Sacerdote presidiu à Missa da Festa do Senhor da Pedra, uma das devoções mais importantes da ilha de São Miguel e dos micaelenses que residem na diáspora
Este domingo os caminhos da maior ilha do arquipélago convergem para Vila Franca do Campo para celebrar a festa do Senhor da Pedra, uma devoção que está presente no coração de cada vilafranquense seja ou não residente na ilha.
“Nele sentimos e refletimos que o sentimento do povo açoriano é genuíno e o povo de Vila Franca sente, vive e ama o Senhor”, afirmou o padre José Borges.
“A imagem do Bom Jesus, do Senhor da Pedra, não é um ídolo que se adora ou uma imagem que se venera” mas a Imagem que lembra “que há um salvador”, afirmou o sacerdote na homilia da Missa solene da festa que precede sempre a procissão que se realiza na tarde de domingo.
Quando se olha para “esta imagem”, a representação do Ecce Homo, “temos a certeza que Ele nos compreende porque Ele encarnou as dores do mundo”, disse ainda.
O sacerdote, que é o ouvidor da Vila Franca do Campo e pároco da Matriz de São Miguel Arcanjo, igreja onde decorrem as festas pela proximidade à Igreja da Misericórdia que é pequena demais para acolher o elevado número de fieis, fez a sua reflexão a partir de três questões: “teremos razões para acreditar na sabedoria de Deus, na bondade dos homens e das mulheres e no perdão daqueles que dizem acreditar?”. E em jeito de “bilhete que se deixa aos pés do Senhor Pedra”, procurou responder a partir do sofrimento de Jesus, sem deixar de criticar a indiferença estimulada pela vida contemporânea em relação a Deus.
“Deus parece já não estar neste mundo, foi proscrito. Há uma indiferença marcada dos que não se comprometem com nada e até dos próprios crentes que foram baptizados pela indiferença”, afirmou para sublinhar que a humanidade ao buscar a salvação tem de ser capaz de reconhecer que há um salvador.
“Deus ultrapassa os nossos esquemas mentais, não se esgota nas nossas palavras mas estou convicto de que Ele cabe no nosso coração”.
E, mesmo diante do Seu silêncio, “conhece bem as dificuldades, a dor que vai no coração de cada um”, sem “nunca nos abandonar” frisou estabelecendo um paralelismo entre a vida de Jesus e a vida do homem.
“São poucos os que ficam quando as coisas são difíceis; muito poucos. Foi assim com Jesus, é assim com os homens” destacou.
“Compadecermo-nos, servir, combater o mal, suportar as fraquezas com paciência, suportar os que nos assassinaram no seu coração é corresponder ao exemplo de Jesus”.
“Temos inimigos, mas o mais importante é não ser inimigo; há quem nos faça mal mas nós devemos não fazer o mal…” disse ainda recuperando o exemplo de Caim e Abel.
“Este é o verdadeiro Rei que nos convida a ser como Ele”.
“Quando somos artífices da paz, quando amamos, nós somos construtores deste reino que o Senhor nos prometeu”, concluiu.
A festa prossegue de tarde com a Procissão Solene e a recolha da Imagem para a Igreja da Misericórdia depois de ter estado, entre sábado e domingo, à veneração dos fiéis na Igreja Matriz.
O tríduo preparatório foi presidido pelo padre Rui Silva, ouvidor eclesiástico da vizinha ilha de Santa Maria.
As festas em honra do Senhor Bom Jesus da Pedra são, “desde sempre”, organizadas pela Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo e realizam-se no último domingo de agosto, “pelo menos desde 1903, data da autorização do Papa Leão XIII para que estas festividades fossem reconhecidas”.
A Misericórdia da Vila é uma das mais antigas da Diocese de Angra, de 1551 ou 1552, quando se deu a fundação da Confraria da Misericórdia e foi também nessa época que, depois de ter a funcionar o hospital, construiu a sua capela, naquele que é o principal complexo arquitetónico de Vila Franca do Campo – igreja, hospital, consistório e farmácia.