Cónego Hélder Fonseca Mendes presidiu na Sé à primeira missa do ano, no dia em que a Igreja assinala a Paz e a maternidade de Maria
O Administrador Diocesano, cónego Hélder Fonseca Mendes, desafiou esta manhã os diocesanos dos Açores a olharem para o ano novo não apenas numa lógica cronológica de calendário mas como uma oportunidade “de graça, de salvação e de paz” para superar os desafios de 2022.
“Não precisamos de ler os horóscopos para saber alguma coisa acerca do novo ano que agora começa. Sabemos que, sejam quais forem os acontecimentos que se apresentem nos próximos doze meses, não seremos os únicos a enfrentá-los, por habitarmos o mesmo planeta e percorrermos uma história comum” afirmou o moderador da Sé, agora também Administrador Diocesano.
“Prosseguiremos o caminho sustentados pela fé, pelo sentido da presença de Deus no tempo, que não é um desenrolar absurdo e trágico de fatos como se o destino final fosse a destruição e a morte, mas uma sucessão de acontecimentos de salvação”, esclareceu.
A partir da Catedral açoriana, o sacerdote lembrou que a Igreja vive ainda o clima da celebração do Natal, assinalando hoje a solenidade litúrgica de Santa Maria, Mãe de Deus.
“O dia 1 de janeiro aponta em várias direções: é o começo do ano civil, completa-se a oitava de Natal, é o dia em que Jesus foi circuncidado e lhe puseram esse nome, é o dia mundial da paz, e sobretudo é o dia da solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus”, disse.
“Em cada princípio do ano, há a preocupação de ver os dias em que não se trabalha. A boa noticia é que teremos cinquenta e dois domingos em 2022, para celebrar o dia do Senhor Ressuscitado, na alegria, no descanso, na família, com os doentes, os mais velhos e outras ocupações ditas por não úteis, embora de não mera distração” salientou ao desafiar os cristãos açorianos a olhar para o mundo e a agirem nele.
O sacerdote lembrou a tragédia que se abateu sobre a Terceira no dia 1 de janeiro de 1980- O sismo que dizimou Angra e afectou igualmente as ilhas do grupo central, especialmente São Jorge- e referiu-se às noticias que habitualmente chegam neste primeiro dia do ano e que afectam as famílias, nomeadamente o aumento dos preços dos bens essenciais como o pão, os combustíveis, a energia e os transportes.
“São notícias a que nos habituamos e não recebemos de bom grado, sobretudo para quem vive de baixas pensões, do rendimento de inserção social ou do ordenado mínimo regional, em que o aumento dará para cobrir a inflação que se anuncia” disse elogiando, no entanto, outros aumentos que valorizam e dignificam o trabalho.
“Há um aumento de preço que nos parece justo e que não cabe nas más notícias. Refiro-me ao preço do litro de leite pago à produção, aos trabalhadores da agricultura e da lavoura açoriana. Bendito e justo aumento que tardiamente chega para que seja feita justiça a quem trabalha e a quem produz o «ouro» das nossas pastagens”, afirmou.
“Se um dos magos partisse das «ilhas longínquas», como reza o salmo, certamente levaria ao Menino do presépio como oferta preciosa leite dos nossos pastos”, disse ainda.
“Quando não é oferta, o produto deve ser pago a justo preço a quem trabalha, pese embora o fantasma da concorrência europeia que consegue vender leite mais barato do que água, numa rede onde felizmente estamos, como tal mar onde vem parar toda a espécie de peixe”, concluiu.
A propósito do Dia Mundial da Paz, instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978), o cónego Hélder Fonseca Mendes citou a mensagem do Papa para este dia, cujo tema é o ‘Diálogo entre gerações, educação e trabalho: instrumentos para construir uma paz duradoura’, para apelar ao compromisso de todos por esta causa com gestos concretos e uma visão positiva, a partir de três elementos essenciais: educação, trabalho e diálogo entre as gerações.
“São três elementos imprescindíveis para tornar «possível a criação dum pacto social», sem o qual se revela inconsistente todo o projeto de paz”, disse citando o Papa Francisco.
O sacerdote terminou a homilia desejando a todos um bom ano novo, desafiando os presentes a aprender na escola da Maria a “escutar” e a “anunciar” a palavra de Deus.
“Fortalecidos com a certeza na fé em Jesus, somos impelidos como os pastores do evangelho, a anunciar aos irmãos a alegra notícia de que Deus se fez homem para tornar o homem participante da vida divina. O Salvador, nascido de uma mulher, assumiu a nossa humanidade para nos dar a sua glória”, concluiu.
Além do 55º Dia Mundial da Paz a Igreja celebra hoje a maternidade da Mãe de Jesus. O dogma da maternidade divina de Maria (Theótokos) foi definido no Concílio de Éfeso, em 431.
Depois do Natal é também o primeiro dia do ano celebrado nos Açores em sede vacante.
Nas orações dos açorianos está, por isso, essa prece a Maria para que interceda pela vinda de um bispo para a diocese insular.