A sociedade atual vive entre a globalização e o tribalismo, diz Pe. Júlio Rocha

Prefeito de estudos do Seminário Episcopal de Angra proferiu a última conferência das III Jornadas de Comunicação da diocese de Angra

Enquanto sonhamos com a aldeia global o próprio veículo que permite esta globalização, as novas tecnologias, desenvolvem a atitude oposta da tribalização da sociedade, afirmou ontem à tarde o Pe. José Júlio Rocha, na última conferência das III Jornadas Diocesanas de Comunicação promovidas pelo Serviço Diocesano da Pastoral das Comunicações Sociais da igreja açoriana.

O teólogo destacou que hoje vivemos no tempo da pós verdade que mais não é do que um tempo “de medo” assente na mentira disfarçada de verdade.

Na intervenção que proferiu, o Pe. Júlio Rocha, doutor em Teologia Moral, partiu de uma interpretação do livro 1984 de George Orwell- para falar do “enviesamento ideológico” que o mundo contemporâneo atravessa e das implicações dessa tendência nomeadamente na construção de uma sociedade do medo, onde “o outro” se transforma em inimigo, independentemente da sua condição.

Para o sacerdote, a crise que o mundo atravessa, é resultante de “relativismo da verdade”, da “crise do conceito de Bem” e da primazia da “liberdade individual” que trouxeram também consigo não só a “derrapagem do valor de verdade moral” como da verdade matemática fazendo com que  “o contrário desta verdade já não seja o erro, mas a mentira”.

Para o padre Júlio Rocha “Sempre que há um período de crise, uma das primeiras vítimas é exatamente a verdade” seja por razões políticas, sociais ou outras, como a história demonstra.

“O medo é o grande pai da intolerância” frisou o professor de Teologia, recordando que “todas as ditaduras começam e acabam na distorção da verdade”, como aconteceu nos anos 30 do século passado.

O sacerdote destacou ainda o facto de hoje vivermos uma espécie de “Pântano informativo” em que predomina o “excesso de informação” que causa a ignorância: “temos muitos conhecimentos mas não sabemos onde coloca-los e o que fazer deles”.

“Sabemos muitas coisas mas não somos sábios” precisou, identificando várias etapas da história do jornalismo que de uma fase de noticias puras e duras passou para a reportagem  e hoje para “um jornalismo de opinião”.

“ As redes sociais e os media, em geral, criaram uma bolha informativa e cada um escolhe o lado onde quer ficar, tribalizando-se” disse o sacerdote em jeito de conclusão. Por isso, alertou: “o maior perigo para o jornalismo vem de dentro: ceder à honestidade em nome das audiências”.

O teólogo apresentou um modelo de jornalismo formativo para o caminho da imprensa cristã, que sendo “subtil e delicado” não deve ser posto de parte.

“O Jornalismo serve para formar e os jornalistas têm de restabelecer um pacto de confiança com o seu publico”.

“É-lhes exigido isso em nome da credibilidade”, rematou.

O sacerdote apelou ainda aos valores da “tolerância, da liberdade e do diálogo” valores que “não podem ser negligenciados ou ultrapassados por outros valores políticos e até religiosos”.

“A mensagem cristã é uma âncora a onde devemos regressar e para o Cristianismo Jesus é a verdade principal” disse sublinhando que “ a verdade das verdades é uma pessoa e o encontro é o objetivo”.

“O que o jornalismo de inspiração cristã deve fazer, em primeiríssimo lugar, é não se deixar vencer pela onda das modas que tanto corroem, sem sequer nos apercebermos”, adiantou o Pe Júlio Rocha.

“A Moral Cristã é uma ética do Amor, não do medo” refere indicando que “o selo que fundamenta o agir cristão está no desafio de transpor para o tempo de hoje os princípios e fundamentos da vida e ensinamento de Jesus”.

As jornadas de Comunicação “A construção da verdade num mundo globalizado da pós-verdade” terminaram esta sexta feira, ao fim do dia, nas lajes do Pico, depois de jornalistas e académicos terem debatido o tema já de olhos postos na próxima mensagem do Papa Francisco para o dia Mundial das Comunicações Sociais que será sobre este tema.

 

 

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