“A maior fragilidade da diocese é não ter uma formação de padres e de leigos completa”

No dia em que faz 18 anos de ordenação episcopal, o Bispo de Angra fala dos desafios, do que ficou para trás e da missão de liderar um clero disperso por nove ilhas.

No dia em que completa o 18º aniversário da ordenação episcopal e em que assumiu formalmente a Diocese de Angra, D. António de Sousa Braga sublinha que o grande desafio da igreja nos Açores passa por conhecer melhor a realidade insular, avaliar a eficácia das respostas que estão a ser dadas pelo clero e assumir “com coragem” a defesa dos mais necessitados.

 

Em declarações ao Portal da Diocese, o Bispo de Angra reconhece “que este trabalho tem de ser feito imediatamente para que daqui a seis anos se inicie um Sínodo diocesano”. Para isso, diz, é preciso seguir as pistas do último conselho presbiteral e a “igreja açoriana tem de iniciar um processo de saída em chave missionária”.

 

D. António de Sousa Braga diz, no entanto, que esta saída tem que ser acompanhada de uma forte componente formativa.

 

“Esta é sem dúvida a maior fragilidade do meu episcopado: não consegui resolver o problema da formação dos padres, dos religiosos e dos leigos. Fizemos algumas coisas mas para além de insuficientes não foram bem avaliadas. Não podemos continuar a fazer só por fazer”, lembra o responsável pela igreja açoriana.

 

E, dá como exemplo a religiosidade popular.

 

“A igreja não tem sido uma boa aliada. Temos deixado as coisas muito do lado da tradição. Há que apostar numa luz nova, sempre próxima do Evangelho para que, também na religiosidade popular, não se perca o essencial e esse é o papel que cabe à igreja, a todos nós”, sublinha D. António Sousa Braga.

 

O prelado açoriano que é natural de Santa Maria, estudou desde os 13 anos fora da região, primeiro no Funchal, depois em Coimbra e finalmente em Roma. Só regressou aos Açores, para residir permanentemente no arquipélago há 18 anos, quando foi ordenado Bispo.

 

“Foi difícil, desde logo porque eu nem conhecia as ilhas todas. Tive de percorre-las e perceber onde estava. Tive a sorte de herdar um plano de ação pastoral mas encontrei muitas dificuldades para o implementar desde logo ao nível organizativo mas também por causa de questões financeiras”, disse D. António de Sousa Braga.

 

“Quando cheguei procurei reconhecer um terreno difícil e disperso. Foi, sem dúvida, a minha prioridade e não estou arrependido. Além de me aproximar das pessoas, conheci o terreno e conheço bem o clero diocesano e sempre me senti muito apoiado por ele”, adianta ainda.

 

“Naturalmente que nem sempre fazemos tudo certo e quando olhamos para trás percebemos que nem sempre avaliámos sempre bem todas as situações”, reconhece D. António de Sousa Braga que salienta “que procurou sempre agir da melhor maneira possível”.

 

“Nós somos ordenados sacerdotes não aprendemos nem temos nenhum curso para sermos bispos; vamos aprendendo com a função e foi isso que eu fiz, debaixo de uma enorme exigência, sobretudo financeira”.

 

Questionado sobre se há alguma decisão que tenha tomado e da qual se tivesse arrependido, o Bispo de Angra admite que à posteriori “tudo é passível de correção e obviamente que nem tudo foi bem feito”.

 

Sobre o recente episódio do Resplendor do Senhor Santo Cristo dos Milagres, D. António de Sousa Braga diz que a questão “foi muito para além disso. Tomei a decisão que em consciência julgo que deveria ter tomado; só que houve quem quisesse ampliar e transformá-la noutra questão”.

 

Como diz o Papa Francisco, o pastor tem que ir atrás das ovelhas mas, há momentos, em que tem de ser o pastor a liderar. Tudo tem o seu tempo. Se calhar não foi a decisão mais cómoda mas julgo que foi a mais certa”, conclui.

 

Num momento em que tudo parece mudar dentro da igreja “a começar pelo estilo do Papa e pelas suas contantes interpelações”, D. António de Sousa Braga lembra que a Igreja nos Açores ”deve olhar o futuro com muita esperança”, ciente de que está em curso “uma mudança da prática pastoral”, em que a “fidelidade ao Evangelho” deve ser uma “constante” para “sermos mais evangelizadores”.

 

D. António de Sousa Braga, depois de ter sido ordenado sacerdote, em Roma, por Paulo VI, foi nomeado Bispo por João Paulo II e viveu a sua ordenação episcopal na Sé de Angra, na presença de D. Aurélio Granada Escudeiro. Iniciou formalmente o seu episcopado a 30 de junho de 1996.

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