Mensagem Pascal apela a uma sociedade mais fraterna que vá para além da simples justiça
O Bispo de Angra diz que o mundo “só será diferente” se colocar de lado a lógica marxista e do capitalismo liberal e optar pelo caminho da misericórdia.
“Não será a lógica do marxismo ou do capitalismo liberal que vai levar a uma sociedade mais humana, justa e fraterna. O mundo será diferente só na medida em que enveredar pelo caminho do amor, que tem a sua máxima expressão na misericórdia, isto é, na capacidade de ter “compaixão”: ser capaz de padecer-com, de se colocar no lugar do outro e de assumir a sua situação” sublinha D. António de Sousa Braga na Mensagem pascal deste ano que o Sítio Igreja Açores publica esta sexta feira.
De acordo com o prelado diocesano “apenas” com Cristo se vence o mal e a morte, porque é “Ele a encarnação definitiva da misericórdia”.
Numa mensagem onde recorre várias vezes a citações de São João Paulo II e de Bento XVI, a propósito da explicitação dos conceitos de misericórdia e de compaixão, o responsável pela igreja católica nos Açores diz que “quando falamos de misericórdia não estamos a relativizar a justiça” apenas a “superá-la” e é esta superação que constitui o núcleo da mensagem bíblica.
“Jesus revela o Deus-Amor, que é todo misericórdia e só misericórdia: em toda a Sua vida, em que passou fazendo o bem e, sobretudo, com a entrega total na Cruz, que culmina na Ressurreição, que é a vitória da vida”, diz o bispo de Angra.
Lembrando que “o Seu caminho é também o nosso caminho”, o Prelado diocesano frisa que por “mais paradoxal que possa parecer, é pela Cruz que se atinge a vida em plenitude. Não a cruz pela cruz, mas a Cruz, assumida e vivida com Cristo e como Cristo, como caminho que leva ao triunfo final. Com Ele e n’Ele também nós venceremos a morte e tudo o que oprime o ser humano”.
Por isso mesmo, o Mistério Pascal “traz a esperança certa de um mundo melhor e diferente, que nos compromete a dar o nosso contributo pelo progresso da civilização humana”, adianta ainda D. António de Sousa Braga.
Como já afirmava o Papa Paulo VI e foi repetido tanto por João Paulo II, como por Bento XVI, diz o prelado “é necessário construir, para além de uma cultura da justiça, uma civilização do amor. É, desta forma, que a Igreja e os grupos eclesiais podem contribuir para a humanização da sociedade e do sistema social”, adianta ainda.
“A vida humana e uma sociedade verdadeiramente humanitária não são possíveis sem amizade, comunidade, solidariedade e, justamente, misericórdia” diz, acrescentando que “o amor e a misericórdia têm o seu lugar, antes de mais, nas relações humanas de proximidade. Mas também são uma condição fundamental e indispensável para a convivência no seio de um povo, assim como entre os povos” afirma o prelado lembrando as reflexões do Cardeal Wlater Kasper no seu mais recente trabalho sobre a Misericórdia divina.
Nesse sentido, o amor “será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa”.
“Não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem quer desfazer-se do amor prepara-se para se desfazer do homem enquanto homem. Sempre haverá sofrimento, que necessita de consolação e ajuda. Haverá sempre solidão. Existirão sempre também situações de necessidade material, para as quais é indispensável uma ajuda, na linha de um amor concreto ao próximo” lembra D. António de Sousa Braga socorrendo-se da enciclica Deus É amor, do Papa emérito, Bento XVI.
“O amor, contendo a justiça, dá origem à misericórdia, a qual, por sua vez, revela a perfeição da justiça”, e é isso que significa a Ressurreição de Jesus “que é um novo tipo de presença no meio de nós para que a Igreja possa cumprir o mandato missionário de anunciar e testemunhar o Evangelho em todo o mundo”.
Na mensagem pascal para este ano, e depois de se ter dirigido aos cristãos açorianos durante a Quaresma, com uma série de catequeses focando a misericórdia, o Bispo de Angra aproveita a oportunidade para agradecer “a comunhão” que tem sentido com todos sobretudo neste momento de maior fragilidade pessoal, depois da operação aos pulmões.
Expressando votos de “boa páscoa” sobretudo para quem “mais sente o peso da cruz”, D. António de Sousa Braga agradece “a todos aqueles/as, que o acompanharam com a oração e amizade, com as mensagens e votos”.
“Força, coragem e esperança! O Senhor Jesus ressuscitou por nós e para nós. Aleluia!”, termina D. António de Sousa Braga.
O prelado diocesano ainda se encontra em Lisboa, em convalescença depois de ter sido submetido a uma intervenção cirurgica durante a qual lhe foi extraído o pulmão esquerdo.