O Papa Francisco encerrou no sábado os trabalhos da terceira assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos com um discurso em que alertou contra atitudes de “rigorismo ou de facilitismo” na ação da Igreja
“A Igreja tem as portas escancaradas para receber os necessitados, os arrependidos e não só os justos ou os que pensam que são perfeitos. A Igreja não se envergonha do irmão caído e não finge que não o vê, pelo contrário, sente-se levada e quase obrigada a levantá-lo de novo”.
A isto se chama misericórdia, palavra chave para os cristãos.
O Papa, ao longo de 20 meses de pontificado, não hesitou uma só vez em repeti-la. E, em testemunha-la quando, por exemplo, no inicio de outubro, na véspera do Sínodo, em Roma, de entre os 20 matrimónios que celebrou um deles foi o de uma mãe solteira e de um homem divorciado que tinha conseguido a nulidade do primeiro casamento.
No final dos trabalhos do Sínodo, o Papa admitiu que “houve tentações” e alguma “rigidez hostil” por parte de quem “se fecha no que está escrito” em vez de se “deixar surpreender por Deus”.
Mas também se insurgiu contra aqueles que em nome de uma “misericórdia enganadora enfaixam as feridas antes de as tratar e medicar”.
Conhecedor da igreja local, onde cresceu e se fez pastor, o Papa pediu que a igreja não transforme “o pão em pedra” para atirar “contra pecadores, fracos e doentes” e alertou para a tentação de “descer da cruz para contentar as pessoas” em vez de “purificar o espírito mundano”.
Entre conservadores e progressistas vai um enorme caminho de sentido único, sem lugar para inversão de marcha, onde o Papa Francisco caminha com um imenso à vontade.
O Sínodo teve como ponto essencial a valorização da família e a promoção de um debate aberto sobre como atende-la quando surgem dificuldades. Mesmo, quando a desagregação é irreversível, o que deve a igreja fazer para tentar a reconciliação e equacionar o acesso a novos sacramentos.
O debate decorreu sem colocar nunca em causa as verdades fundamentais do sacramento do Matrimónio: indissolubilidade, unidade, fidelidade e abertura à vida. Nem poderia ser de outra forma!
A história não se muda de um momento para o outro.
Mas, Francisco iniciou uma mudança que ao contrário da máxima do Príncipe de Salina, dificilmente deixará alguma coisa como está.
A começar pela imagem de uma igreja plural, que se interroga sobre si própria e sobre a sua missão… uma igreja que apesar das resistências não utiliza só pontos finais.