D.Armando Esteves Domingues completa dois anos de episcopado em Angra no dia 15 de janeiro
A visita pastoral a São Jorge terminou no dia em que D. Armando Esteves Domingues celebrou o 6º aniversário da sua ordenação episcopal na Sé de Viseu, a 16 de dezembro de 2018, altura em que foi nomeado bispo auxiliar do Porto, onde esteve quatro anos.
No sábado, dia 14, depois de ter pernoitado na Fajã de São João, em São Jorge, o bispo de Angra rezou na Ermida que está intimamente ligada ao bispo D. José Pedro da Silva, jorgense, que o ordenou sacerdote em Viseu, fará também em janeiro 43 anos.
Esta ermida era o lugar onde o prelado açoriano celebrava sempre que vinha de férias. É dedicada a Nossa Senhora da Guia e por cima da imagem tem a inscrição do Evangelho de São João- “Eis a tua mãe”- que o 40º bispo de Angra inscreve também no seu lema episcopal.
D. Armando Esteves Domingues foi nomeado pelo papa Francisco bispo de Angra a 3 de novembro de 2022, tendo entrado na diocese no dia 15 de janeiro de 2023, disponibilizando-se para conhecer, estar com as pessoas e escutá-las. Aproveitou a realização da JMJ de Lisboa e a celebração do crisma, para estar essencialmente com os jovens e a meio do ano já tinha ido a todas as ilhas.
Este ano de 2024, especialmente dedicado à oração, conduziu o bispo de Angra de novo pelas nove ilhas do arquipélago, ficando especialmente marcado pelo inicio das visitas pastorais num modelo diferente, onde o objetivo é estar com as pessoas, escutá-las e “gastar tempo com elas”.
Esta nova marca, iniciada na ilha das Flores e depois prosseguida em São Jorge está expressa na carta ao Povo de Deus que escreveu antes da deslocação ao lugar mais ocidental da Europa e que por ser uma periferia foi escolhida simbolicamente para o início de uma obrigação canónica “que é muito mais do que isso”.
“Vamos fortalecer a comunhão fraterna entre nós para nascerem as estruturas necessárias, e se relançar a esperança numa Igreja mais ministerial e missionária.”
“Somos companheiros da mesma viagem” afirma, na carta ao Povo de Deus que é inspirada nos discípulos de Emaús no Evangelho de Lucas, onde os diocesanos- padres, diáconos, religiosos e religiosas, movimentos e serviços, crentes e pessoas de boa vontade- foram convidados a encontrar a mesma esperança no Ressuscitado, que os discípulos encontraram.
“Para nós, Igreja açoriana, encetar caminhos de esperança pede o passo, mesmo se pesado, de cada um; precisa da palavra, mesmo se triste, de cada caminhante; precisa de coração aberto à escuta de uma outra Palavra; precisa de coração quente e não apenas de mente e lógica humanas; precisa do Ressuscitado na história de cada um para dar sentido ao que é comum”, desenvolve.
D. Armando Esteves Domingues assinala também a “perda da vivacidade comunitária nas paróquias” e indica a necessidade de um maior e melhor acolhimento “a quem é diferente, a quem tem necessidades especiais” e “quer ser incluído”.
“Há muitas razões para a esperança; há muitas sementes; desejo agradecer tudo o que se faz e perceber as dificuldades e sinais de crise para discernirmos em conjunto os tais caminhos novos e seguir.”
A diocese encontra-se a cumprir o último de dois anos de Itinerário Pastoral marcado por três laboratórios: o da sinodalidade, o da fraternidade e o da esperança, que será especialmente desenvolvido durante o Ano Santo, que em cada ilha terá uma Igreja Jubilar para o assinalar, com destaque natural para a Catedral Diocesana e também para os santuários do Senhor santo Cristo, Senhor Bom Jesus e Senhor Santo Cristo da Caldeira que serão as igrejas jubilares em São Miguel, Pico e São Jorge, respetivamente.
