Administrador Diocesano afirma que espírito e compromisso do Beato João Baptista Machado é exemplo para os cristãos de hoje

Diocese celebra festa do padroeiro, em segunda-feira do Senhor Santo Cristo

Quem experimenta o verdadeiro encontro com Cristo tem que estar disponível para sair a anunciá-lo, disse esta manhã o Administrador Diocesano na Missa a que presidiu no Santuário do Senhor Santo Cristo, no dia em que a Igreja faz memória do Beato João Baptista Machado, padroeiro da diocese de Angra.

“Eis-nos aqui, na 2ª. Feira do Senhor Santo Cristo, a celebrar a solenidade de um jovem mártir açoriano que mais não fez do que seguir radicalmente o Senhor Jesus, no anúncio da salvação a todos os povos, a sofrer a paixão e a morte, com os olhos postos na vida eterna, da comunhão e felicidade com Deus que ninguém apaga”, sublinhou o cónego Hélder Fonseca Mendes.

Dirigindo-se especialmente aos jovens, que a cada dia 23 do mês, em todas as Igrejas JMJ da diocese celebra, tendo a Jornada Mundial da Juventude de Lisboa como mote, o sacerdote lembrou a missão de todos os cristãos, sobretudo os que se encontram com Cristo ressuscitado. Segundo o cónego Hélder Fonseca Mendes o exemplo do Beato João Baptista Machado deve ser uma inspiração para todos quer no seu exemplo de compromisso quer de radicalidade.

“Viemos aqui, Senhor Santo Cristo. E agora? Que queres que eu faça? Decerto, vamos diferentes para casa. O que vimos, o que ouvimos, o que saboreámos, o que sentimos estremece connosco, pela autenticidade das lágrimas, por um cansaço não doentio, por uma festa que não aliena, por um sofrimento que alegra interiormente” afirmou ao destacar que foi o segredo da paixão de Cristo que terá dado alento à vida, missão e morte de João Batista Machado”.

“Ontem, João Batista Machado, hoje, cada um de nós, que se encontrou de Cristo Vivo”, disse.

Este deve ser “o nosso padrão, modelo e referência” para “não nos iludirmos com algum modo fácil ou superficial do seguimento de Jesus, tal como a sua imagem foi despojada de vestes e jóias, mostrando na nudez o que na verdade somos”.

Dirigindo-se particularmente aos jovens, numa celebração que os teve bem presentes, o cónego Hélder Fonseca Mendes pediu-lhes que fossem “testemunhas do que viram exprimindo-o na relação com os outros, “no diálogo” entre gerações- entre pais e filhos, jovens e idosos, na defesa dos mais desprotegidos, pobres e vulneráveis, na defesa da casa comum, na libertação de corações oprimidos, no reencontro do esperança.

“ Levanta-te e testemunha com alegria que Cristo vive! Espalha a sua mensagem de amor e salvação entre os teus contemporâneos, na escola, na universidade, no trabalho, no mundo digital, por todo o lado” disse.

O Beato João Baptista Machado, presbítero, mártir, nasceu em Angra do Heroísmo entre 1580 e 1582 e foi baptizado na Sé.

Reconhecido pela Igreja Universal, e conhecido a nível mundial, a devoção à sua causa foi impulsionada na segunda metade do século XX, com um pedido de canonização entregue em mão a São João Paulo II, quando esteve nos Açores, em 1991 e, desde então destacam-se várias iniciativas que materializam a devoção a este beato por parte dos católicos açorianos.

João Baptista Machado é um dos sete mártires do Japão, juntamente com Ambrósio Fernandes (Porto), Francisco Pacheco (Ponte de Lima), Diogo de Carvalho (Coimbra), Miguel de Carvalho (Braga), Vicente de Carvalho e Domingos Jorge que aguardam a canonização.

Estudou no colégio da Companhia de Jesus de Coimbra, a onde chegou no ano de 1597, com apenas 17 anos de idade. Depois partiu para a Índia em 1601, com outros 15 companheiros jesuítas.

