Por Renato Moura
Para trás anda o caranguejo; mas é da sua natureza, refastelado sobre essas rochas fustigadas pelo mar.
O afastamento da Ilha das Flores gera desvantagem. A generalidade das pessoas aprendeu que aqui se abatem muitos temporais, mais violentos que nos outros grupos; frequentes ventos ciclónicos com predominância bem conhecida, vagas de muitíssimos metros de altura, excepto se em baía. Quem tinha o dever de nisso atentar, para todas as decisões, não se importou!
As Flores foi outrora uma ilha destacada em progresso por comparação com as ditas pequenas e em alguns aspectos até perante as desenvolvidas. Andou para a frente impulsionada pela instalação de um anexo do Centre d’Essais des Landes. Teve hospital, com sala de operações, cirurgião em permanência, apoio de analista, radiologista, anestesista, parteiras, enfermeiros habilitados. Teve aproveitamento hidroeléctrico, electricidade em toda a ilha minorando-se a afectação pelo vento. Fez-se a ligação por estrada à freguesia maior, a de Ponta Delgada. Também se construiu uma pista de aviação, inicialmente demasiado curta. Ela só chegou à sua dimensão natural máxima num processo de luta política.
A esse propósito importará conhecer o rol de atrasos que um Governo de Mota Amaral foi obrigado a reconhecer relativamente às Flores, num processo inédito, extraordinário, por insistente e comprovada luta de um deputado ainda do partido do Governo: veja-se a Resolução 477/1987, de 31 de Dezembro e aquilo que trouxe às Flores.
Urge ter sempre em conta que a política é uma causa nobre e engenhosa. É feita pela oposição, com críticas firmes, apresentação de ideias e alternativas; obviamente com maior responsabilidade por quem está no poder ou o apoia, nomeadamente os deputados, com arte, inteligência e eficácia, pois continuam tendo o poder e o dever de exigir dos governantes o cumprimento das responsabilidades. Todos e sempre para cumprimento dos princípios e respeito pelos valores.
Não há espaço para aqui contar o processo que antecedeu a localização do porto das Flores. Está nos documentos e nas memórias; e dos eventos históricos nada se pode subtrair. Aconteceu muito tarde. A construção sofreu crises expectáveis, profundas e com enormes custos. Construiu-se e serviu para aquilo que serviu.
Sendo rigorosos, reconhece-se que a Ilha está sem porto. Nisto também andamos para trás!
Honra ao Corvo, por nos socorrer no abastecimento; e aos valentes que o concretizaram. E até quando?! Não se poderá continuar a diminuir o navio… fingindo sobrar cais!