dos irmãos de caminho”.

O prelado diocesano alerta, ainda, para o pecado da omissão, seja “às obrigações para com Deus, seja para com os irmãos, sobretudo os carenciados”.

“A omissão, que mergulha na indiferença e tantas vezes na intolerância com o outro, torna-nos egoístas e autorreferenciais. Isola-nos e faz-nos pouco fraternos”, afirma na Mensagem.

“Neste tempo de reacerto connosco, com Deus e com os outros, aprendamos a arte da moderação e do cuidado. Vejamos no outro o nosso irmão, independentemente da sua circunstância. E façamos tudo para o ajudar na defesa da sua dignidade”.

D.Armando Esteves Domingues ressalva, ainda, que a Quaresma é um momento de “jejum” em que “a oração e a caridade ajudarão a reavivar” o amor a Deus e aos irmãos, construídos a partir de uma maior interioridade.

“É dentro de cada um de nós que podemos afogar na misericórdia de Deus o pecado, as falhas de caridade e as injustiças para, logo de seguida, partir livres para amar a todos”, diz.

O bispo de Angra apela, por outro lado, a um regresso à Eucaristia, depois de lembrar que os efeitos da pandemia ainda afastam muitos da vivência comunitária.

“Convido todos, todos, todos a voltar à Eucaristia nesta Quaresma. Atrevo-me a entrar em vossas casas, para abanar a consciência dos pais de família para a importância de serem naturais educadores e transmissores da fé e para fazerem um programa conjunto de caminho espiritual nesta Quaresma.  Fazer um programa  de caminho espiritual nesta Quaresma, o que for possível, mesmo se pouco, poderia ajudar a todos”.

“Muitos ainda continuam em tempo de pandemia, confinados às paredes das suas casas, sem fazer comunidade! A fé não enraíza nem produz frutos de caridade sem espiritualidade, sem uma vida espiritual comunitária. Para começar por nós e por dentro” lembra.

“Deixemos que Jesus nos converta e semei o desejo sincero de começar por nós e por dentro,  para sabermos estar com todos e para os outros. A Missa Dominical pode ser o grande barómetro da Quaresma”, conclui o prelado.

A Renuncia Quaresmal da diocese de Angra destina-se a dois projectos: um em São Tomé e Príncipe e outro em Cabo Verde, onde estão envolvidos açorianos.

“Recebemos o pedido do PDIL – Projeto de Desenvolvimento Integral de Lembá –  na cidade das Neves, onde trabalha há quase 25 anos a nossa missionária, a Irmã Lúcia Cândido das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, também presentes na nossa Diocese. O Projeto é desenvolvido pela Associação Abraçar São Tomé e Príncipe, o Centro Social Mãe Clara, que dá mais de 2000 refeições a crianças e idosos; a Escola Nossa Senhora das Neves para mais de 800 crianças; o Centro Despertar, para mais de 200 crianças e a Sala de Informática da Escola Nª Srª das Neves.”

O segundo Projeto será o “Mison Corason 997“, que vários açorianos já apoiam e é desenvolvido pelo Centro Educativo do Sagrado Coração de Jesus, dirigido pela Irmã Maria do Carmo Borges, da Congregação das Irmãs Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus, na cidade da Praia, Cabo Verde. Para além de muitas outras necessidades, a Cáritas Diocesana de Santiago-Praia manifestou a necessidade de se construir um depósito de água potável na escola primária de Pingo de Chuva, cujo projeto ronda os 8000€.

“Vamos tentar pagá-lo na íntegra. Basta que todos encaminhem as suas renúncias”, apela D. Armando Esteves Domingues.

A Quaresma que começa amanhã, quarta-feira de cinzas, é um período de quarenta dias (quadragesima) dedicado à preparação da Páscoa. Desde o século IV manifesta-se a tendência a apresentar este período como tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência.

“Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistério de Jesus no deserto” (Catecismo da Igreja Católica, 540). Ao propor aos seus fiéis o exemplo de Cristo que se retira para o deserto, prepara-se para a celebração das solenidades pascais, com a purificação do coração, uma prática perfeita da vida cristã e uma atitude penitencial.

A Quaresma  termina imediatamente antes da Missa Vespertina de Quinta-feira Santa, também designada Missa da Ceia do Senhor.

Mensagem da Quaresma

 

 

 

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