Por Carmo Rodeia
A edição de agosto da revista National Geographic tem uma grande reportagem sobre o Papa Francisco, que resulta da junção de dois trabalhos: a foto-reportagem de Dave Yoder, fotojornalista, que acompanhou o Papa durante seis meses em Roma e Robert Draper, jornalista, que recolheu informações sobre o antigo cardeal de Buenos Aires durante um mês no ambiente do Vaticano e três semanas na Argentina.
A reportagem, que tem por título “O Papa mudará o Vaticano ou o Vaticano mudará o Papa?”, apresenta como prioridade do pontificado de Francisco os pobres e a reforma da Cúria, procurando destacar um Papa “Reformador, Radical, revolucionário ou nenhuma dessas coisas” como adianta o próprio articulista.
Não é a primeira vez que uma publicação com a abrangência da National Geographic reflete sobre a “Franciscomania”. A Time, o Le Monde ou a Rolling Stone, publicações de grande alcance e de referência, esta última junto do público mais jovem, elegeram o Papa “do fim do mundo” como a personalidade do ano.
O próprio National Geographic Channel exibiu logo no final do mês de março de 2013, o documentário ‘Papa Francisco: O Caminho Para o Vaticano’ onde revelava a vida do novo pontífice da Igreja Católica, sublinhando algumas evidências: o primeiro Papa nascido no continente americano, o primeiro pontífice não europeu em mais de 1200 anos, e também o primeiro Papa jesuíta da história. Que não tem parado de nos surpreender.
Todos nos lembramos da sua declaração inicial: “Irmãos e irmãs, boa noite! Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais tenham ido buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui!”
Esta declaração e as que se seguiram transformaram este Papa num autêntico fenómeno comunicacional, talvez um dos maiores de todos os tempos, pela sua simplicidade, disponibilidade e espontaneidade. Aliás, não deixa de ser interessante verificar que a afirmação dos valores defendidos desde sempre pela Igreja Católica, na boca de Francisco, encontrem tanto eco junto dos media.
Quando o Corrieri della Sera, numa entrevista de balanço de um ano de pontificado lhe perguntava se existia alguma coisa que não lhe agradava nesta mediatização, Francisco respondeu que “gostava muito de estar no meio do povo, ao lado de quem sofre, ir às paróquias” e menos “ de mitos”, assumindo-se como um homem que ri, que chora e que sente como o comum dos mortais.
Francisco comunga e partilha as preocupações do seu mundo, denunciando “ a economia que mata”, o “paradoxo da abundância”, “a sociedade do desperdício” que gera “indiferença e relativização”, a necessidade da luta contra “uma sociedade do descartável” ou mais recentemente sublinhando a importância de uma “ecologia integral” que não esqueça os mais desfavorecidos, “os mais pequenos”, e assim acaba por devolver a igreja católica ao espaço e ao tempo da contemporaneidade. E isso faz dele um guia, um peregrino, um intelectual e, sobretudo, uma alma espiritual.
Os cristãos precisam de uma igreja que trate de assuntos terrenos; mas precisam também de uma igreja salvífica.
Francisco faz a ponte entre a razão dos que sofrem e a fé dos que acreditam num mundo melhor, com uma enorme simplicidade, própria apenas daqueles que conhecem o coração da humanidade.
Isto não é política; é acima de tudo atitude pastoral e evangélica. É isso que se pede à igreja. A começar no clero e acabando nos leigos. É isto que Francisco nos dá. Por isso é capa de revista. A normalidade tornou-se um critério de noticiabilidade. Até que enfim, em nome do bem comum…