Sacerdote terceirense, pároco das lajes, é o entrevistado do programa de rádio Igreja Açores
O padre Nelson Pereira, que regressou de Roma este verão, depois de três anos de estudos filosóficos, defende uma maior corresponsabilidade nas paróquias e lembra que o padre não pode ser o único responsável pela vida da comunidade.
Na semana em que arrancou a XVI Assembleia do Sínodo dos bispos sobre sinodalidade, o jovem sacerdote considera que a sinodalidade ainda é vivida mais na “metalinguagem” do que na prática pastoral.
“Gostava que todos se sentissem mais responsabilizados. Ainda temos comunidades muito centradas no pároco” e a “paróquia não é do padre mas de todos nós. Todos temos dons e algo a dar à comunidade a partir do carisma de cada um” refere sublinhando valores como “a amizade”, a “fraternidade” e a “comunhão” como essenciais para este caminho em Igreja.
Mestre em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma, o padre Nelson Pereira regressou aos Açores este verão e foi colocado na paróquia das Lajes, que por esta altura vive as suas festas maiores em honra de Nossa Senhora do Rosário.
“Temos um Cristianismo ainda muito centrado na piedade popular, o que é muito rico, mas é importante que compreendamos a origem do Cristianismo , os problemas que levanta, como é que o Cristianismo moldou a cultura e a civilização ocidental, porque só assim fundamentamos as razões da nossa fé e podemos testemunha-la de forma mais eficaz” afirma o jovem sacerdote, prestes a completar 30 anos.
“Estas questões são muito importantes porque nos ajudam a compreender-nos como pessoas, como civilização e a filosofia, que estudei em Roma, ajuda-nos”, por isso, é uma disciplina “tão importante” para os futuros sacerdotes, diz ainda.
O padre Nelson Pereira é professor no Seminário Episcopal de Angra e responsável pela disciplina de Introdução á Filosofia que é ministrada no ano propedêutico, que este ano tem dois alunos, que estudam fora do Seminário.
“É um novo modelo de formação que nos coloca desafios” refere o sacerdote, reconhecendo que o ensino à distância pode ter “limitações” mas “os conteúdos e a forma” como está a preparar as aulas também podem ultrapassar alguns constrangimentos.
O ensino presencial “é sempre melhor”, mas o importante “é que consigamos favorecer a proximidade e amizade” porque os “alunos de hoje serão nossos colegas daqui a seis anos”.
“As questões que os jovens colocam hoje sobre a sua fé são necessariamente diferentes daquelas que um padre de 50 ou 60 anos coloca ou colocou no seu tempo, porque o mundo é outro e a idade mais próxima dos seminaristas ajudará certamente a esbater essa questão”, refere o sacerdote quando confrontado com a proximidade de idades entre si e os alunos.
O seu objecto de estudo mais aturado, em Roma, foi o da relação de Deus com o mal, um tema “atual” e muito pertinente que atravessa a nossa condição humana, sobretudo diante do sofrimento.
“Como é que Deus permite que o mal exista? Todos nós nos questionamos sobre o mal, a sua origem e sobretudo porque é que Deus o permite e a filosofia analítica dá- nos ferramentas para podermos, pastoralmente, lidar com estas questões”, diz ainda.
O padre Nelson Pereira foi durante muitos anos organista na Sé e a liturgia é uma das suas áreas mais “queridas”. Neste regresso à diocese passa a integrar também o Serviço Diocesano de Liturgia, sendo o seu responsável nas ilhas dos grupos central e ocidental, sempre em articulação com o diretor do Serviço que agora está em São Miguel. Aliás, na primeira colocação após a ordenação, o padre Nelson Pereira foi vigário paroquial de duas paróquias do Faial- Matriz da Horta e Flamengos- onde serviu juntamente com o padre Marco Luciano Carvalho, responsável diocesano da Liturgia.
Nesta entrevista que vai para o ar este domingo, depois do meio-dia, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, o sacerdote fala ainda da experiência romana: “uma experiência de universalidade de Igreja que nos responsabiliza” não só do ponto de vista da “afirmação da fé” mas também “da luta sem tréguas para que todos a possam viver em liberdade”.