A Assembleia da República aprovou hoje, na generalidade, os cinco projetos de lei – BE, PS, PAN, PEV e Iniciativa Liberal – que preveem a legalização da eutanásia em Portugal, com uma votação nominal de 222 deputados presentes no Parlamento dos 230 eleitos.
Para o cardeal-patriarca de Lisboa, afirmar a vida “no seu todo” é “uma insistência” e uma convicção que “permanece independentemente do que possa acontecer legislativamente” e implica todos “como sociedade, crentes e não crentes”.
“Não basta dizer, como dizemos e insistimos porque estamos convictos disso, que vida tem de ser contemplada no seu todo. Porque se começamos a fazer exceções, mesmo que sejam a pedido, a vida não se aguenta na sua inteireza”, afirmou esta tarde D. Manuel Clemente, realçando que, como sociedade, é preciso estar “mais presentes”.
Para o cardeal-patriarca de Lisboa, “aquilo que importa enquanto Igreja, e importa a muitas outras forças da sociedade civil, a maior parte delas nem são propriamente presenças religiosas, são profissionais e de outras áreas, e até inter-religiosas, é que a vida seja devidamente contemplada em todo o arco existencial”.
D. Manuel Clemente reafirmou o apelo que tem feito aos políticos de que “esta é uma frente comum, é uma frente humana, essencial” e não se pode “deixar ninguém sozinho ao longo da sua vida”, sobretudo quando mais precisa.
“Dizem-nos as pessoas, os clínicos, os voluntários que estão perto das pessoas que sofrem e que as acompanham que, em geral, não querem partir porque se sentem acompanhadas. A convivência é que é a vida”, acrescentou no Hospital D. Estefânia, onde presidiu à Missa que assinalou os 100 anos da morte de Santa Jacinta, pastorinha de Fátima, que faleceu nesta unidade de saúde pediátrica a 20 de fevereiro de 1920.
O cardeal-patriarca de Lisboa lembrou que como sociedade que “cresce em longevidade”, onde “a pirâmide etária neste momento está invertida, com muito mais gente da meia-idade para cima” é necessário “outro cuidado à vida na sua plenitude”.
“É isto que queremos e acima de tudo queremos fazer para não deixar ninguém sozinho com o seu sofrimento físico ou psíquico, seja de que qualidade for. Mas tem de ser a sociedade toda, tem de ser o Estado, como sociedade organizada, têm de ser as pessoas, os cidadãos, numa verdadeira cidadania solidária, tem de ser algo completo. Não podemos deixar isto a especialistas”, acrescentou o também presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
Reagindo também à aprovação pelos deputados dos cinco projetos de lei – BE, PS, PAN, PEV e Iniciativa Liberal – que visam a legalização da eutanásia em Portugal e depois de conhecidos os resultados, o arcebispo de Braga escreveu na sua conta na rede social Twitter que sente uma “tristeza de morte”.
“Vamos continuar o caminho. Aos que estiveram junto à Assembleia a manifestarem-se quero expressar a minha gratidão como cidadão. De modo particular aos mais jovens. Hoje, de frente para o Parlamento, vi um futuro luminoso para #Portugal”, acrescentou D. Jorge Ortiga, num segundo tweet.
Em comunicado enviado à Agência ECCLESIA, a Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) afirmou que a decisão parlamentar fica “na história do país como um dia negro para a dignidade dos portugueses” e marca um “retrocesso civilizacional”.
“A AMCP apela ao Senhor Presidente da República que faça uso do seu poder de veto”, acrescenta o comunicado.
Os cinco projetos vão agora ser analisados na respetiva comissão parlamentar, depois segue-se a votação final e é enviado para apreciação do Presidente da República.
O movimento “#simavida” quer apresentar ao Parlamento uma Iniciativa Popular de Referendo nacional sobre “a (des)penalização da morte a pedido” e está a promover uma recolha de assinaturas no âmbito do debate sobre a eutanásia.
(Com Ecclesia)