Por Pe José Júlio Rocha
Retângulo luminoso. Ligeiramente luminoso. Suficientemente luminoso para deixar em segundo plano de luminosidade todas as outras realidades que andam à nossa volta. Chamamos a isso ecrã. Há-os de televisão, tão antigos como a infância da nossa meia idade. Há-os de computador, tão jovens como a juventude da nossa meia idade. E os de telemóvel. Os mais jovens de todos, na idade adulta da nossa meia idade.
Temo que a maior parte do mundo já não chegue até nós pelo contato direto entre os nossos sentidos e o mundo real. Temo que nos chegue pelo contato dos nossos sentidos com o ecrã. Seja ele qual for. A realidade (hoje discute-se o que é) planificou-se na luz de um ecrã. E o polegar é o dedo principal, o escrevedor, da geração nova do homo sapiens sapiens sapiens.
Brincadeiras sérias à parte, assistimos a uma vulcanização dos ecrãs. Por eles chegam, como lava a ferver, borracha temperada, as notícias deste globo. Palmira foi devastada pelas bombas ferozes do Estado Islâmico que, entre cabeças cortadas nos ecrãs, pessoas vivas queimadas nos ecrãs, mulheres e crianças violadas e mortas nos ecrãs, se tornaram no pior inimigo do ocidente. De mim. De nós. Inimigos de tudo e de todos. Muito depois de se tornarem inimigos de si mesmos, a verdadeira realidade.
Os segundos inimigos que o ecrã nos impingiu são os da Al-Qaeda, ou os terroristas que polvilham o nosso universo nas esquinas da nossa vida, cada vez mais perto das nossas janelas de vidro duplo.
O maravilhoso ecrã trouxe-nos outro inimigo: os neonazis de toda a europa (e das américas do norte, Donald Trump incluído), que se reorganizam contra o fenómeno espantoso e assustador da imigração mediterrânica. Dispostos a tudo para defender uma Europa construída no esmagamento e escravização dos antepassados daqueles que agora chegam a pedir pão. Não vai levar muito e os ecrãs vão noticiar poderosas vitórias de extremas direitas (como já o foram de extremas esquerdas) a pulular pela Europa, benevolentemente a conduzir-nos para um abismo sem retorno: morte da Europa.
A última invenção dos ecrãs é a morte em direto! Um cameraman e uma jornalista mortos em direto, tipo Big Brother, Casa dos Segredos, ou qualquer coisa da mesma família… porque, infelizmente, quase tudo se resume à vontade indomável de 15 minutos de glória – venha a morte depois.
Tudo nasce a partir do momento em que uma coisa chamada “ego” tomou de assalto o lugar de Deus, em nome de Deus. O segundo mandamento proíbe invocar o santo nome de Deus em vão. São os mais “religiosos” que o invocam absolutamente em vão. Até entre nós…
E regresso ao ecrã… qual será o próximo progresso? Alguém dispara na direção da câmara, do outro lado do ecrã – o lado de dentro da televisão, do computador ou do smartphone – e eu morro trespassado por uma bala… ainda a tempo de lamentar o ecrã estilhaçado?