Por Renato Moura
Sabendo-se da admiração e estima pelo Papa Francisco, recebo, de oferta, livros contendo o que ele escreveu e pregou e também outros que se lhe refiram.
Li agora um intitulado «A Lista de Bergoglio» com subtítulo «Os que foram salvos por Francisco durante a ditadura – A história nunca contada», da autoria de Nello Scavo, jornalista italiano, repórter internacional e cronista judiciário, que escreveu reportagens sobre algumas das zonas mais “quentes” do mundo e viu o seu trabalho ser distinguido com galardões. O autor faz incidir a sua investigação sobre as atitudes do padre Jorge Bergoglio durante o período em que, na Argentina, rebentou o terror, se generalizou o drama dos “desaparecidos” e cruelmente se instaurou a ditadura militar que raptou e matou dezenas de milhares de pessoas.
O livro cuja tradução e edição portuguesa é da Paulinas Editora, tem prefácio de Adolfo Pérez Esquivel, um galardoado com o Prémio Nobel da Paz, que começa por se referir à surpresa e às interpretações sobre a importância da escolha que causou a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio para Papa, no contexto da Igreja de então. Nele afirma com toda a clareza que durante a ditadura “O então provincial da Companhia de Jesus, padre Jorge Mario Bergoglio, contribuiu para ajudar os perseguidos e fez tudo para que os sacerdotes da sua Ordem que estavam presos fossem libertados”.
Nello Scavo conta-nos a dificuldade na busca laboriosa dos depoimentos dos que foram salvos ou resgatados por Bergoglio, transmite-nos os testemunhos que recolheu, manifesta a convicção de que a «lista» ainda está muito incompleta, mas que “Se pretendêssemos avançar uma estimativa prudente, dir-se-ia que o padre Jorge teria ajudado mais de uma centena de pessoas a alcançarem a segurança”. E que o fez “sobre a coragem daquelas noites sem receio da caça aos infractores”, durante “dias passados entre o breviário e os postos de bloqueio, pensando em maneiras de evitar controlos, de despistar a polícia, de enganar os generais” e isto “para levar sãos e salvos, para lá da fronteira, os adolescentes destinados aos matadouros clandestinos”, que não apenas padres ou seminaristas, mas também leigos dissidentes, mesmo sem ligação à Igreja. Todavia tudo quanto era feito implicava sempre muitíssimo risco.
Aconselho a leitura do livro, ao qual voltarei, que transcreve documentos fundamentais que excluem qualquer conluio de Bergoglio com o regime ditatorial da Junta Militar e demonstram o carácter humanitário e discreto daquele que hoje é Papa.
Renato Moura