Ouvidoria das capelas organizou sessão de formação sobre violência doméstica e violência no namoro
Qual é o limite da tolerância para uma situação de violência numa relação de intimidade foi a pergunta de partida para uma sessão de sensibilização e partilha sobre violência doméstica e violência no namoro, que decorreu esta tarde no Salão Paroquial de Santo António, promovida pela equipa da Pastoral Familiar da ouvidoria das Capelas, na ilha de São Miguel.
“É importante anunciar o Evangelho mas também é igualmente importante denunciar situações de desigualdade, situações de violência de forma a ir à procura daqueles que estão ao largo do Evangelho” afirmou ao Igreja Açores o ouvidor das Capelas, padre Horácio Dutra.
“Temos que dar voz a estes que andam a vaguear com o olhar perdido na rua da vida e vivem a sua fragilidade no silêncio , porque a Igreja tem de ser Verónica para limpar o rosto dos que fraquejam, Cireneu para ajudar a levantar e Maria dando o colo a quem precisa” justificou ainda metaforicamente o sacerdote, lembrando que é preciso “ler os sinais” e hoje “há muita gente em sofrimento por causa destas temáticas”.
A iniciativa, que se irá repetir em duas outras zonas- São Vicente Ferreira e Fenais da Luz e na zona das Bretanhas, “para apanhar os três pólos da ouvidoria” será, ainda, complementada com mais dois encontros: um sobre a temática das mulheres, para assinalar o Dia Internacional da Mulher, a 8 de março e outra sobre pessoas com deficiência, “um problema que atinge muita gente e para o qual ainda não há uma sensibilização tão generalizada como seria de esperar”, diz ainda o padre Horácio Dutra.
Durante o encontro desta quarta-feira, orientado pela gestora do Gabinete de Apoio à Vítima em São Miguel, Emanuela Braga, foi abordada a questão da tipificação do crime de violência doméstica e incentivada a denúncia.
A psicóloga apresentou as várias situações em que existe violência doméstica e no namoro, tipificando-as no contexto da relação e alertou para os sinais que antecipam um comportamento agressivo ou que pode degenerar em violência séria desde a manipulação, a pressão, a chantagem, a agressividade, o isolamento social, tentação da posse e, no lado da vítima, o medo do abandono, da falta de soluções ou até mesmo crenças religiosas que a mantém na situação de vítima.
“São situações e comportamentos inaceitáveis que não podem ser tolerados” afirmou Emanuela Braga desafiando os presentes, mesmo que não sejam vítimas, a denunciar situações de violência que conheçam.
A APAV nos Açores, em 2023, acompanhou mais de 300 processos de violência tipificada como crime, onde a esmagadora maioria está relacionada com a violência doméstica desenvolvida contra mulheres, na sua relação de intimidade.
É, por isso, “de extrema importância debatermos alguns assuntos; acima de tudo informarmos o que é a violência doméstica, violência em contexto de namoro e assim contribuir para uma maior informação que leve ao reconhecimento destas situações e à sua denuncia, sejam vítimas sejam pessoas próximas das vítimas”, disse ao Sítio Igreja Açores.
“Há claramente um aumento do número de pedidos de apoio à APAV, mas mais do que um aumento do número de crimes ou da criminalidade julgamos que este aumento se deve, sobretudo, a uma maior consciência e consequentemente denuncia”.
Dos mais de 300 processos abertos, a instituição realizou cerca de 1500 atendimentos, “muito mais que no ano anterior”.