Sé de Angra voltou a ser pequena para acolher peregrinos no adeus final à imagem de Nossa Senhora de Fátima
A igreja catedral dos Açores foi pequena para acolher os inúmeros fieis que se quiseram despedir da Imagem da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, participando na Eucaristia presidida pelo Bispo de Angra que apelou à igreja para se inspirar em Jesus e dar espaço às mulheres.
Durante a homília, D. António de Sousa Braga foi buscar o exemplo de Jesus que diz ser inspirador para a Igreja de hoje.
“Há um grupo de mulheres, que acompanham Jesus e os Apóstolos na pregação do Evangelho, desempenhando um papel de diaconia. Hoje não pode ser diversamente. A Igreja só será Mãe e Esposa, na medida em que garantir uma presença efectiva e comprometida da mulher, com a sua qualificação feminina”, disse D. António de Sousa Braga na Eucaristia a que presidiu este domingo ao final da tarde em Angra.
“Ouso afirmar, depois destes 20 anos de Serviço Episcopal, que o futuro da Igreja, neste mundo conturbado em que vivermos, vai depender muito da presença e acção da mulher, na sua dimensão tipicamente feminina”, adiantou ainda o prelado.
“Deixemos, pois, que a mulher assuma e ocupe o seu espaço de acção e de intervenção, não imitando e substituindo o homem, mas como mulher”, precisou.
“O que nós precisamos é que a Igreja, a comunidade cristã e os movimentos eclesiais sejam como Nossa Senhora: Mãe e Esposa. É por isso que deposito uma grande confiança na presença e acção da mulher na Igreja, precisamente para a ajudar a ser Mãe e Esposa”, acrescentou.
“Procuremos, pois, dar espaço à mulher, como mulher, na Igreja e tudo será diferente e facilitado. Não se trata de substituir o homem. Ao homem o que é do homem e à mulher o que é da mulher. Cada um à sua maneira”, concluiu D. António de Sousa Braga.
“Jesus confiou determinadas tarefas aos homens, como homens. Não tem sentido querer tirar ao homem o que Jesus lhe atribuiu e reservou. Há tarefas que Jesus confiou ao homem como tal. Não queiramos mudar a vontade o projecto de Jesus. Mas Jesus associou à sua missão apostólica também um grupo de mulheres, rompendo, de algum modo, a tradição judaica, que deixava as mulheres de parte. Urge, pois, dar o devido lugar à mulher, como tal”, concluiu
Sobre Nossa Senhora, o prelado diocesano lembrou as palavras do Papa Emérito Bento XVI, que hoje completa três anos de resignação, para corroborar esta ideia da importância da mulher: “A igreja é mais do que povo, estrutura ou ação; onde ela é vista só como masculina, estrutural, institucional, aí desvanece-se o que é a especificidade da Igreja”.
- António de Sousa Braga afirma mesmo que a Mariologia (que coloca Maria na vida da Igreja) “ajuda-nos a não vivermos a acção pastoral, simplesmente como empresários, que fazem e organizam iniciativas, apoiados simplesmente na própria acção”.
A Imagem da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima terminou esta tarde a sua peregrinação pelos Açores, cumprindo um itinerário devocional que a levou a todas as ilhas do arquipélago, tendo passado em média três dias em cada uma das 16 ouvidorias que compõem a diocese de Angra.
A ouvidoria onde esteve mais tempo foi a da Terceira- uma semana- percorrendo as várias zonas pastorais da ilha, naquela que se pode dizer que foi uma das maiores participações de fieis. Na noite de sábado, na última procissão de velas entre o Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Angra e a Sé, mais de cinco mil pessoas quiseram acompanhar a Imagem da Virgem.
Durante os dias de permanência no arquipélago a Imagem foi sempre acompanhada pelo Bispo Coadjutor, D. João Lavrador, à exceção das ilhas de São Jorge e Graciosa onde esteve presente o Bispo de Angra.
Para o prelado diocesano tratou-se de uma momento “de graça” que deixa “desafios” à igreja para “continuar o seu papel evangelizador” procurando “ir ao encontro das pessoas”.
A Imagem segue amanhã para o Santuário de Fátima. A visita daVirgem peregrina prossegue agora no Continente português com visitas às dioceses de Aveiro, Porto e Leiria-Fátima.
Esta viagem da Virgem a todas as dioceses portuguesas insere-se nas comemorações do Centenário das Aparições aos pastorinhos, que se comemoram no próximo ano de 2017.