Pelo Pe. Hélder Miranda Alexandre
As árvores não fazem barulho quando crescem. Assombra-me a sua magnificência e não sei contar os anos da sua existência. Já estavam ali quando nasci e perdurarão para além da minha morte. Já fiz a experiência de abraçar uma enorme. Não consegui! Fiquei radiante por isso mesmo. Não sei quanto media. Pensei nas tempestades que enfrentou, no sol que a aqueceu, na história que por ela passou… Ninguém a vê crescer, mas faz sombra e olha serenamente do alto para estas pequenas criaturas agitadas.
No dia 15 de Agosto, uma enorme caiu no Monte, na Madeira, matando treze pessoas e ferindo cerca de 49. Não devia ter acontecido, e todos nos devemos lamentar do sucedido! Recentemente, uma “outra” caiu. Foi notícia e tornou-se fonte de comentários, acusações, julgamentos em praça pública. Porque caiu feriu(-se) e fez barulho. Mas todos se esquecem do homem que é e o que tem feito!
Algumas caiem e por isso são notícia, mas há muitas outras árvores que crescem no silêncio, como o caso do Padre José de Jesus, um sacerdote chinês, fiel à Igreja Católica, que deu o seu testemunho num programa. Durante a entrevista, o seu rosto ficou oculto, assim como a sua identidade e residência. A Igreja Católica fiel a Roma é perseguida pelo governo chinês, que permite a liberdade de culto apenas às pessoas que aderem à Igreja Patriótica.
De acordo com seu relato, a sua família sempre foi católica e recebeu a fé dos seus pais. Isso obrigou-os a viver separados por algum tempo. “Foi uma prova de fé, porque quando se é criança não se entende por que, por ser católico, tem de se viver com menos comida, separado dos seus pais”, explica e sublinha que também tem um irmão sacerdote.
Pe. José assegura que a fé foi mantida graças à “Igreja doméstica”, na qual as famílias rezavam as laudes ou as vésperas escondidas, mas também graças ao terço.
“Há bispos que estão desaparecidos e outros 30 bispos da Igreja clandestina que não são reconhecidos pelo Estado e, por isso, não podem exercer o seu ministério livremente. Estão sob prisão domiciliar e controlada, as suas visitas, os seus encontros e os temas de conversas são vigiados. As ordenações sacerdotais ocorrem clandestinamente, sem que ninguém perceba”, indica.
Nesse sentido, o Pe. José recorda como o pároco da região onde vivia estava encarregado de 60 aldeias, celebrava cinco Missas nas maiores e se deslocava de bicicleta, “é um exemplo de fidelidade a Cristo e à Igreja, porque Ele não quis fazer parte da igreja oficial chinesa e isso fez com que tivesse que passar algum tempo na prisão ou na prisão domiciliar. Apesar disso, nunca considerou uma dificuldade. Se o Senhor lhe enviasse, ele aceitava. Agora que tem mais de 80 anos, levanta-se às 3h30 para rezar e celebrar duas Missas”.
“Sua vida exemplar foi decisiva para que eu encontrasse a minha vocação. Ele é um sacerdote para todos, com uma dedicação exemplar”. Relata ainda como descobriu a sua vocação aos 15 anos: “Pensava que, na China, há muitas pessoas que não conhecem Cristo e a Igreja Católica, porque os cristãos somos uma minoria. Por isso, pensei que quando terminasse meus estudos iria ao seminário e seria sacerdote. Naquele momento, mudei a minha vida, porque vi o que o Senhor queria para mim”.
E assim crescem silenciosamente a maioria das árvores da nossa Igreja, sem que se sinta a sua vitalidade. Não fazem barulho e nenhuma delas é anónima! “A semente germina e cresce e torna-se a maior das árvores do jardim”.