Por Renato Moura
Estamos neste mundo de forma transitória. Mas a morte de uma pessoa é sempre algo que nos entristece, que deveria contristar todos, pois perdemos definitivamente a convivência com quem partiu. Há dias faleceu um jovem de 40 anos; custa entender, quando a missão foi tão curta.
Creio bem que, neste caso, o rapaz teve tão pouco de bom neste mundo, que Deus já o terá compensado… e a mim motivou uma reflexão que partilho, com a mesma simplicidade com que fui impelido a fazê-la.
Tantos de nós procuramos cumprir com as “leis” e práticas do catolicismo, pelo menos não faltando à Eucaristia do Domingo, rezando, ainda recentemente participando nas via-sacras, nas últimas semanas rezando o terço em louvor do Espírito Santo. Muitos ajudam nas organizações da Igreja, pertencem a grupos especiais, são catequistas, leitores, acólitos, dando parte da vida a essas causas. É tudo bom e louvável.
Mas há gente que passou por este mundo e teria necessitado de uma ajuda especial para vencer problemas, reorganizar rumos, que partiram tomando pouquíssimo ou nada do muito que lhes poderia ter sido dado; até talvez tenham recebido alguns bens materiais, alguma comida. Segundo o aforismo, deu-se-lhes peixe, mas não se os ensinou a pescar! Todavia tantos deles não tiveram coisas tão essenciais como um lugar minimamente digno para viver, ou a oportunidade de um emprego, ou até a confiança para um serviço ocasional. O pior para muitos deles é que não contaram com a consideração dos seus concidadãos, não receberam um abraço, um aperto de mão, muito menos um carinho… ao invés empurrões para a vala da marginalidade!
Não se podem aceitar as atitudes desumanas da parte de ninguém, mas a falta de solidariedade dos cristãos é verdadeiramente incompreensível à luz da doutrina e da prática de Jesus. Onde está o “amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” e a consequente surpresa da constatação do “vede como eles se amam”?
Certamente que alguns, dos sempre poucos (salvo se morre gente tida por importante), que acompanhámos à última morada, os desvalidos da sorte, forçosamente pensámos que o preito póstumo é pobre demais. Que ao menos o choque da sua partida e a dor das suas famílias, nos sirvam de lição.
Como também os memoriais erigidos, para recordar sempre as dezenas de vítimas dos incêndios de há dois anos, de pouco valerão, se os sacrifícios dessas vidas não garantirem mudanças de comportamento na prevenção e no combate.
Que ajudas ou homenagens sejam feitas em vida, evitando que só nos reste remir a título póstumo.