D. João Lavrador é o 39º bispo da Diocese de Angra e reclama a relevância para a Igreja no arquipélago
Na sua primeira grande entrevista ao Sítio Igreja Açores e Agência Ecclesia (que pode ler aqui) deixa uma “interpelação” à Igreja em Portugal, na qual sublinha a ideia de que “não temos a consciência verdadeira de que a Igreja em Portugal é um todo e os Açores – e permitam-me que fale também na Madeira, porque é outra realidade de entrada – são de pleno direito e com a mesma dignidade Igreja em Portugal”.
D. João Lavrador defende uma “unidade e comunhão” entre a igreja em Portugal continental e as ilhas acentuando a necessidade de “um trabalho a fazer para nos sentirmos todos mais solidários, mais irmanados uns com os outros e a sentir o que está na génese do episcopado: somos responsáveis por todas as Igrejas. Claro que cada um tem a responsabilidade própria pela igreja local que lhe está confiada, mas ela é de todos. Eu irei, pelo menos através da voz, reclamar isto mesmo”.
Natural da Diocese de Coimbra, chega aos Açores como um “pobre Lavrador” que quer “conhecer longamente” a diocese e os açorianos, “ser açoriano com os açorianos”, “gerar comunhão”, “convocar para a participação”, “valorizar a capacidades de cada um”, “a caminhar todos no mesmo sentido”.
Prefere dizer que a diocese está unida por nove ilhas e que o mar que está entre elas serve mais para unir e não para dividir.
“Parece-me que cada ilha terá a sua configuração própria, tanto geográfica como humana. Terá a sua religiosidade, as suas tradições, a sua forma de viver e a sua cultura. O que se pode tornar numa riqueza! Nós não podemos olhar para o que é a realidade de um determinado povo como um obstáculo à sua comunhão com os outros”.
Reconhece a importância da Religiosidade popular, como marca identitária do povo açoriano, regista a “prática religiosa bastante forte, muito acima da média de Portugal no seu todo”, a existência de “um clero muito ativo, muito bem formado, a nível espiritual e académico, numa dedicação muito grande. na vida da igreja” e aposta no Seminário Episcopal de Angra.
“Ter o seminário é um valor muito grande. Dizemos que é o “coração da diocese”, mas precisa de estar vivo. E na Diocese de Angra o seminário está vivo, com os seus professores e os alunos, e os que integram a comunidade, como verifiquei quando lá estive”.
“Farei tudo o que puder para o manter”, disse ainda.
D. João Lavrador, até agora Bispo Auxiliar do Porto, foi nomeado pelo Papa Francisco Bispo Coadjutor da Diocese de Angra, auxiliando D. António de Sousa Braga que se manterá como Bispo de Angra até resignar, o que deverá acontecer quando completar 75 anos de idade no dia 15 de março de 2016.
Toma posse este fim de semana perante o Colégio de Consultores, no domingo às 16h00 na sala dos Atos do Paço Episcopal, em Angra do Heroísmo.
D. João Evangelista Pimentel Lavrador nasceu a 18 de fevereiro de 1956, em Seixo de Mira, Concelho de Mira, Distrito de Coimbra. Foi ordenado presbítero em junho de 1981, na Sé nova de Coimbra e era desde o dia 29 de junho de 2008, Bispo Auxiliar do Porto, nomeado pelo Papa Bento XVI, tendo tido como bispos ordenantes D. Albino Cleto, Bispo de Coimbra, D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, e D. João Alves, Bispo Emérito de Coimbra.
D. João Lavrador entrou em 1967 no Seminário de Buarcos e, no ano seguinte, no Seminário Menor da Figueira da Foz, frequentando as aulas no Liceu da Figueira da Foz.
Em 1972 transitou para o Seminário Maior de Coimbra, completando os estudos liceais em 1974, prestado provas de exame no Liceu Dom Duarte em Coimbra.
Entre 1974 e 1980 frequentou o Instituto Superior de Estudos Teológicos, terminando o curso de teologia em 1980. Fez parte, como aluno, da Comissão Directiva do ISET, durante vários mandatos .
