D. Armando Esteves Domingues presidiu à oração pela Unidade dos Cristãos, que acabou por ser um momento de partilha da palavra entre católicos de diferentes carismas
O bispo de Angra afirmou, esta noite em Ponta Delgada, numa celebração ecuménica, que enquanto não houver justiça social o mundo será sempre desigual e existirão sempre “bairros mal encarados a onde não conseguimos entrar”.
Na iniciativa, que decorreu no centro pastoral Pio XII e que inicialmente tinha como objetivo juntar cristãos de várias igrejas para assinalar a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos mas acabou por ser uma celebração participada maioritariamente por católicos, D. Armando Esteves, que é também o presidente da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização, desafiou os presentes a serem “justos e retos” procurando imitar a Deus naquilo que “ele nos pede, isto é, que amemos os irmãos como Ele nos ama a nós”.
“A mensagem deste ano (para a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos) convoca-nos para coisas concretas para além da oração: convoca-nos para a justiça e na nossa linguagem da justiça é lutar para que todos tenham acesso àquilo a que têm direito, como por exemplo uma habitação digna”, referiu o prelado.
“Seria bom que nunca desistíssemos de impedir que a pobreza e a miséria se tornem uma coisa normal” afirmou pedindo uma “justiça reta”.
“Não nos cansemos de fazer o bem em linha reta: se Deus me ama, então eu só tenho um caminho que é o do amor, o de amar o próximo como Jesus me ama”, sublinhou recordando o exemplo dos que no tempo de Jesus se preparavam para atirar as pedras à mulher adúltera.
“As pedras que encontramos no caminho, ou que estão no nosso coração, também podem servir para fazer pontes ou transformarem-se em instrumentos de amor!” disse o prelado numa celebração de contou com cânticos e com testemunhos de alguns leigos, sobretudo pertencentes ao Movimento dos Focolares , Legião de Maria, Equipas de Nossa Senhora e Oração TZ.
“O caminho que leva à unidade é o amor; não precisamos de ser iguais, aliás a verdadeira unidade constrói-se na diversidade, isto é, sermos capazes de nos compreender em toda a criação: há uma única humanidade” disse ainda.
“Tudo tem origem no profundo amor que Deus tem por nós, que nunca acaba por pior que sejamos, e o que Ele quer é apenas que amemos os outros como ele nos ama. Esta é a humanidade nova a que ele nos convoca, esta é a verdadeira unidade”, concluiu.
A celebração foi intercalada por momentos de proclamação da palavra, oração e cânticos, teve como tema “Aprendei a fazer o bem. Procurai a justiça” e foi organizada pelo Serviço Diocesano para o Ecumenismo e diálogo inter-religioso.
“Precisamos da graça de Deus para superarmos as divisões e desmontarmos sistemas e estruturas que têm contribuído para dividir as nossas comunidades. Estamos assim reunidos para, em conjunto, rezarmos pelo fortalecimento da unidade que temos como cristãos para conseguirmos, juntos, na nossa diversidade mudar o mundo” disse Monsenhor José Constância, responsável pelo Serviço.
Nuno Cardoso, um dos leigos que tomou a palavra na celebração, enfatizou a importância da “oração e do encontro” destacando que a “união pelo Espírito conduz sempre à comunhão”.
“Quando todos têm o seu lugar e quando conseguimos respeitar o que todos somos, tudo se torna mais fácil e o encontro e a união são fáceis” disse o jurista.
O espaço das celebração ecuménica estava decorado por dois elementos centrais: a pedra e a água.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos realiza-se de 18 a 25 de janeiro unindo milhões de pessoas de várias Igrejas, e recordou este ano as questões raciais a partir de uma passagem do livro de Isaías “Aprendei a fazer o bem, procurai a justiça” (Isaías 1,7).
O tema e os materiais, publicados em conjunto pelo Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos e Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas, foram escolhidos e refletidos por um grupo de cristãos nos Estados Unidos da América (EUA) convocado pelo Conselho de Igrejas do Minnesota.
Todos os textos recordam esta ideia da discriminação racial, que gera “injustiça e iniquidade” com dificuldades acrescidas para os mais frágeis e desprotegidos.
Os textos rebatem a ideia de uma religião ritualista que não sai em defesa dos mais pobres e vulneráveis.
“Na visão que se tinha naquele mundo (que se repete através da história) os ricos e os que faziam ofertas eram vistos como bons e abençoados por Deus, enquanto os pobres, que não podiam oferecer sacrifícios, eram vistos como perversos e amaldiçoados por Deus. Os pobres frequentemente eram rejeitados por sua inabilidade económica de participar plenamente da adoração no templo” referem os promotores da iniciativa.
“ A injustiça e a desigualdade levam à fragmentação e desunião. As profecias de Isaias , além de denunciar a hipocrisia de oferecer sacrifícios enquanto se oprime o pobre, denunciam as más estruturas políticas, sociais e religiosas. Ele fala vigorosamente seja contra líderes corruptos seja em favor dos desfavorecidos , enraizando o direito e a justiça exclusivamente em Deus”, salientam ainda as meditações propostas para este tempo de oração conjunta entre as várias Igrejas cristãs.
“O mundo de hoje, de muitas maneiras espelha os desafios de divisão que Isaías confrontou na sua pregação. Justiça, retidão e unidade têm a sua origem no profundo amor de Deus por cada um de nós, estão no coração do que Deus é e do que Deus espera que sejamos uns para com os outros. O compromisso de Deus de criar uma humanidade de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9) chama-nos para a paz e para a unidade que Deus sempre quis para a criação”, concluem.
Esta semana começou a ser celebrada em 1908, por iniciativa do norte-americano Paul Wattson, presbítero anglicano que mais tarde se converteu ao catolicismo.
O ecumenismo é o conjunto de iniciativas e atividades tendentes a favorecer o regresso à unidade dos cristãos, quebrada no passado por cismas e rupturas.
As principais divisões entre as Igrejas cristãs ocorreram no século V, depois dos Concílios de Éfeso e de Calcedónia (Igreja copta, do Egito, entre outras); no século XI com a cisão entre o Ocidente e o Oriente (Igrejas Ortodoxas); no século XVI, com a Reforma Protestante e, posteriormente, a separação da Igreja de Inglaterra (Anglicana).