“A invasão de um país inocente é um crime contra a humanidade que não pode ser tolerado por uma sociedade com valores cristãos”
O assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz afirma que as medidas sancionatórias contra a Rússia são insuficientes para travar Putin e quem vai acabar por sofrer é o povo russo para além da Ucrânia que está a ser vítima de “um crime hediondo”.
“O que se passa agora é o mesmo que se passou durante a Guerra Fria, em que Estaline foi comendo a Europa até à Alemanha; o mundo ocidental não interveio por causa da ameaça da Rússia, que era temida pelo seu poder nuclear. Vladimir Putin não vai parar na Ucrânia; ele é a reencarnação do sonho da grande Rússia, que vem do tempo dos czares e está impregnado no sangue dos eslavos” afirma o padre José Júlio Rocha em declarações ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo, a propósito da escalada de guerra no leste da Europa, depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, na madrugada de quinta-feira.
“Estamos diante de mais um crime contra a humanidade. Esta guerra é injusta e condenável, porque a invasão de um país inocente é um crime contra a humanidade” refere o sacerdote fazendo eco dos sucessivos apelos do mundo cristão para que cesse a guerra.
“O cristão acredita na oração e apesar das guerras Deus está do lado da verdade, que é sempre a primeira vítima”.
“Para além da oração, é muito difícil enfrentar o que se está a passar . Esperamos que a verdade e a paz sejam repostas e uma certa normalidade regresse” acrescenta o padre José Júlio Rocha.
“Apelo a que todos rezemos pela paz e façamos tudo pela paz: cada um pode fazer sempre alguma coisa como escrever, acolher as vítimas da guerra- o povo ucraniano-. As sanções económicas de pouco ou nada servem; apenas farão o povo sofrer mas Putin continuará a ter dinheiro para financiar o seu poder” esclarece ainda o assistente da Comissão Diocesana Justiça e Paz.
“A real politique assenta numa sede de poder que não é cristã; nada disto que se está a passar na Ucrânia é cristão” salienta apelando a que “ sejamos uma força de consciência no mundo. A palavra também é forte” denota o sacerdote alertando para o perigo dos valores ocidentais fundados no cristianismo se estarem a perder.
A geopolítica, insiste, “não é ética e a moral é secundária; por isso, qualquer cristão tem de se revoltar contra este estado de coisas”, conclui.
Esta sexta-feira a Comissão Nacional Justiça e Paz também lançou um comunicado fazendo eco dos apelos do Secretário Geral das Nações Unidas.
“Perante a tragédia a que assistimos, a Comissão Nacional Justiça e Paz(CNJP) quer ser eco do dramático apelo do secretário-geral das Nações Unidas, ‘em nome da humanidade’, para que o governo russo cesse a agressão militar que iniciou e que atingirá vidas inocentes e provocará outros danos incalculáveis”, refere o texto.
A nota da CNJP, intitulada ‘Nada se perde com a paz, tudo pode ser perdido com a guerra’, assinala que “o que até há algum tempo parecia impensável aconteceu”.
“Assistimos a uma guerra de agressão na Europa e muitos descrevem a atual situação como a pior crise de segurança na Europa desde o final da Segunda Guerra Mundial. Parece que há quem não tenha ainda aprendido as lições da História”, lamenta o organismo católico.
O documento cita as palavras de Pio XII na sua radiomensagem de 24 de agosto de 1939: “É com a força da razão, não com a das armas, que a Justiça progride. E os impérios que não são fundados sobre a Justiça não são abençoados por Deus. A política emancipada da moral atraiçoa aqueles mesmos que a desejam. O perigo é iminente, mas ainda há tempo. Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra”.
“Na verdade, esta guerra vítima em especial o povo ucraniano, mas com ela todos perderão, até os que não estão diretamente envolvidos no conflito”.
A CNJP apela a todos os atores políticos para que não deixem de tentar vias diplomáticas que “permitam uma solução pacífica do conflito, no respeito do direito internacional”.
A diocese de Angra seguirá o apelo do Papa Francisco para que na quarta-feira de cinzas, dia 2 de março, se faça um dia de jejum e de oração pela Paz na Ucrânia.