No Oriente continuou a frequentar os estudos dos colégios da Companhia de Jesus, tendo estudado Filosofia em Goa e Teologia em Macau, sendo ordenado sacerdote em Goa.

Partiu como missionário para o Japão em 1609, já quando ordens do imperador japonês determinavam que os missionários cristãos deveriam abandonar o território nipónico.

Depois de estudar a língua japonesa no Colégio Jesuíta de Arima, iniciou as suas tarefas de missionação, acabando por se fixar na cidade de Gotō, no sul do arquipélago japonês.

Resolveu permanecer no Japão após ter recebido em 1614 ordem imperial para abandonar as ilhas. Passou, então, a missionar na clandestinidade, trabalhando, disfarçado, para acudir às necessidades espirituais das comunidades cristãs japonesas existentes no sul do arquipélago. Em Abril de 1617 foi descoberto e preso quando confessava um grupo de cristãos.

Foi levado para a cidade de Omura, nos arredores de Nagasaki, e encarcerado na prisão de Cori, sendo executado por decapitação a 27 de Maio de 1617, no monte Obituri, juntamente com cerca de 100 cristãos de várias congregações.

Por coincidência, aquele dia era o Domingo da Santíssima Trindade, nos seus Açores natais o dia do Segundo Bodo, do ano de 1617.

Com ele foi executado o franciscano português frei Pedro da Assunção. Rezam as crónicas que aceitou com serenidade a morte, considerando-a um martírio. Tinha então 37 anos de idade, estando há 20 anos na Companhia de Jesus, há 16 anos no Oriente e há 8 anos no Japão.

O Papa Pio IX beatificou-o, a 7 de Maio de 1867, juntamente com outros 205 mártires vítimas da mesma perseguição, num grupo que ficou conhecido como os Beatos Mártires do Japão.

Em 1962 foi declarado pelo papa João XXIII protetor especial da Diocese de Angra, sendo 22 de Maio a sua data de veneração. Quando houve em Angra do Heroísmo uma exposição dedicada ao emigrante açoriano, a comissão, presidida por José Agostinho, com o apoio das autoridades eclesiásticas, escolheu João Baptista Machado para patrono dos emigrantes açorianos.

A Junta Geral do Distrito Autónomo de Angra do Heroísmo, na altura presidida por Agnelo Ornelas do Rego, declarou beato João Baptista Machado como patrono do Distrito de Angra e promoveu, durante anos, no dia 22 de Maio, uma sessão solene em sua homenagem. Com a extinção do distrito, tal prática caiu em desuso.

A primeira obra conhecida que biografa João Baptista Machado deve-se ao jesuíta António Francisco Cardim, que louvou João Baptista Machado na sua obra Elogios, e ramalhetes de flores borrifado com o sangue dos mártires da Companhia de Jesus, a quem os tiranos do Império de Japão tiraram as vidas, publicada em 1650.

O tema foi retomado recentemente na obra Mártires do Japão, do arquitecto Eduardo Khol de Carvalho, durante anos Conselheiro Cultural de Portugal no Japão e Professor de Estudos Portugueses na Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto. Para além destes, estão publicados dois livros sobre a sua vida, obra e martírio, para além de variados artigos dispersos.

Além de ter sido declarado Padroeiro principal da Diocese de Angra, a sua imagem está exposta em várias igrejas da diocese e na diáspora açoriana, em esculturas e vitrais.

Dá nome a uma rua na cidade de Angra e a uma «canada» na freguesia da Ribeirinha. Empresta, ainda, o seu nome a um Jardim-de-infância, a uma Escola do 1º Ciclo, um Centro Residencial Juvenil e uma Cooperativa de Consumo. Tem um monumento  estátua numa praça pública da cidade de Angra. A sua vida está representada em peça de teatro e em dança de espada.

Há uma comissão diocesana para a Causa da canonização, estando publicados dois livros sobre a sua vida, obra e martírio, para além de variados artigos dispersos.

 

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