Bispo de Angra apela ao despertar das comunidades cristãs e pede oração pelo fim da pandemia

D. João lavrador presidiu à Missa do Senhor Santo Cristo, concelebrada pelos reitor e vice-reitor do santuário. Sem fieis presentes, o prelado falou para uma vasta assembleia virtual criada pela transmissão da RTP Açores e RTP Internacional

Diante da pandemia e do sofrimento de tantos “não há outro caminho” senão “despertarmos para uma conversão” inspirada no amor de Jesus de Nazaré, afirmou este domingo, na Missa da festa do Senhor Santo Cristo, o bispo de Angra.

“Esta é a hora de recomeçar, esta é a hora de uma nova fantasia da comunhão e da caridade, esta é a hora da acção missionária para que todos possam ter acesso às fontes da alegria completa”, disse D. João Lavrador na homilia da Missa, um dos três momentos mais importantes destas festas que habitualmente inundariam Ponta Delgada de devotos.

O prelado falou para uma imensa `assembleia´ virtual, de Santa Maria ao Corvo, passando pelo continente português e toda a diáspora açoriana,  sobretudo “os que se sentem impedidos” de celebrar esta festa, sublinhando que a mesma decorre “em expectativa e na esperança”.

“Os tempos de pandemia que ainda vivemos e cujo reflexo está na forma limitada e pouco usual de realizar esta festa, que afectou toda a humanidade, é olhada não só pelos efeitos nefastos que já sentimos e que ainda marcarão o futuro, mas também como uma oportunidade para lançar os alicerces de uma nova cultura, uma nova civilização, mais humana, pautada pela dignidade de todo o ser humano” afirmou o prelado diocesano.

O bispo de Angra, que pelo segundo ano consecutivo vê as maiores festas organizadas pela Igreja a serem canceladas por causa da pandemia deixou ainda uma prece na sua homilia deste domingo: “Volto-me para o Senhor Santo Cristo dos Milagres para Lhe implorar as Suas graças e bençãos para os nossos governantes e todos os que exercem serviços públicos, para as nossas famílias, para as crianças, jovens e idosos, para todos os que sofrem com a fome, a exclusão, o desemprego e a solidão, os afectados pela pandemia do Covid/19, para os presos e hospitalizados, para todos os que na diáspora procuram uma vida mais humana e colocam o seu coração neste santuário e no Senhor Santo Cristo dos Milagres”.

O bispo de Angra chamou todos a “promover o bem comum e a dignidade humana”, com prioridade “aos mais excluídos e marginalizados”.

“As ideologias, o racionalismo e todos os projectos políticos e sociais deverão abrir-se à novidade e à inspiração que só o amor, à maneira de Jesus de Nazaré, proporcionará” disse ainda a este propósito.

“Viver no amor é uma tarefa que continua a exigir um cuidado permanente, a necessitar de se enraizar na sua fonte que é Deus e ao esforço por eliminar tudo o que o pode destruir ou viciar”, precisou.

A intervenção saudou os “gestos de amor” que se manifestaram ao longo da pandemia, “nas famílias de doentes e idosos, nos profissionais de saúde, forças de segurança, jornalistas e autoridades públicas, comunidades cristãs e tanta gente anónima”.

“Hoje, em tempos normais, toda a sociedade açoriana estaria à volta da imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Cada um nas suas tarefas de serviço público, certamente, conscientes do dever de promover o bem comum e a dignidade humana, colocando o ser humano no centro das suas decisões e projectos, dando prioridade aos mais excluídos e marginalizados, estariam, como todos nós, empenhados no dinamismo do amor que se converte em fonte de renovação, de comunhão e lança os alicerces para uma sociedade de amizade” destacou.

Depois deixou uma interpelação: “Se o amor é a realidade mais sublime e profunda que caracteriza o ser humano e deve informar a sociedade no seu todo, para quando firmaremos a educação, a todos os níveis, assente no amor e na comunhão? Para quando, deixaremos os preconceitos e nos voltamos de vez para a fonte do amor e para Aquele que nos ensina o modo de amar?”, salientou, recuperando uma expressão do papa São João Paulo II (cuja visita aos Açores completa agora 30 anos) que nos exorta a fazer da Igreja a Casa e o sítio da comunhão.

“A universalidade da fé cristã começa em cada um de nós que necessita de deixar-se converter e transformar em diversos aspectos da sua vida pessoal e comunitária, exige um encontro vivo com Cristo que só poderá acontecer pela participação activa e consciente na comunidade que se edifica a partir da Eucaristia e da vivência dos sacramentos e que se traduz no testemunho evangélico no meio do mundo irradiando a força do amor para atingir a todos sobretudo os que sofrem e passam provações”, afirmou ainda D. João Lavrador.

No final da celebração, o reitor do Santuário deixou palavras de apreço ao trabalho desenvolvido ao longo de mais de 60 anos pelas Irmãs Religiosas de Maria Imaculada, que deixarão o Santuário este verão.

“Para onde quer que vão, têm sempre um lugar cá, no nosso santuário, no nosso coração, e certamente no coração de todos os açorianos”, declarou o cónego Adriano Borges.

O bispo de Angra deixou, em seguida, uma “palavra muito sentida, de profunda gratidão” às religiosas.

“Que o Senhor compense o vosso trabalho e proteja a vossa congregação”, referiu D. João Lavrador.

Este domingo a Imagem deveria voltar a sair à rua, num giro de mais de quatro horas, durante o qual milhares de pessoas e famílias acompanhariam o andor, em procissão.

Em mais de três séculos de história deste culto, fomentado por madre Teresa da Anunciada, religiosa ribeiragrandense cujo processo de beatificação está agora na sua fase histórica de investigação, esta é a segunda vez que a Imagem não sai à Rua e não percorre as principais artérias de Ponta Delgada. A pandemia, especialmente o agravamento da situação em São Miguel, no último mês levou os responsáveis do santuário, em sintonia com a Mesa da irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres a decidir o cancelamento da festa com a presença de fieis. Uma decisão “muito dura”, quase abeirando “a tristeza de um luto” como dizia numa entrevista ao Igreja Açores o reitor do Santuário. O cónego Adriano Borges deixou, no entanto, uma palavra de esperança  aos peregrinos: “Esta imagem transmite-nos uma mensagem de esperança: perante a maldade, o sofrimento ele o Cristo da Esperança diz-nos que Deus está sempre do lado dos que sofrem e são açoitados” afirmou o sacerdote.

 

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