A proximidade e a escuta têm sido as marcas deste episcopado, com a iniciativa “Porta aberta” a funcionar de maneira sistemática, em todas as ilhas. Também no governo da diocese, este episcopado tem sido marcado pela sinodalidade bem expressa nas duas reuniões dos conselhos Presbiteral e Pastoral Diocesano, dois órgãos consultivos do bispo, que à priori assumiu que todas as decisões que ali fossem sugeridas seriam por ele tomadas.
Por isso, este foi o último ano em que o Seminário Episcopal de Angra teve alunos a estudar na cidade património.
O modelo adoptado por concordância do Conselho Presbiteral foi o do envio dos estudantes para o Seminário do Porto, onde residem e são acompanhados no seu processo de discernimento, frequentando os estudos académicos na faculdade de Teologia da Universidade Católica do Porto. Apenas o último ano de pastoral e o de estágio serão cumpridos na diocese, mantendo-se a articulação entre os dois seminários. Futuramente, os jovens candidatos ao sacerdócio poderão fazer também o ano zero ou propedêutico nos Açores se houver um número que o justifique. Deste leque de alunos que já estava no seminário, apenas um permanece em Angra a completar o sexénio, mas já a viver fora do Seminário, acompanhando a vida pastoral de um sacerdote.
Este ano foram ordenados três sacerdotes integralmente formados no Seminário de Angra e que já cumpriram o ano de estágio antes do diaconado. E foram instituídos nos ministérios de acólito e leitor o único seminarista que optou por ficar na diocese a completar os estudos e os oito candidatos ao diaconado permanente, a quem o bispo de Angra pediu disponibilidade para o serviço.
“Não olheis para o ambão e para o altar como único lugar para o vosso serviço. E que o vosso modelo seja Cristo e nenhuma novidade, mais nada nem ninguém. Não permitis que o vosso eu obscureça Deus”, pediu o responsável diocesano.
D. Armando Esteves Domingues assinalou que a instituição no ministério de leitor e acólito “é sobretudo uma valorização dos ministérios laicais”, de forma que se torne “laboratório pastoral para uma ampla e renovada ministerialidade”.
“Hoje são também as comunidades que crescem nos seus ministérios laicais. Quanto mais se tornam visíveis os ministérios laicais, mesmo os de facto, mais se evidencia que a presidência não é toda a ministerialidade. Os ministérios que o são de facto, mantêm a Igreja a funcionar”, desenvolveu, citando o teólogo D. Roberto Repole.
“Se não tiverdes este sonho incansável da missão, também fora da Igreja, de pouco valerá este ministério. Boa missão: levai Cristo Palavra, servi Cristo Pão da Vida e que Maria a Rainha das Missões vos faça amar sempre esta Igreja de que ela é Mãe e Mestra”, acrescentou D. Armando Esteves Domingues, que é o presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, da Igreja Católica em Portugal.
O Conselho Pastoral Diocesano também reuniu, seguindo a metodologia das duas sessões da XVI Assembleia Plenária do Sínodo, com trabalhos de grupo e escuta do Espírito, verificando-se igualmente a constituição e corresponsabilidade dos leigos nas várias estruturas de sinodalidade da Igreja, através da escolha de leigos para a coordenação de Conselhos Pastorais de Ouvidoria e paróquia bem como a escolha de Conselhos para os Assuntos Económicos em todas as paróquias.
O ano de 2024 fica naturalmente marcado pela sinodalidade, desde logo inspirada por Roma, e expressa na vida da diocese em várias instâncias. Foram criados três novos serviços diocesanos- Serviço de Coordenação da Formação Diocesana e Serviço de Coordenação pastoral e o Serviço da Palavra e Apostolado Bíblico- ; foi nomeado um novo responsável pelo Serviço da Pastoral da Mobilidade Humana com a criação de dois departamentos- do Turismo e das Migrações- uma realidade que merece da Igreja um novo olhar. Também a Pastoral social mudou de mãos e foi encontrado um novo modelo para a Juventude, sempre seguindo a mesma dinâmica: as direções dos serviços entregues a leigos, com a assistência de um sacerdote, numa verdadeira comunhão e corresponsabilidade.
