Pelo Pe. José Borges*
Com renovada Esperança iniciamos o Tempo do Advento. Oportunidade que a Igreja nos oferece para prepararmos o Natal. Acabar um ano a fim de darmos começo a outro é uma oportunidade excelente de dar graças por tudo aquilo que pudemos viver e que marcou o crescimento dinâmico da nossa fé e amor. De novo, o ritmo do Advento ousa propor a Esperança como pano de fundo desta história que se repete, que não será apenas simples expetativa mas exige compromisso e envolvimento. A Grande Esperança que é Deus, vem no Menino de Belém e suplanta as ‘as pequeninas esperanças’: Enquanto as pequeninas esperanças nos incentivam, a Grande entusiasma-nos. Para nós Jesus Cristo é a Esperança Maior, por isso: ‘ergue a cabeça’; ‘levanta-te, tu podes’; ‘a libertação está próxima.’ Quase sinto Jesus a dizer-nos: “Olha, o melhor ainda virá!”
Neste tempo de ‘speras’ e ‘esperanças’ recorro às comparações brilhantes da namorada e do caçador. A apaixonada recebe uma chamada do seu amado convidando-a para saírem à noite. Ele marca a hora: 19h00 em ponto! Ela animada e feliz, começa a preparar-se cedo, muito cedo! Passa o dia a pensar no convite. Às 16h00 escolhe cuidadosamente a roupa que vai usar. 16h30 prepara o seu banho e veste-se. 17h00 põe o perfume e faz a maquiagem. 18h00 está pronta e linda coloca-se atrás da porta à espera do seu dileto. Esta é uma espera ativa, cheia de esperança. É a esperança cristã. A espera do caçador é passiva. Ele sai muito cedo de casa e esquece-se da lanterna e como a madrugada ainda está escura como breu, dificulta-lhe a visão. Ele senta-se à espera do raiar da manhã, até que venha o novo dia. Há tremenda diferença entre essas esperas!
Os dias correm velozes e tentamos agarrar a vida como se de moer vento se tratasse ou como se de apanhar o ar com as mãos nos ocupássemos. Talvez, por isso, já a meados de novembro se anunciava, pelas ruas e nos comércios, a celebração do Natal, como se fôssemos esquecer essa data tão importante ou deixássemos o Natal sem o seu aniversariante! Também estas quatro semanas de Advento passarão depressa. No entanto, sonho que este tempo possa trazer sabedoria e simplicidade, coragem e sentido para resistir à onda alucinante das coisas inúteis e vestirmo-nos da serena alegria em saborear o melhor que cada dia traz e que em cada dia damos. O Menino Jesus virá e irá encher de futuro o nosso presente! Assim a Esperança ganha corpo em tanta vida que partilhamos. No depender de Deus, o melhor está para vir e nós faremos a nossa parte.
Na Vila-Capital, um pouco por toda a parte, vemos luzes que enfeitam as ruas, as famílias fazem seus presépios e nas igrejas canta-se e reza-se em novenas, primeiro a Maria, Mulher do Advento: a Senhora da Conceição e depois ao Menino Jesus, qual Infante Suavíssimo! Assim vamos celebrando estes dias de alegria e festa, porque efetivamente sentimos, e porque sentir é uma forma de saber, podemos proclamar: ‘Deus está perto de nós e já se sente o pulsar… o coração do Senhor que vem connosco morar…’ (LH) A Alegria teima em nascer. É isso mesmo! Tem que nascer e renascer. Sinto que o sorriso compassivo vai sendo a mão de Deus, neste mundo conturbado, e pode ser mais visível o Seu rosto nos corações humanos, qual terreno sagrado onde florescem as sementes da justiça, da bondade, da beleza, da verdade, do amor e da paz.
