Por Renato Moura
No passado Domingo foi proposto à reflexão dos católicos um trecho retirado do Evangelho (Mc 12, 38-44), no qual se relata que Jesus ensinava a multidão dizendo “Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes”. Que cada qual de nós guarde as reflexões transmitidas pelos presbíteros a quem os ouviu.
Nada impede, porém, fazer outras reflexões, partilhá-las ou sequer motivá-las. Os escribas detinham um estatuto próprio, eram os doutores da lei, tidos nesse tempo como intelectuais e especialistas. É admirável a coragem de Jesus ao ensinar a verdade nua e crua sobre eles, atribuindo-lhes vaidade, exibição de protagonismo, uso de privilégios, aproveitamento de vantagens pessoais.
Do mesmo texto evangélico se retira o ensinamento de Jesus sobre o espírito de uma pobre viúva, por ter deitado na caixa do tesouro “mais do que todos os outros”, apesar de serem apenas duas pequenas moedas; porém era “tudo o que possuía para viver”.
Bem sabemos haver imensos cidadãos a pensar dos políticos (pelo menos de alguns) o mesmo afirmado por Jesus sobre os escribas. Falta a muitos, porém, a coragem de o dizer, de confrontá-los com isso, de lutar para assim deixar de ser.
Vêm aí as eleições. Ainda não se acabara de votar contra o orçamento para 2022 e já tinha começado a campanha eleitoral; e agora não para mais. Não faltarão daqui para avante “doutores” a atribuírem a si próprios e às respectivas organizações, sentimentos puros, ideias genuínas e virtudes intangíveis; a declararem-se únicos donos da verdade, a interpretarem à sua maneira disposições legais, programas e regulamentos partidários, chaves sobre apoios financeiros. Haverá os ajudantes e os aspirantes só capazes para o trabalho de copistas das afirmações dos seus maiores e respectiva divulgação ipsis verbis; ou para as vergonhosas tentativas de mau escritor ou comentador, na defesa das indefensáveis declarações infelizes ou erradas.
Em prol dos valores, dos princípios, da moral, acautelemo-nos dos “escribas” do tempo presente e dos seus truques. E não se meta na cabeça das pessoas aquela estafada afirmação “não percebemos nada de política”, pois essa é só herança do fascismo. É que cada cidadão, mesmo tão pobre como a viúva do Evangelho, terá na sua mão – não duas moedas – mas um papelinho, para desenhar uma cruzinha e meter na caixa dos votos; e esses sim, todos juntos, constituirão um tesouro de escolha.