Rosalina Grabriel reflete sobre a nova exortação do papa Laudate Deum
As mudanças em matéria ambiental, climática ou comportamental não se fazem por decreto e cada pessoa deve ser “fermento” na família, na comunidade, na sociedade em geral, procurando respostas “não numa perspetiva de luta mas de trabalho” conjunto e essa “é uma ideia” que está expressa na nova exortação do papa Francisco- Laudate Deum- que Rosalina Gabriel, professor associada da Universidade dos Açores destaca deste novo documento do magistério.
“Um dos aspetos que o papa Francisco alerta é chamar a uma consciência coletiva de que as mudanças não se fazem por decreto; as coisas têm que acontecer e nós como cristãos devemos ser um pouco de fermento na massa, conversar com os pais, filhos, netos, envolvendo toda a comunidade, não numa ideia de luta mas de procura de respostas aos problemas ciom que nos deparamos”, afirma a investigadora numa entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo no Rádio Cliube de Angra e na Antena 1 Açores, depois do meio-dia.
“O apelo da Laudato Si, em 2015, já era um apelo a que cuidássemos da casa comum e apesar do desalento do papa diante situação atual que não andou tão depressa quanto ele e nós gostaríamos, ele próprio reconhece que há muita coisa que já foi feita, mas temos de acelerar para trazer os níveis de alteração dos ecossistemas para valores mais razoáveis”, afirma a investigadora, que atua nas áreas de Ciências Naturais com ênfase em Ciências Biológicas e Ciências Sociais com ênfase em Ciências da Educação, com artigos publicados e diversas participações em congressos, livros e simposios.
“Os problemas não são só de clima: a pobreza, a diferença entre as pessoas, a exploração… Cada pessoa deve fazer o que sente que é prioritário: cuidar dos migrantes, ultrapassar as injustiças sociais, plantar coisas mais sustentáveis… cada um tem de fazer a sua parte” afirma Rosalina Gabriel a partir do texto do Papa, publicado no passado dia 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis.
“A formação ética é fundamental desde os tecnocratas mais empedernidos até aos jovens. O papa quando fala de ambiente fala-nos de algo ainda mais profundo: qual é o sentido da minha vida, o sentido do meu trabalho e do meu compromisso e todos procuramos sentido para a vida”, acrescenta destacando que as perguntas são dirigidas a cada homem e a cada mulher de boa vontade, mas “há matérias” onde a boa vontade individual “não chega”.
A investigadora lembra que há uma consciência cada vez mais esclarecida de que fazemos parte da Casa Comum e que integramos a natureza tal como ela nos integra a nós e o que seria “desejável” é que “conseguíssemos agir em função desta realidade”.
“Nós não conseguimos viver sem a natureza: nós vivemos na natureza, modificamo-la muito, mas nem tudo é desastre. Uma cidade bem organizada, com espaços verdes, as pessoas podem viver felizes e esse é o objetivo” refere Rosalina Gabriel que salienta o facto desta exortação ter sido fundamentada em documentos cientficos “muito credíveis”.
Por outro lado, esta exortação faz um apelo muito concreto à união: de indivíduos e de políticas.
“Cada um de nós que lê, que escreve, que pensa deve pensar nas consequências dos seus comportamentos ou da sua omissão. Muitas das alterações, que são necessárias, exigem mais do que um esforço pessoal; exigem acordos políticos, que têm de ser assinados e revistos ” afirma.
O que quer dizer? Que “nesta luta pelo planeta há lugar para o desafio individual, familiar e comunitário e há lugar para trazermos estes assuntos à agenda mediática e encontrar respostas coletivas”.
A exortação ‘Laudate Deum’ (Louvai a Deus), sobre o tema da ecologia integral, visa dar continuidade à reflexão da encíclica ‘Laudato Si’ (2015), e foi publicada na festa de São Francisco de Assis, santo que inspira o nome do novo documento.
A entrevista de Rosalina Grabriel vai para o ar este domingo depois do meio-dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.