Ambiciono que a nota deste Advento seja a Equidade. Tenho descoberto que poderá ser um caminho favorável à Justiça adocicado pela Misericórdia, porque não é possível nem será necessário ser e fazer igual para todos e para cada um. Enquanto uns precisam de pão, outros gritam por perdão; enquanto uns carecem de afetos, outros pedem objetos; enquanto uns requerem dignidade, outros suplicam por verdade… daí que remeto para as mãos responsáveis o dom do discernimento, contribuindo para o mundo novo! Serão estes, aqueles e aquelas, os novos sábios, que nos seus gestos justificam a beleza e a sabedoria, brilhando para sempre porque são os que dão a vida por amor. A não violência vencerá os violentos, porque ensinará a viver na paz e na alegria. Jesus possibilita e capacita os crentes para estas realidades da vida.
Saboreando esta espera, que o Advento semeia, cito um famoso fado de Mariza que é deveras inspirador: “É preciso perder para depois se ganhar / E mesmo sem ver, acreditar. / É a vida que segue e não espera pela gente / Cada passo que demos em frente / Caminhando sem medo de errar. / Creio que a noite sempre se tornará dia / E o brilho que o sol irradia / Há-de sempre me iluminar. // Sei que o melhor de mim está pr’a chegar! / Sei que o melhor de mim está por chegar. / Sei que o melhor de mim está pr’a chegar.” Bem podia ser este Fado o Hino para o nosso Advento, porque o caminho da santidade acontece é neste mundo, com linguagem nova e atualizada. Talvez, nos tempos em que vivemos, a tão pregada e almejada ‘santidade’ não esteja na moda, mas com certeza que quem a deseja e se esforça neste sentido tem muito bom gosto.
Advento é aquilo que tu não tens! Não tens o direito de julgar os outros e te armares em juiz justiceiro que tem nas mãos a nota da vingança. Não podes cair na tentação moralista de apontares o dedo ao próximo pelos seus pecados. Não tens tempo a perder com mesquinharias, desafia-te à excelência de ser para o qual foste criado e abençoado. Se não tens Deus no centro da tua vida e do teu coração, por isso, talvez não consigas ser inteiro e pleno com todas as pessoas e com todas as coisas que te rodeiam. Ser santo é ser são. É ser bondoso. Esta é a norma do coração-cristão. Esta é a medida do coração divino. A Justiça Divina é a Misericórdia e a Salvação. A Justiça é maneira de ser de Deus que vai transformando o mau em bom e o bom em melhor, se possível. A Justiça Divina revela-se na Paixão total e completa de Jesus Cristo pela Humanidade.
A forma de nos manter vigilante é orar. A oração tem o poder de nos levantar, tem a força de abrir nossos olhos, espírito, alma e coração. Ela é o canal que nos põe em ligação com a bondade e com a beleza da Vida Divina derramada em nós. A oração fará com que vejamos com os olhos de Deus tudo aquilo que acontece ou não acontece. Ela retira-nos o medo do coração e põe-nos confiantes porque percebemos que o Senhor vem a cada momento, para nos fazer crescer, amadurecer e nos fazer aproximar Dele. A oração faz-nos acolher os sonhos de Jesus Cristo e nos levará a espaços de liberdade, felicidade, caridade e responsabilidade. Estou convicto que é a oração que liberta os crentes da mentalidade corrupta deste mundo e faz-nos saborear o juízo de Deus sobre a História individual e coletiva e aproxima as pessoas entre si.
Nos seguintes ‘DESEJOS’, deixo os desafios lançados às Comunidades Cristãs da Ouvidoria de Vila Franca do Campo. Lições que saem da ternura do Presépio.
- Que a fé encha o coração de mais homens e mulheres.
- Que a justiça triunfe sobre as desigualdades.
- Que as faces se abram em sorrisos sinceros.
- Que os corações se compadeçam das fragilidades alheias.
- Que os gestos sejam de tolerância e compaixão.
- Que as crianças se encham de bons exemplos.
- Que a pessoa se aceite tal qual é e aceite os outros também.
- Que a Igreja seja mais sinal da comunhão do Deus-connosco.
- Que cada um de nós pratique mais perdão e diálogo.
- Que todos se respeitem e construam um mundo novo.
Votos de um Santo Advento para todos
*Ouvidor Eclesiástico de Vila Franca do Campo