Açores em saída missionária leva seis açorianos até à diocese de Lubango

Projeto solidário em Angola mobiliza três leigas, dois sacerdotes e uma religiosa doroteia da diocese de Angra,  que regressa à casa que ajudou a fundar

“Afinal sempre veio e trouxe visitas. Vieram aquecer-se debaixo do nosso sol”. A frase revela tanto de reserva quanto de apreço pelo facto de Judite Moinheiro, irmã doroteia, atualmente a servir na Salga, em São Miguel, na diocese de Angra, ter cumprido a sua promessa de que um dia voltaria à comunidade que ajudou a fundar, em Angola, sob a égide do projeto MELIKA, um projeto destinado a mulheres e a garantir a sua formação em ordem à autonomia. Primeiro em casa e depois fora dela, dando-lhos instrução e ensinando-lhes o valor da educação e da escolaridade.

Promessas antigas que todos os dias merecem um agradecimento especial por parte destas comunidades locais, de Freixiel, na província de Huila, diocese de Lubango, em Angola, e que conservam “uma hospitalidade nobre” e respeitam valores como a vizinhança, a simpatia e o acolhimento.

“É muito interessante e tocante” refere o Pe. Bruno Rodrigues na breve conversa telefónica com o Sítio Igreja Açores onde apresentou o projecto solidário “Açores em saída missionária” que juntamente com o Pe. Ricardo Pimentel, ouvidor da Povoação, na ilha de São Miguel , três leigas e uma religiosa estão a desenvolver em Angola, entre 8 e 31 de agosto.

Na bagagem levaram uma intenção: construir três fornos de pão porque o “pão é o alimento essencial”. Na fé e na vida.

“O pão é o símbolo do alimento essencial e nós quisemos aqui ensinar como fazemos o nosso pão, que é mais mole que o deles e dentro dos nossos conhecimentos ajudá-los a preservar o sítio onde o podem coser e no final da missa repartir por todas as crianças da escola” disse o sacerdote faialense. Já foram construídos dois fornos e o terceiro está em construção. Ficam junto à casa do catequista que é o grande animador comunitário. O projecto integra 8 escolas onde se ensina a ler e a contar e também se desperta para a fé.

“São pessoas curiosas ávidas de aprender coisas. Na maioria das vezes têm muito pouco mas têm uma sede de saber enorme” refere o Pe. Bruno Rodrigues sublinhando que “está a ser uma experiência muito gratificante para todos”. E todos são os seis missionários que integram a missão, incluindo três leigas: uma professora de São Miguel, Gina Carvalho; uma assistente social também de São Miguel, Cristina Rodrigues e uma contabilista da ilha Terceira, Edite Ormonde.

“O desafio foi lançado pela Irmã Judite e através das redes sociais fomos-nos preparando para esta missão, angariando bens e donativos para levarmos a estas pessoas”, disse ainda o sacerdote.

“Não somos turistas nem meros espetadores. Viemos para por a mão na massa” acrescenta. E fizeram-no literalmente. O pão quente já cheira e aquece o estômago a muitas crianças da escola. Entre as oito escolas do projeto MELIKA (Mulher chegou a tua hora!) há algumas que têm perto de 400 alunos.

“Os pais fazem um enorme esforço para que estas crianças venham à escola mas todos, de uma maneira geral, sabem que é através da instrução que poderão melhorar a vida”. O problema é que “quando são bons já não voltam” e as comunidades ficam depauperadas. Mais ainda do que já estão por causa da pobreza, da falta de condições materiais e, sobretudo de saúde. Falta água, faltam medicamentos, falta desenvolvimento. Daquele que ajuda a construir vidas. Ainda agora, entre maio e julho, morreram muitas crianças por causa da febre amarela.

“Houve pais, com quem já contactámos, que ficaram virados do avesso. Sem filhos e sem dinheiro” adianta o Pe. Bruno Rodrigues.

“Esta é a grande mais valia do projecto MELIKA: faz com que as coisas boas cheguem a todos, sobretudo aos mais frágeis, tanto na lógica do nosso Papa Francisco”, acrescenta.

A ajuda espiritual também é importante. A Eucaristia é celebrada sempre por volta das 6h30 da manhã porque naquelas paragens o dia começa cedo. A paróquia onde estão em Freixiel é a paróquia de Capelongo que dispõe de 33 centros (uma espécie de curatos). Cada aldeia tem uma capela de adobe (uma espécie de argila) o que não é bom na época das chuvas. Talvez por isso  a equipa do Açores em saída missionária já tenha um novo desafio: juntar dinheiro e esforços para um novo projecto que passe pela construção de escolas em cimento, além da água potável.

“Nós que temos tudo precisamos de ver com os nossos olhos como vivem estas pessoas. Nós temos tudo mas eles ensinam-nos todos os dias como é a solidariedade”, sublinha ainda o sacerdote.

As propinas da escola dos filhos são pagas em géneros, porque na maioria das vezes não há dinheiro. Um cabrito, uma galinha, cereais ou fruta podem servir de pagamento. Aliás servem muitas vezes mas é desse serviços que se aprofunda a hospitalidade.

“Faz um bocadinho de impressão como uma zona que até tem recursos endógenos não é mais desenvolvida e as pessoas vivam com tanta dificuldade” lamenta o sacerdote faialense que diz, ainda assim, que está “de alma e coração cheios”.

“Esta é a minha gente”, diz o Pe. Bruno Rodrigues lembrando as sábias palavras de Madre Maria Clara, fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleira da Imaculada Conceição que sempre se colocou debaixo do olhar providencial de Deus para erguer os seus projectos, mesmo debaixo das adversidades.

Os missionários açorianos regressam ao arquipélago no dia 31 de agosto. Na bagagem trarão “uma enorme satisfação e apreço” por estas pessoas, conclui o sacerdote.

(*) – Agradecemos o envio das seguintes imagens ao Pe Bruno Rodrigues

 

 

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