O alerta foi deixado por Catarina Dâmaso Cota, numa conferência sobre “As novas drogas e o impacto na família” proovida pelo Movimento dos Cursilhos de Cristandade no passado fim-de-semana
O aumento do consumo de drogas sintéticas, feitas em “laboratórios caseiros” está a aumentar a dependência associada a surtos psicóticos, agressividade e comportamentos disruptivos que alteram a estrutura familiar, é a opinião de Catarina Dâmaso Cota, psicóloga clínica e oradora na “escola” promovida pelo Movimento Cursilhos de Cristandade, este fim-de-semana, no Centro Pastoral Beato João Baptista Machado, em Angra.
“O consumo de novas drogas é crescente; hoje há muitos laboratórios caseiros que constituem um desafio para nós pois as substâncias que são consumidas são totalmente novas, feitas de misturas relativamente às quais não há substituição prescrita” afirma a especialista numa entrevista ao Programa de Rádio Igreja Açores.
“É tudo novo e nós temos de ir por tentativa e erro. A base é feita a partir de substancias vendidas sem receita médica a que se acrescenta, entre outros, soda caustica, gasolina, ácido sulfúrico, ingredientes altamente tóxicos e destrutivos e quando nos pedem ajuda de forma voluntária ou são encaminhados judicialmente para nós, sabem que têm um problema mas desconhecem a sua gravidade”, esclarece ainda a psicóloga que trabalho no projecto `Percursos´.
Catarina Dâmaso Cota sublinha o impacto que estes novos consumos estão a ter na família, que se vê a braços com uma nova realidade para a qual não há respostas imediatas.
A psicóloga insiste na necessidade de se tratar este tema sem tabus, e “quanto mais cedo melhor”.
“Não há uma grande abertura e comunicação dentro das famílias e os filhos e os pais não falam sobre estes temas. Por isso, quanto mais cedo se abordar esta temática melhor; não pode ser um tabu, não há receitas idênticas mas a informação é importante, não criar tabus é fundamental: ensinar a dizer não, a aceitar os filhos a gostar de si próprios sem necessitarem da aprovação do grupo para garantir a sua auto-estima, etc” são algumas dicas deixadas. A técnica chama, ainda a atenção para alguns alertas de mudança comportamental que exigem atuação: “mudanças drásticas de comportamento, faltas à escola, desistência ou desinteresse pelas atividades extra curriculares, deixar de comer, esconder a mochila ou telemóvel, mudança repentina de amigos…”.
A pandemia e o confinamento alteraram o padrão de consumo e , sobretudo a forma como se produzem estas substâncias, com consequências ainda mais gravosas na saúde dos indivíduos.
“Muitas famílias com pouca resposta. Os jovens ficam dias inteiros sem dormir, aumentam a sua agressividade, começam os pequenos roubos, conflitos. Temos muitas famílias com este panorama muito implantado e a desestruturar-se”, adianta.
Mais de um terço das novas substâncias psicotrópicas apreendidas em 2021 em Portugal foram recolhidas nos Açores, onde já foram registadas substâncias “nunca vistas” na Europa, revelou a Polícia Judiciária em 2022.
O número de consumidores destas drogas na região não está contabilizado, mas, em março de 2023, estavam 937 utentes em programas de substituição opiácea e “muitos deles paralelamente consomem drogas sintéticas”, disse à Agência Lusa a secretária regional da Saúde, Mónica Seidi.
Um estudo da associação Novo Dia relativo em 2020 identificou 493 sem-abrigo nos Açores e “uma maior proporção de sem-abrigo por mil habitantes (2%)” do que no continente (0,84%).
Nos últimos três anos, “foi apreendido um conjunto superior a 53 mil doses de substâncias sintéticas para consumo” na região e que foram importadas.
Já em 2023, foi também apreendida uma quantidade muito significativa de metanfetaminas, perto de 20 mil doses, uma droga “sintética ultrapotente que também é comercializada na região”.