Novo livro-entrevista ao Papa emérito aborda pontificado e decisão de resignar, em 2013
O Papa emérito Bento XVI afirma no novo livro-entrevista ‘Últimas conversas’ que a sua renúncia ao pontificado, em 2013, foi uma decisão amadurecida, que não vê como um “fracasso”.
“O governo prático não é o meu forte, essa é com certeza uma fragilidade. Mas não me vejo como um fracassado”, sublinha, numa passagem da obra divulgada hoje pelo jornal italiano ‘Corriere della Sera’.
O Papa emérito percorre vários temas do seu pontificado, em colaboração com o jornalista alemão Peter Seewald, com quem já tinha trabalhado em 2010 para o livro-entrevista ‘Luz do mundo’.
“Houve momentos difíceis: basta pensar, por exemplo, no escândalo da pedofilia e no ‘caso Williamson’, ou também no ‘escândalo Vatileaks’, mas em geral foi também um período em que muitas pessoas encontraram um novo caminho para a fé e houve também um grande movimento positivo”, assinala.
Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013 e está a manter desde então uma vida de recolhimento, no Vaticano, surgindo esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.
O Papa alemão vê o seu sucessor como homem da “reforma prática” com capacidade de levar por diante “ações de caráter organizativo”.
Bento XVI confirma que escreveu “o texto da renúncia”, apresentada durante um encontro com cardeais, no Vaticano, e diz que não decidiu por causa da “pressão dos acontecimentos” ou numa atitude de “fuga”.
Antes da decisão, precisa, “ninguém” o tentou “chantagear”, algo que o próprio não teria “permitido”.
“Também não é verdade que estivesse desiludido ou algo do género”, prossegue.
Em relação ao seu sucessor, Bento XVI volta a deixar palavras de apreço pela atenção que Francisco lhe tem dedicado desde o primeiro momento, e confessa que não esperava ver o cardeal Jorge Mario Bergoglio como Papa.
“Ninguém esperaria que fosse ele. Eu conheço-o, naturalmente, mas não tinha pensado nele. Neste sentido foi uma grande surpresa”, refere, mostrando-se “feliz” com o atual pontífice.
O Papa emérito admite que recebeu indicações de um “grupo” de pressão homossexual no Vaticano, “de quatro, talvez cinco pessoas”, que entretanto foi “dissolvido”.
Bento XVI fala ainda da forma como encara a morte: “É preciso preparar-se para a morte. Não no sentido de cumprir determinados atos, mas de viver preparando-se para ultrapassar o último exame diante de Deus”.
Em agosto tinha sido publicada na Itália uma entrevista do anterior Papa a Elio Guerriero, curador da edição em italiano das suas obras completas, que integra a nova biografia do Papa emérito, ‘Servidor de Deus e da humanidade’ (Mondadori).
(Com Ecclesia)