Por Renato Moura
Ensinaram-nos que a Santa Missa tem duas partes: inicia-se com a Liturgia da Palavra e continua com a Liturgia Eucarística. Na primeira parte são proclamadas as leituras bíblicas, constituindo-se como Mesa da Palavra, da qual todos têm o direito de participar e aproveitar como alimento espiritual. A segunda é a Mesa do Corpo do Senhor, da qual alguns, amargamente, só participam com o desejo.
Da primeira parte faz parte a homilia, reservada ao sacerdote, ou pelo menos a um diácono. Destina-se, por regra, à explicação de algum aspecto das Sagradas Escrituras. Por vezes torna-se exortação religiosa, prelecção sobre o significado das leituras, exposição doutrinária. Há mestres a considerar deverem ser breves, cuidadosas para manter a autenticidade da mensagem bíblica, não poderem transformar-se em sermão, nem discurso retórico.
Os católicos mais exigentes, ou menos bondosos, consideram algumas homilias como discursos pretensamente morais e enfadonhos, evidenciando a pretensão dos sacerdotes se considerarem os únicos donos da verdade, ou, sobretudo em terras pequenas onde todos conhecem muito da vida dos outros, como recados dirigidos a grupos ou pessoas.
Os «senhores» Padres (como alguns deles gostam de se tratar a si próprios) têm perfeita consciência de terem sido ordenados para servir ao Senhor e aos homens e por isso foram instruídos para resistir à tentação de abusar do poder do ambão e aproveitar a impossibilidade de resposta dos fiéis.
O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, afirmou: “A homilia não pode ser um espectáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um género peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência, ou uma lição”.
Todos devemos ter consciência que os sacerdotes são humanos, com virtudes e defeitos, como todos nós. Nem por buscarem a perfeição, a garantirão. Mas não parece haver bom fundamento para quem deixa de participar na Missa por não gostar do padre, ou sequer de o ouvir.
Saibamos ser clementes: as homilias podem não ser rosas, mas não as tomemos por insignificâncias, nem como vergastadas. Haja a generosidade de ser compassivo.
O misericordioso Santo Estevão, apedrejado, à beira da morte, ainda assim bradou: “Senhor, não lhes atribuas este pecado”.
Participando na Missa todos podem ficar, ao menos, com a Palavra de Deus, sempre muito melhor que qualquer boa homilia.