Ainda o sismo de 80 (A propósito do Jubileu da Esperança)

Por Francisco Maduro Dias

Maduro Dias, presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz

Não será este ano, infelizmente, a última vez em que me comentam a falta de um monumento/memorial ao sismo de Janeiro de 1980 e, desta vez, respondi que talvez fosse saudável também passarmos a falar do sismo de Julho de 1998, o que deixou alguns a pensar…

Acrescentam, para justificar o seu entendimento das coisas, o número de mortos, o número de desalojados, o número de edificações arruinadas e destruídas, o famoso e desastroso 7.2 de Richter, porque maior que o do Faial, de 5.8…, e ficam-se pelo desastre, pelas mortes, pelo sofrimento, pelo susto que nunca mais passa nem se esquece, recordando e revisitando, vezes sem conto, essas memórias doloridas.

Começando por tentar colocar o assunto em perspectiva, talvez valha a pena recordar que, segundo quem estuda estas coisas em termos mundiais e arquiva resultados, sismos da magnitude do de 1980 acontecem cerca de 20 em cada ano, em algum lugar do planeta Terra e, com a magnitude do do Faial, serão mais de 1000, por ano, também. Ou seja, existem outras gentes, espalhadas por este mundo, que sentem, um belo dia, o chão a fugir debaixo dos pés, sem gostarem nada do que se está a passar.

Por alguma razão costumamos completar esse olhar digamos, mais científico, com outra escala, a de Mercalli, porque ela se baseia nos efeitos que sentimos, na destruição que vemos, na tragédia que nos rodeia, subitamente.  É uma escala mais “humana”, digamos, que avalia melhor a nossa angústia e dá números e visibilidade ao nosso quase desespero, pela impotência sentida.

Continuo a pensar que, se é verdade que teremos, sempre, de recordar os nossos mortos e os possíveis futuros que se esvaíram, em segundos, diante de nós,  o melhor, o maior, o único monumento, o verdadeiro memorial desse sismo de 80, do de 98, do “Mandado de Deus”, e de todos os outros que Nemésio recorda e as crónicas assinalam, está no acreditar profundo que nos une a todos quando, passados aqueles segundos, segurado o susto pelo pescoço, e engolidas as lágrimas, agarramos na pouca sorte daqueles momentos e a transformamos em reconstrução, em reedificação, em melhorias várias! Porque o caminho faz-se caminhando, segundo nos dizem!

Nesse sentido, o exemplo das diversas reconstruções que povoam o nosso viver e História, é perfeito para o Ano Jubilar ou Ano Santo que agora começa. A reconstrução, na enorme profundidade e abrangência de significados que agrega, mostra que vale a pena ter esperança, sempre, apesar da incerteza enorme que é o viver.

Essa nossa esperança, a que nos faz acreditar que iremos reconstruir, vezes sem conta, a terra onde moramos, para voltar a ter pão e alimento, abrigo e companhia, festas e alegria, partilhas e amizades…, futuros vários, sejam eles quais forem e como forem, mostra bem que se trata de uma postura que não é nem pode ser nem estática nem expectante!

Ter Esperança implica acreditar que algo existe, lá à frente, e que se pode caminhar nessa direcção. Exige, em absoluto, que não se fique à espera, muito menos de braços caídos. Porque as nossas mãos podem!

Foi o que fizemos e é o que sempre tem sido feito, por estas ilhas abaixo, pela nossa gente e por quem partilha estas terras connosco, num sentir colectivo e comunitário, inclusivo, como hoje se diz. Todos!

Tenhamos Esperança e cultivemos a Esperança, activa!

Bom Ano de 2025!

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