As crianças e os «trabalhos de casa»

Por Renato Moura

Os leigos numa matéria não podem teorizar sobre ela, mas têm o dever de reflectir e lançar dúvidas e apreensões, que mais não seja para provocar reflexão e esclarecimento.

Faz-me muita confusão que as crianças com 6 ou 7 anos venham das escolas com uma quantidade avultada de “trabalhos de casa” para apresentar no dia seguinte e que até mesmo tenham de os fazer durante o fim-de-semana e nas férias escolares.

Penso que os trabalhos de casa levantam uma série de questões. Há meios onde pais e crianças perdem imenso tempo nos transportes e é curto o período em que estão em casa. Os pais têm de dividir o tempo por imensas tarefas domésticas indispensáveis, sobrando pouco para auxiliarem os filhos na realização dos ditos trabalhos. Penso que brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças e que é péssimo se as crianças não tiverem tempo, perseguidas pelo dever de repetirem a escola em casa.

Se se acreditar que os trabalhos de casa são indispensáveis para o desenvolvimento das crianças, então corre-se o risco de os filhos de pais menos instruídos ficarem para trás, tal como os seus pais, pois que muitos destes não estão à altura de poderem ajudar as crianças, visto que há trabalhos que não são fáceis, considerando até que os programas escolares entretanto mudaram muito.

Sobre a mudança de programas, seja a que nível for, não há razão para as não aceitar se elas contribuíssem para os resultados, ou seja se se percebesse, que não parece ser o caso, que os alunos ficam melhor preparados para prosseguir estudos e para enfrentar as situações práticas da vida do dia a dia, ou se pelo menos ficassem no presente mais capazes do que no passado, para escrever melhor e para fazer as operações de matemática essenciais nas situações correntes com que se deparam na vida.

A propósito vi recentemente publicada uma notícia cujo título era “Mais trabalhos de casa não significam maior sucesso escolar”, tem a ver com o projecto aQeduto, que trabalha temas de avaliação, qualidade e equidade em educação e resulta de uma parceria entre o CNE e a Fundação Francisco Manuel dos Santos, tendo por base dados do relatório PISA da OCDE.

É impossível neste espaço referir sequer os dados e conclusões mais importantes dos muito países analisados.

Da notícia respiga-se, só para interessar: “o estatuto socioeconómico e cultural dos alunos continua a ser determinante para os seus resultados em países como Portugal, …” e “a eficácia e a autoconfiança dos alunos tem um alto poder determinante na probabilidade de sucesso”.

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