Este ano, iniciou-se igualmente a preparação do Itinerário que será seguido na diocese até à celebração do seu Jubileu dos 500 anos, em 2034, com os Secretariados Permanentes dos Conselhos Presbiteral e Pastoral Diocesano a trabalhar em conjunto. Estes dois órgãos estão a trabalhar com vista à preparação da Assembleia que reunirá os dois conselhos em abril do próximo ano.
Durante o ano e nas celebrações mais marcantes, o Bispo de Angra falou de “proximidade e abertura”, de “processos em vez de soluções”, de “caridade em vez egoísmo” e de “nova evangelização em vez de doutrina”, procurando promover o diálogo Igreja Mundo, de forma atenta às realidades sociais dos “mais desfavorecidos e negligenciados”.
“A cruz foi motivo de espetáculo para o povo das ruas como é ainda hoje em tantas vítimas inocentes, em tantas tragédias no meio das nossas cidades. Quantas tragédias são espetáculo provocado por aqueles que a todo o custo buscam lucros desmedidos, exercem o poder sem regras, massacram inocentes, explora trabalhadores, jovens, mulheres, crianças.”, disse na missa que inaugurou o tríduo pascal deste ano, na Sé.
O prelado açoriano não deixou de lembrar, durante este ano, a necessidade de um “dialógo colaborativo” entre a Igreja e as instituições da sociedade civil em vários domínios, desde logo o do património.
“O facto de o património da Igreja ser tantas vezes o património da humanidade, das culturas, dos povos, das regiões, de irmandades e associações, pede que se procurem formas de cooperação para defesa e valorização do mesmo. O diálogo entre a Igreja e a sociedade civil quer-se sempre ativo e não se compadece de obstáculos ou questões administrativas que bloqueiem decisões”, afirmou D. Armando Esteves Domingues, na abertura das comemorações dos 500 anos do Convento de São Francisco, em Ponta Delgada.
Este ano ficará igualmente marcado pela decisão de se elevar a Santuário Dicoesano a Ermida de Nossa Senhora da Paz. O bispo de Angra presidiu à sua festa e deixou o moto para o que considera ser a prioridade deste novo santuário, o primeiro mariano da ilha de São Miguel.
“Aqui neste belo lugar, as modelações da natureza tornam mais fácil a oração. A atenção à criação deve suscitar a consciência ambiental de modo a proteger este lugar. Também aqui neste cenário maravilhoso, com horizontes largos e imaginativos a abrir o coração, convida-se ao silêncio e à oração” começou por afirmar D. Armando Esteves Domingues salientando a necessidade de uma atenção grande dos cristãos à proteção do ambiente, numa época muito marcada pelo drama ambiental.
“O meu primeiro voto é que neste futuro Santuário e nos melhoramentos que venham a ser feitos, a natureza e a arte deem passos juntos. Que aqui nasça um Santuário respeitador do ambiente, sustentável do ponto de vista ambiental de modo a que seja visível essa preocupação de harmonia entre Deus e o homem com respeito pela natureza”, disse o bispo de Angra.
“Que cada peregrino, crente ou não crente, quando aqui chegue, possa testemunhar essa harmonia e consiga obter a paz no seu coração” salientou ainda deixando um segundo voto para depois da elevação deste lugar.
“Oxalá este gesto que faremos dia 1 de janeiro de 2025 seja profético e que daqui possamos pedir sempre o fim de todas as guerras para todos os povos da terra”, exortou desafiando á construção de “lugar de espiritualidade, de oração e de conversão”, onde o “perdão seja uma das marcas mais visíveis da construção da paz”.