Entre 1980 e 1984 colaborou na vida pastoral da paróquia de Pombal, ajudando o respectivo pároco. Durante este período, leccionou nas Escolas Preparatória e Secundária de Pombal a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.
Entre 1984 e 1988 foi responsável pelo Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil e Assistente Regional do CNE. Durante este período, lecionou, na Escola Normal de Educadores de Infância de Coimbra, a disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica.
Entre 1988 e 1990 frequentou a Universidade Pontifícia de Salamanca, terminando a sua licenciatura canónica na área da Teologia Dogmática com a apresentação da Dissertação “O Laicado no Magistério dos Bispos Portugueses, a partir do Vaticano II”.
Em 1991 fez o curriculum escolar para o doutoramento, cujo grau obteve em 1993, apresentando e defendendo a tese “Pensamento Teológico de D. Miguel da Anunciação –Bispo de Coimbra (1741 – 1779) e renovador da Diocese”.
Desde 1991 tem vindo a lecionar no ISET de Coimbra, a disciplina de Teologia Dogmática.
Da sua vida pastoral, e até que foi ordenado Bispo Auxiliar da Diocese do Porto, D. João Lavrador foi entre 1991 e 1997 Reitor do Seminário Maior de Coimbra. Entre 1993 e 1999 desempenhou o cargo de Secretário Geral do Sínodo Diocesano de Coimbra e, em 1997 foi nomeado Pró-Vigário Geral da Diocese de Coimbra e membro do Conselho Episcopal Diocesano.
Em 1998 foi nomeado Diretor do Instituto Universitário Justiça e Paz e Coordenador da Pastoral do Ensino Superior. Em 2001, com a reactivação do Centro Académico de Democracia Cristã (CADC), é nomeado seu assistente eclesiástico.
Em 1998 é nomeado capelão do Carmelo de Santa Teresa de Coimbra e em 1999 Cónego da Sé de Coimbra e do Colégio de Consultores.
A partir de 1999 desempenha as funções de Secretário da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais, cuja Comissão, a partir de 2005, se denomina de Comissão Episcopal da Cultura, dos Bens Culturais e das Comunicações Sociais.
Depois de sete anos ao serviço da Igreja no Porto, D. João Lavrador vem para os Açores com o mesmo lema pessoal de sempre: “Tu segue-Me”, como adianta na Mensagem enviada ao “povo de Deus dos Açores”.
D. João lavrador será Bispo Coadjutor de Angra, com direito a suceder a D. António de Sousa Braga, 38º Bispo de Angra, há 20 anos a liderar os destinos desta diocese, de onde é natural, mais concretamente da ilha de Santa Maria.
A Diocese de Angra foi fundada a 3 de novembro de 1534 pela Bula AEquum Reputamus, assinada pelo Papa Paulo III.
Até essa data, os Açores integravam a Diocese do Funchal, que um ano antes tinha passado a Arquidiocese, e a de Angra passa a ser sufragânea desta até à sua extinção como Arquidiocese, passando depois a fazer parte da Província eclesiástica de Lisboa, situação que permanece até aos dias de hoje.
A diocese tem 166 paróquias ou equiparadas, concentradas em 16 ouvidorias, 161 sacerdotes diocesanos e seis diáconos permanentes. Oito das ouvidorias estão em São Miguel; as restantes correspondem à realidade de ilha, sendo que a mais pequena ouvidoria é a do Corvo e a paróquia mais pequena (30 habitantes) localiza-se na ouvidoria das Flores.
A diocese de Angra conta, ainda, com a presença de 15 institutos religiosos, 3 deles masculinos e os restantes femininos.
Com uma população total de 250 mil pessoas, 85,9% dizem-se católicos, sendo a Diocese que ainda apresenta a maior percentagem de prática dominical. Em média celebram-se 500 casamentos católicos por ano e perto de 2.400 batismos Na Diocese existem dois colégios católicos e 23 Misericórdias.