Bispo de Angra juntou-se a cerca de 200 romeiros, entre mestres, contramestres e procuradores das almas da maior parte dos ranchos da ilha, que totalizam 53. “Quero aprender também a colocar os meus pés para juntos caminharmos”, afirmou D. Armando Esteves
O auditório da Escola Secundária da Lagoa acolheu este domingo os cerca de 200 dirigentes Romeiros que se reuniram para o retiro anual que precede a romaria quaresmal que este ano regressará à estrada depois de quase três anos de interregno por causa das condições sanitárias impostas pela pandemia.
O retiro, no qual participou pela primeira vez o bispo de Angra, D. Armando Esteves, foi orientado pelo padre José Júlio Rocha, que falou sobre a paz.
“A paz como caminho e como encontro, baseado em algumas passagens bíblicas : a primeira é a dos Discípulos de Emaús, cujo caminho é sempre a descer. A pandemia foi esta descida para Jerusalém. Os romeiros não puderam sair, tiveram de parar e foi com certeza um momento difícil”, adiantou o sacerdote ao Igreja Açores. Mas depois da descida, refletida, há o encontro e “daí também resulta a paz” refere ainda destacando que para esta segunda meditação seguiu o encontro de Jesus com o jovem rico e o encontro com Zaqueu, dois textos muito “importantes” que revelam como a “conversão se dá quando há pureza de coração”, refere o sacerdote.
“Nós só encontramos paz caminhando com Jesus, indo ao seu encontro” concluiu.
“Entre mim e os romeiros há uma atração mútua, tenho uma paixão pela espiritualidade que se vive nas romarias, entre romeiros, e já é a terceira vez que venho pregar o retiro” referiu ainda o sacerdote.
O retiro começou com o acolhimento e questões relacionadas com a logística das romarias; depois foram as meditações e de tarde houve um momento de adoração seguido da eucaristia.
Na assembleia esteve o bispo de Angra que expressou a vontade de aprender e “caminhar em conjunto com os romeiros”.
“Estou aqui para saudar esta expressão da nossa espiritualidade, que já tem 500 anos, mas que para mim é uma novidade. Por isso, a minha presença pretender expressar a minha comunhão, o meu desejo de aprender e, sobretudo, dizer-lhes que estou disponível para caminharmos juntos e aprender deles a por os pés de forma correta, pois no caminho procuramos sempre ser melhores”, afirmou o bispo aos jornalistas.
Os romeiros voltam a cumprir os sete dias de romaria entre 25 de fevereiro e 6 de abril, isto é, entre o primeiro sábado da Quaresma e Quinta-feira santa. Neste momento o principal problema prende-se com as pernoitas em casas de famílias. A pandemia e omedo têm provocado alguma resistência na possibilidade de acolhimento. A alternativa serão sempre os salões paroquiais, mas a organização espera que esta seja uma solução de recurso.
A última vez que os romeiros saíram à rua foi na Quaresma de 2020, mas só saíram os primeiros ranchos tendo depois a Romaria Quaresmal sido interrompida por causa da pandemia e dos constrangimentos sanitários por ela impostos.
As romarias quaresmais, que em 2022 completaram meio século de história, são uma das mais vivas tradições penitenciais dos Açores. Grupos de homens munidos de xaile, bordão, lenço e terço percorrem as estradas de São Miguel em clima de oração, passando por todas as igrejas e ermidas, do nascer ao por do sol.
Também nas ilhas Terceira e Graciosa sairão à rua as habituais romarias, sendo que na ilha Terceira, sairão três ranchos, todos ligados ao Santuário de Nossa Senhora da Conceição: um de homens e dois de mulheres, cuja preparação espiritual já foi iniciada. Em são Miguel só uma das romarias de senhoras- na Fajã de Cima- tem pernoitas. Saem vários grupos mas para cumprir apenas um dia. O maior grupo feminino é o da paróquia do Lagedo, em Ponta Delgada.