Pelo Padre Hélder Miranda Alexandre
Tive a honra de conhecer D. António de Sousa Braga precisamente na sua ordenação episcopal, no dia 30 de Junho de 1996, ainda como seminarista, no primeiro ano de Filosofia no Seminário Maior de Angra. Tínhamos vivido os dias de preparação com muito entusiasmo, esperando com alegria a aurora de um novo tempo na vida diocesana. Nós, os seminaristas, passámos a noite a ajudar a fazer tapetes, desde a Igreja da Misericórdia à Sé de Angra. Recordo ainda no coração os cantares das gentes que vieram das freguesias rurais e as graças de quem se sentia na alegre expetativa. Afinal era obra do Espírito de um pastor vindo de Santo Espírito na Ilha de Santa Maria, nomes que dizem muito às tradições açorianas.
Paulatinamente fui-me apercebendo da personalidade de D. António. “Que nos tornássemos um só” (sint unum é o lema do seu episcopado), um novo estilo de ser pastor. Recordo a sua proximidade na tragédia da Ribeira Quente, em S. Miguel e, em 1998, o seu interesse pelas causas da reconstrução após o sismo da Ilha do Faial. No dia 11 de Dezembro de 1999, no decorrer da minha instituição de leitor na Casa de Saúde do Espírito Santo das Irmãs Hospitaleiras em Angra, caiu sobre nós o terror da queda do avião da SATA no monte da Esperança em S. Jorge. D. António já nem participou no jantar após a missa. Foi dos primeiros a chegar ao lugar da tragédia. Nunca se interessou muito por formalidades, mas por estar com as pessoas. Facilmente se encontrava num arraial entre o povo. “Cheirava as ovelhas” como poucos.
Fui ordenado por ele no dia 1 de Julho de 2001 e colocado em Setembro ao serviço de duas paróquias na Ilha do Faial. Senti nele uma confiança excepcional, uma proximidade de pai. Recordo que, numa das suas visitas pastorais, ficou alojado na casa paroquial onde vivia. Preparei uns cadernos de cânticos para uma celebração, e ainda por acabar deixei as cópias em cima da mesa. Ao regressar os cadernos estavam devidamente dobrados. Tinha sido ele. Aquilo impressionou-me, pelo gesto tão simples e cheio de carinho. Justificou-se dizendo que eu estava mais ocupado do que ele. D. António era assim, esquecia-se de si para se entregar aos outros. Após a sua passagem por esta Igreja Particular tudo se alterou. Nele está uma parte importante da nossa história.
A sua preocupação era a de procurar saber como anunciar o Evangelho que nunca muda a uma sociedade em mudança. O espírito apostólico que deve motivar-nos constantemente. Não faltam vozes velhas do desterro que só apontam as fragilidades da Igreja. Penso que não nos deveríamos preocupar tanto com a descrença ou indiferença, mas em sermos verdadeiramente testemunhas da Ressurreição. O Espírito fará o resto, mas não sem o nosso suor e sangue!
Ao celebrar os cinquenta anos de ordenação sacerdotal envio-lhe um grande abraço, (infelizmente apenas virtual). Ele bem merece a homenagem e a gratidão de toda a Diocese!
Que o Senhor o recompense e o cumule de graças e saúde!
*O padre Hélder Miranda Alexandre é Reitor do Seminário Episcopal de Angra.