A organização da Festa do Senhor Bom Jesus da Pedra é apenas uma vertente da resposta social da Misericórdia de Vila Franca que apoia 900 utentes

Foto: Igreja Açores/CR

“É uma honra e uma enorme responsabilidade organizar esta festa que extravasa o concelho de Vila Franca”- Eugénia Leal, Provedora da Mesa da irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo

Começa esta quarta-feira, dia 21 de agosto,  a preparação da festa do Senhor Bom Jesus da Pedra, mas será no sábado que a Imagem é devolvida ao Povo de Deus que lhe presta homenagem numa procissão entre a Igreja que a acolhe durante todo o ano e a vizinha Matriz de São Miguel Arcanjo, onde durante a noite vários peregrinos se ajoelham depositando preces e orações de ação de graças aos seus pés.

“A noite de sábado é muito importante” diz a Provedora da Mesa da Santa Casa da Misericórdia de Vila Franca do Campo, Eugénia Leal, entidade promotora da festa que no formato atual já conta com 200 anos mas que se estima ser organizada desde o início do século XVIII.

“É uma responsabilidade enorme a que temos pois ao fazermos esta festa temos de ter sempre presentes todos aqueles que nos precederam e que deram do seu tempo e da sua vida a esta obra de misericórdia” que além da organização da festa, espécie de corolário de um trabalho diário que se realiza todo o ano, desenvolve uma resposta às necessidades de todos e cada um dos Vilafranqueses.

“De Água D´Alto a Ponta Graça não deve haver muitas famílias em que pelo menos uma pessoa não seja beneficiária dos serviços que prestamos” avança Eugénia Leal, atual provedora da Mesa mas irmã desta “irmandade” desde que atingiu a idade adulta.

“Não sei se sabe mas esta Misericórdia resulta da Irmandade do Divino Espírito Santo e por isso na nossa Igreja, por cima da Imagem de Nossa Senhora das Miserciórdias, está uma coroa do Divino Espírito Santo” esclarece a dirigente que se prepara juntamente com a sua Mesa Administrativa para proceder ao lançamento, no próximo ano, da Tese de Doutoramento de João Luís Medeiros, o trabalho mais aprofundado sobre o arquivo da instituição.

“Temos registos riquíssimos e há que dar a conhecer esta história que engrandece também Vila Franca”, refere ainda, destacando que a dimensão da festa tem crescido, tal como a capacidade de resposta da instituição.

“Temos cerca de 900 utentes e 220 colaboradores”, atravessando todas as faixas etárias, desde a Creche, ao Jardim de Infância, Centros de desenvolvimento social, Apoio a pessoas com deficiência, Lar de Iodos, centro de convívio ou apoio domiciliário.

“De há 25 anos para cá crescemos muito em função das necessidades colocadas pela sociedade de Vila Franca” refere a dirigente que não esconde o orgulho em todos os funcionários.

“Curvamo-nos diante dos colaboradores e temos entre nós pessoas que são muito mais do que técnicas” diz Eugénia Leal, complementando com a informação de que a Santa Casa também está preocupada com a sua saúde.

Uma missão

“Para trabalhar aqui a pessoa tem de ter sempre o outro como prioridade” , mas há “serviços esgotantes”. Por isso, “decidimos acompanhar e melhorar a saúde mental dos nosso colaboradores. Para já são as chefias intermédias” as primeiras beneficiárias desta formação| apoio, pioneiro na região e que  está a ser alvo de cobiça por outras instituições.

“Os cuidadores também precisam de ser cuidados porque só estando bem podem cuidar melhor do outro”, enfatiza.

“23% dos colaboradores são técnicos diferenciados e isso melhora muito a nossa resposta” refere ainda, lembrando que há muita dificuldade no recrutamento. Mesmo para tarefas mais simples.

“Temos de nos esforçar mais, pois não só os poderes públicos mas nós sociedade que temos de ser capazes de  encontrar soluções para os problemas, sobretudo junto dos mais velhos. Para tratar de um idoso é preciso ir para além da competência técnica, é necessária uma vontade, que é cada vez mais difícil de encontrar” refere ainda.

Por outro lado, reconhece que a responsabilidade é de todos e temos de ser capazes de cuidar melhor dos mais velhos, que não sendo a maioria dos utentes da Santa Casa em termos de frequência das valências têm um peso significativo. No tal são cerca de 230 entre o Lar e a frequência dos Centros de Convívio ou o usufruto de cuidados domiciliários.

“Servimos 700 refeições diárias e lavamos cerca de 200 quilos de roupa todos os dias. Além destes números ficam ainda outros igualmente expressivos: 400 crianças acolhidas, 170 jovens frequentam os Catl´s e ainda prestam apoio a 60 pessoas com deficiência.

“Tudo isto tem que se gerido com muito rigor para que as contas estejam, como estão, sempre equilibradas”, remata Eugénia Leal a propósito dos sempre parcos recursos com que se gerem as Instituições Particulares de Solidariedade Sociais, sem deixar de elogiar o programa Novos Idosos pela sua capacidade de “cuidar sem desmantelar a família e sem desenraizar o idoso da sua casa e das suas memórias”.

Foto: Igreja Açores/CR

No sábado, quando ao som da música da filarmónica a Imagem sair, às 21h00, os utentes estarão também em festa e embora possam não conseguir estar presentes, os seus trabalhos e a sua fé no Senhor da Pedra “falarão mais alto”.

“Esta festa só se realiza porque há muitas pessoas que estando ligadas à Santa Casa dão do seu tempo e do melhor que têm dentro de si” refere a Provedora avançando já que a vertente do voluntariado vai ser trabalhada no futuro próximo.

“Estas festas pela sua grandeza exigem muito e todos somos sempre poucos” refere ainda.

A festa começa esta quarta-feira , às 19h00, na Igreja da Misericórdia, com uma conferência sobre o Culto ao Senhor da Pedra e a fé do Povo Vilafranquese, por Santos Narciso, jornalista, seguindo-se o primeiro de três dias de preparação da palavra orientada pelo ouvidor de São Jorge, padre Dinis Silveira. Estas celebrações serão transmitidas em live streaming na página do Facebook da Santa Casa.

No fim de Semana, o bispo emérito de São Tome e Príncipe, D.Manuel Mendes dos Santos, preside à celebração da Palavra na mudança da Imagem, no sábado, às 21h00 e  à missa de domingo, às 9h30, com transmissão em direto no canal 1 da RTP e, ainda,  à procissão solene. Associado a esta festa há um programa social que passa por regatas, exposições, festival de sopas e arraial popular.

 

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