Pe Júlio Rocha é o convidado do programa de rádio Igreja Açores deste domingo
A quebra da natalidade é um problema “transversal na Europa” mas nos Açores tem uma importância “acrescida” que “exige medidas concretas de apoio às famílias” disse o presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz em entrevista ao programa de rádio Igreja Açores, que vai para o ar este domingo em simultâneo no Rádio Clube de Angra e Antena 1 Açores, ao meio dia.
“Há ilhas que estão a morrer”, alerta o Pe Júlio Rocha referindo-se ao último censos que dá conta de um crescimento demográfico ténue apenas nas ilhas de São Miguel, Terceira e Corvo (4 habitantes mais) que, segundo o sacerdote, “não dá” para inverter o progressivo envelhecimento da pirâmide etária.
O pe Julio Rocha foi nomeado há um ano para liderar esta Comissão, um dos órgãos mais importantes no diálogo entre a igreja e o mundo, afima que “ninguém pode obrigar as famílias a terem filhos” mas “há uma responsabilidade política e social que todos temos”.
“Não podemos impor encargos pesados às famílias e depois dizermos-lhes que têm de ter filhos. Hoje há demasiado presente nas decisões e pouco futuro e as pessoas, quando têm medo do futuro, tomam decisões mais cautelosas ou pura e simplesmente adiam-na”s e os filhos, entram “nessas contas” afirma o Pe Júlio Rocha.
“As nossas decisões são tomadas em função das expetativas e ao contrário do que acontecia há uns anos, de que o amanhã seria melhor, hoje, por razões que são conhecidas- trabalho, crise, insegurança- não dizemos o mesmo” precisa sublinhando que “até os jovens têm medo do futuro e por isso não arriscam”.
Trata-se de um problema que atravessa a região, o país e a Europa, e aqui é mesmo “o problema mais grave neste momento”.
“A natalidade é uma questão da família, do casal e da pessoas mas que está a gerar problemas sociais” provocando “desíquilibrio” que pode fazer “o estado social colapsar”.
O envelhecimento da população e a diminuição dos contribuintes líquidos para a segurança social podem “causar problemas”, acrescenta. É neste contexto que o presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz sublinha a importância dos imigrantes que chegam à Europa a “quem deve ser dada uma oportunidade”. A este respeito lembra a história dos açorianos “que ajudaram a construir a América” e agora não podem fechar as portas aos imigrantes que chegam, por medo ou outro qualquer sentimento.
“Não podemos pôr essas barreiras medievais no seculo XXI” refere o sacerdote denunciando uma espécie de “trumpização” (Donald Trump-candidato à nomeação republicana nos EUA) da Europa.
“Tenho receio desta mística do medo em que se criam tabus” afirma o Pe Júlio Rocha salientando que na Europa “faltam líderes” políticos que prossigam o trabalho iniciado por quem construiu o ideal europeu.
“Na Europa estamos a ser governados por crianças. Em grande parte cada um puxa a brasa a sua sardinha; temos um problema- dos refugiados- e cada um olha apenas para si” disse o sacerdote lembrando que a solução não está em erguer barreiras mas “em dar a mão” pois “não podemos deixar para trás pessoas que fogem à guerra é à fome. Isso é anti cristão”.
O presidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz, durante a entrevista ao programa de Rádio Igreja Açores, com transmissão este domingo no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores, fala ainda do Papa e da sua intervenção profética, “extraordinária e equilibrada”, através de “gestos simbólicos” como o lava-pés que “não matam a fome nem dão casas mas que mostram uma igreja que serve e que é um farol para a humanidade inteira porque tem em mãos o projeto de Deus”.
Nesta entrevista ainda pode ouvir a opinião do sacerdote sobre a nova exortação apostólica “A Alegria do Amor”, sobre o papel da igreja nos nossos dias e sobre a responsabilidade desta Comissão em abordar problemas sociais que digam respeito à vida do dia-a-dia das pessoas.
O Programa Igreja Açores é apresentado por Tatiana Ourique e é da responsabilidade da diocese de Angra.