As artes, o belo e a religião em conferência da Igreja de São José

Iniciativa no âmbito das comemorações dos 500 anos da fundação do Convento de São Francisco realiza-se no próximo dia 28

 

Foto: Igreja Açores/PCSJ30

Anísio Franco, Subdirector do Museu Nacional de Arte Antiga e Maria do Carmo Lino, Técnica do Museu de São Roque, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa foram os oradores da conferência “As artes, o belo e a religião”, que se realizou na Igreja de São José em Ponta Delgada.

A iniciativa inseriu-se no âmbito das comemorações dos 500 anos da fundação do Convento de São Francisco.

Anísio Franco propôs a realização de uma visita guiada pela Igreja de São José desenvolvendo um olhar crítico pelas esculturas e pelos retábulos que foram sendo construídos a partir da ermida primitiva.

“Esta igreja cresceu muito devido aos sepultamentos e donativos que foram chegando” referiu Anísio Franco destacando que a Igreja cresceu e foi fundada por frades pobres mas “por via desses pedidos de sepultamentos” cresceu muito depressa, tendo sido feitos investimentos avultados. Um dos pontos altos de “apetrechamento” desta Igreja foi a chegada do órgão em 1797, da autoria de Joaquim Fortunado, e que é porventura “o órgão mais esplendoroso de Ponta Delgada”.

O investigador e museólogo destaca a pintura sobre madeira de cedro da imagem de Nossa Senhora da Conceição, do século XVI, como sendo um dos maiores e mais antigos tesouros desta igreja- uma pintura que está a ser intervencionada por Paulo Brasil- , mas também o retábulo mor ou a estatuária desta Igreja, desde a Imagem da Imaculada Conceição, “provavelmente do laboratório de Joaquim Machado de Castro”,  que permanece como orago principal à imagem de São José, que se encontra lateralizada, numa posição inferior, mas mais perto da comunidade “como convém”, referiu.

Ambas as imagens serão dos finais do século XVII ou início do século XVIII, afirmou o investigador, ressalvando também a importância do Sacrário e da azulejaria existentes na Capela Mor, onde se encontra ainda “um belíssimo Cristo crucificado que, pelas características morfológicas, atribuiria a Manuel Dias, pai dos Cristos”, disse Anísio Franco.

De entre o património “de grande valor artístico e singularidade” existente nesta Igreja foram ainda destacadas as imagens de Santa Rita de Cássia,  Santa Quitéria, as duas imagens de São João Batista e São João Evangelista, “ que pelo classicismo dos seus modelos são de origem espanhola”, assumindo-se como “ as mais qualificadas esculturas do templo”, sem descurar também a importância das de Santo Antão e de Santo Amaro.

A juntar à estatuária destacou igualmente a prataria, a coroa e as alfaias do século XVII,  com particular destaque para a “gigantesca custódia” do século XVIII , o cibório,  e uma naveta Rococó, já da segunda metade de século XVIII , a que se junta uma paramentaria “riquíssima”, destacando “belíssimos paramentos tardios, do final século XIX com alusão ao início do Cristianismo”. Falou também de um conjunto de azulejos, da Fábrica do Rato, em Lisboa, na capela de Nossa Senhora das Dores.

Já a intervenção de Maria do Carmo Lino centrou-se no trabalho desenvolvido pelo Museu de São Roque no estudo, preservação e conservação da Igreja da Misericórdia em Lisboa,  com o tema “Preservar a memória, celebrar a identidade – 120 anos do Museu de São Roque”.

Antes, o coordenador do Conselho Pastoral Paroquial l, Francisco de Almeida Medeiros lembrou que o património artístico museológico é sempre uma obra de Deus.

“Para nós cristãos, há mais para além da materialidade e da beleza artística de cada peça. Há sempre um Caminho e uma Procura por vezes esquecidos; uma tensão latente entre o Indizível, o Inefável, e a expressão artística que é tradução e fórmula significativa do Mistério” afirmou.

“A Arte e o Belo são este abeirar da experiência da Graça, do Absoluto. Um exercício não somente de Crer, mas Experimentar e fazer os outros Experimentar a possibilidade de Deus. Este convento é um tesouro vivo: um verdadeiro ponto de encontro entre o Acreditar e a possibilidade da experiência” disse ainda.

As duas  conferências, como já vem sendo hábito, foram precedidas de um momento musical pelo Coral de São José e pela organista Isabel Albergaria Sousa.

A celebração dos 500 anos da fundação do convento de São Francisco insere-se na comemoração dos 500 anos da Diocese de Angra.

As comemorações têm o Alto Patrocínio de Sua Excelência, do Presidente da República e do Presidente do Governo Regional dos Açores, sendo a Comissão de Honra presidida pelo Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues.

(Esta notícia foi atualizada às 21h00 de hoje)

 

 

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