Acolher quem vem sem excluir quem está

Por Renato Moura

Os acontecimentos desta semana impõem-nos reflexão.

As eleições na Alemanha, no dia 24, fizeram chegar ao Parlamento o Alternativa para a Alemanha (AfD), um partido nacionalista, de extrema-direita, anti-emigração. Apesar de muitos alemães odiarem o nazismo e perceberem que o racismo não é alternativa, o AfD democraticamente chegou a terceira maior força política e vem com a ameaça “vamos mudar o país”.

Agora na Alemanha, como já em outros países, a incapacidade de os governantes erradicarem erros deixa campo livre para a demagogia e assim abre caminho ao crescimento do populismo, que produz resultados eleitorais (e outros) menos surpreendentes do que se afirma.

Morreu aos 90 anos D. Manuel Martins, que não ficou a dever a notoriedade aos 23 anos de Bispo de Setúbal, mas ao facto de ter tido a coragem de nesse ministério erguer a voz de indignação denunciando atitudes políticas e manobras económicas, por ter lutado para acabar com situações de exploração e injustiça, tudo na defesa dos que mais precisavam e não tinham capacidade para se defender.

Fez-se agora a melhor homenagem ao proclamá-lo como um “defensor intransigente da dignidade” e ao acreditar que continuará a interceder no Céu pelas causas que defendeu na terra. É mister que todos os membros da Igreja, seja qual for o seu papel, o tomem como exemplo a seguir.

Depois, no dia 27, arrancou a Campanha Global “Partilhar a Viagem”, da Cáritas Internacional, que tem em vista “desmistificar preconceitos” e promover o encontro entre as comunidades locais e aqueles que são migrantes e refugiados. Desenvolver-se-á ao longo de dois anos e envolverá organizações da Cáritas em 160 países. Trata-se de uma iniciativa de extraordinário relevo.

O Papa Francisco lançou a iniciativa como sinal de “uma Igreja que procura ser aberta, inclusiva e acolhedora” e manifestou o desejo de que os católicos levem “um abraço sincero, um abraço afectuoso, um abraço envolvente” aos migrantes e refugiados.

As declarações do Papa não surpreendem, pois que vêm na linha daquilo que sempre tem afirmado e ensinado, não só com o objectivo de que todos na Igreja católica sigam o Evangelho, sempre acolhendo em vez de excluir, praticando o diálogo em vez do fechamento e pelo conhecimento mútuo contribuindo para a coesão das comunidades. Mas nas suas palavras encontramos sempre uma mensagem universal na defesa de que ninguém seja deixado para trás e se introduza humanismo na política. A verdade é que, no tempo em que são proferidas, assumem um relevo especial.

 

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