Festa de Santo Amaro é celebrada em várias paróquias da diocese. Na Ribeirinha é uma das principais devoções do santoral
O cónego Hélder Fonseca Mendes chamou a atenção, na sua homilia, dos devotos de Santo Amaro, na Ribeirinha, ilha Terceira, a onde presidiu a esta festa importante da paróquia da ouvidoria de Angra, que a ação transformadora de Deus, expressa em milagres como o das Bodas de Caná, em que Jesus transforma a água em vinho, exige a adesão e o esforço de cada um.
“Os milagres são sinais da ação de Deus, do amor de Deus, mas necessitam o suporte da nossa atenção, da nossa ação, da nossa vida, da nossa disponibilidade” afirmou o Administrador Diocesano na missa solene da festa de Santo Amaro, celebrada na manhã deste domingo na Ribeirinha.
E, prosseguiu: “Maria pôs-se à disposição de Deus e por sua vez diz aos serventes, «fazei o que Jesus vos disser». Estes, por sua vez, puseram-se às ordens de Jesus e água converteu-se em vinho. A lição é que se nos colocamos à disposição de Deus e da sua graça, podemos descobri-Lo em todos os momentos da nossa vida e admirar as maravilhas que faz em nós e por nós”.
O sacerdote interpelou os presentes a questionarem a sua adesão ao projecto de Deus em ordem a um verdadeiro encontro com Ele, com a Sua palavra e com a missão do anúncio.
“Podemos ver a ação de Deus na nossa vida? Estamos à disposição de Deus como Maria e os serventes das mesas? Como respondemos às suas inspirações? Somos sensíveis às necessidades e aos desejos dos outros, como foi Jesus, Maria e os serventes?”, exemplificou em jeito de itinerário para um exame de consciência, sobre a relação de cada um com Deus.
“Não devemos sair daqui sem o compromisso de trabalhar para que da nossa parte não falte a ninguém o vinho do amor, da amizade, da ternura, da não indiferença, da amabilidade, da atenção ao outro, da alegria, da cordialidade, da afabilidade. O milagre é apenas um sinal, pois para «um bom entendedor, meia palavra basta»”, disse.
“A presença de Jesus, quando aceite, pode transformar uma pessoa, um casal, uma família”, concluiu dirigindo-se especialmente às famílias cujo amor esponsal é a melhor tradução do amor de Deus.
“Para aqueles que já celebraram o sacramento do matrimónio ou para os que o vão fazer, é recorrente ouvirmos esta passagem do evangelho de hoje. A resposta de Cristo ao convite dos noivos a ir a este casamento, expressa já o seu «sim» ao amor, à família, à festa, à alegria e ao prazer. Oxalá que os casados de hoje, vendo que o vinho do amor, da paixão ou da ilusão da juventude se está a acabar, possam recorrer a Jesus para que Ele transforme a sua vida num vinho melhor, tal como acontece numas bodas de prata ou de ouro, onde o vinho do casamento já se acabou, mas o vinho mais antigo será do melhor, pois o quanto mais velho é mais caro se torna”, destacou.
A festa de Santo Amaro celebra-se em toda a diocese com particular destaque para as Flores, onde é a maior devoção santoral. Também no Pico esta devoção tem uma grande importância, tal como no concelho das Velas na Ilha de São Jorge, na ermida em Santa Cruz da ilha Graciosa, em Vila Franca do Campo na ilha de São Miguel, em Almagreira na ilha de Santa Maria, na Conceição da Horta, na ilha do Faial, e ainda na paroquial da ilha do Corvo.
Santo Amaro nasceu em Roma e terá morrido por volta do ano 584. Ingressou na ordem beneditina e terá sucedido São Bento no seu governo. Santo Amaro, que queria sair do barulho para rezar, para se encontrar de verdade no silêncio com Deus, consigo próprio e com os irmãos da ordem, cuidando primeiro da vida espiritual e da vida material no que era estritamente necessário, pode ser considerado um ermita. O seu culto chegou até aos Açores praticamente logo após o povoamento destas ilhas, no século XVI. Como todos chegavam pelo mar, o seu culto entra na ilha Terceira por um local conhecido por rocha da Ponta Ruiva, lugar onde hoje é a paróquia da Ribeirinha.