Bispo de Angra encerrou as VI Jornadas de Teologia este sábado, marcado ainda pela conferência do teólogo pastoralista, Paolo Asolan, sobre a piedade popular como forma de evangelização
A Igreja precisa de pessoas boas mas hoje o grande desafio é construir “comunidades vivas”, afirmou esta manhã o bispo de Angra na sessão de encerramento das VI Jornadas de Teologia promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra, com o tema “A Igreja nos Açores a caminho dos 500 anos”.
“As nossas estruturas dedutivas estão gastas, seguravam o esqueleto cristão de uma Igreja de cristandade (…) hoje precisamos de fazer surgir vida comunitária, não só pessoas boas, mas pessoas que caminham juntas, que se amam e que fazem e pensam a Igreja juntas”, disse D. Armando Esteves Domingues ao salientar que o “caminho já é meta”, a propósito dos apelos do Papa para o Sínodo da Igreja.
O prelado desafiou os participantes a refletirem sobre a “tentação da completude”, própria de uma “estrutura vertical” e o desejo do caminho, lendo e interpretando os sinais dos tempos.
“Não é fácil esta última opção; porventura até é muito difícil”, referiu o bispo da diocese insular salientando, contudo, “que pode ser a única via” de uma Igreja sinodal, “onde todos dialogam”.
“É mais fácil ser-se orientativo” disse esclarecendo que “uma estrutura verticalista mais facilmente educa uns quantos a mandar mas muito poucos a ser; educa poucos a ter responsabilidade e muitos a sentirem-se marginalmente envolvidos, mas educa todos a ignorar aquilo que o outro tenta dizer”.
“Pensar a Igreja dos Açores a caminho, que não esquece a sua história, e os homens que construíram esta igreja, mas que não acabou e que é capaz de refletir o que virá é muito desafiante”, enfatizou D. Armando Esteves Domingues na sua alocução, durante a qual valorizou a necessidade de “formação permanente transversal” ao clero e aos leigos e a “necessidade de criação de equipas multidisciplinares” que possam “ser capazes de olhar para o Povo de Deus”.
“Que esta forma de estar seja a comunhão” pois “a forma, hoje, também já é Teologia Pastoral e o estilo é conteúdo” concluiu.
Antes Eduardo Ferraz da Rosa proferiu uma conferência sobre “Cristianismo, razão e crença: a filosofia na teologia e na pastoral da Fé” e Paolo Asolan, que já ontem tinha sido o orador principal do dia, dissertou sobre a “A força evangelizadora da Piedade Popular”, uma espécie “Cristianismo encarnado”, como recordou citando Paulo VI.
“A piedade popular é a forma correta pela qual a realidade cristã se encarna na cultura de um povo; é a alma de um povo que aflora as devoções populares” afirmou salientando que é através da Piedade popular que se afirma também a consciência pastoral da Igreja”. E, embora o clima cultural contemporâneo “desconstrua” parte desta singularidade ritual, a Igreja não pode viver sem ela.
O teólogo pastoralista italiano, professor na Universidade Lateranense, em Roma, refletiu sobre o papel dos santuários, como lugares propícios à nova evangelização e alertou para o perigo da experiência do santuário pode ficar-se apenas “por um mero consolo sem conversão”.
“Os crentes humildes e sensíveis merecem o nosso respeito, que compartilhemos com eles e os ajudemos a buscar o sentido das coisas. Só assim os santuários serão lugares de evangelização” disse ainda.
As jornadas de teologia este ano decorreram em dois momentos distintos: a 2 e 3 de março, centradas na problemática dos arquivos e da sua importância para a realização do estudo da história religiosa dos Açores, no âmbito das comemorações dos 500 anos da diocese de Angra, que se completam em 2034 e ontem e hoje, no discernimento sobre o que será a Igreja no futuro a partir da realidade sinodal.
“Urge que se faça um percurso histórico rigoroso e realista do que foi e é a Igreja no arquipélago”, enfatizou, salientando que é importante olhar para o passado para “encorajar o futuro e encontrar a forma mais adequada de ser Igreja no presente e identificar uma pastoral para o homem de hoje”, disse o reitor, padre Hélder Miranda Alexandre.